Se, há dois anos, o mote para as leituras nos foi dado pela pandemia e a necessidade de ocuparmos o tempo que o confinamento nos obrigava a passar em casa, rapidamente percebemos que o papel do livro é maior que o entretenimento que nos proporciona.
“Ler para entender o mundo” tem sido o propósito que mantém o clube de leitura, agora que a vida regressa ao normal em termos de pandemia, mas tantas vezes nos parece do avesso noutros aspetos.
Se o propósito evoluiu, já o modelo manteve-se. Todos os meses, escolhemos um tema e temos um convidado que nos propõe um livro. Na data do encontro virtual, reúnem-se os membros do clube para o discutir. O que gostámos, o que nos fez pensar, o que nos fez concluir e que outros livros recomendamos uns aos outros.
Assim, em jeito de comemoração, aproveitamos para relembrar e recomendar alguns desses livros e algumas das conclusões do último ano.
Neste artigo, escrito precisamente há um ano, tínhamos já feito um exercício semelhante com os livros do ano anterior.
1. O Talentoso Mr. Ripley: "Há pessoas que fingem gostar de pessoas"
Livro: O Talentoso Mr. Ripley
Autora: Patricia Highsmith
Convidado: Pedro Boucherie Mendes, jornalista, escritor e diretor de programas
Esta conversa com Pedro Boucherie Mendes sobre O Talentoso Mr. Ripley fez-nos refletir sobre a moralidade, o certo e o errado e deixou no ar a seguinte questão: será que nascemos bons ou que nascemos maus?
2. “Se há coisa que este livro nos ensinou é que não há livros para crianças”
Livro: O Principezinho
Autor: Antoine de Saint-Exupéry
Convidado: João Marecos, advogado, escritor, consultor de startups e consultor da OMS
O Principezinho é aquele livro que lhe dá um quentinho no coração. João Marecos, convidado desta sessão, que já o leu e releu várias vezes, afirma: “se há coisa que este livro nos ensinou é que não há livros para crianças”. Acredita que “com o natural amadurecimento da idade se encontrem respostas diferentes ao longo das várias leituras, por ser um “livro cebola” (com várias camadas) e um “livro espelho” (com o qual nos podemos identificar).
3. Queríamos livros para ler no verão, mas acabámos a descobrir a biblioterapia
Livros: Apeirogon – Viagens Infinitas, O Infinito num Junco, O Torto Arado, Pequenas Cadeiras Vermelhas
Convidada: Sandra Barão Nobre, escritora e biblioterapeuta
Com Sandra Barão Nobre, escritora e biblioterapeuta, embarcámos numa conversa que girou em torno da biblioterapia, desconhecida por muitos, e sobre vários livros aos quais deveríamos ter dado uma oportunidade durante as férias de verão.
Livro: Águas Passadas, de João Tordo
Convidado: João Tordo, escritor e guionista
No contexto do sentimento de que aquilo que está para vir será melhor, o escritor João Tordo partilhou: “esta coisa de projetar no futuro aquilo que eu quero fazer tem muito daquilo a que eu chamo esperança disparatada. Uma esperança que eu tenho é sentar-me e escrever o livro que eu quero escrever e depois escrevo o livro que o livro quer escrever. A nossa vida está carregada nesta esperança infundada de um mundo que não existe”, ou seja, de que o mundo real poderá ser melhor do que é.
5. “As únicas biografias que permitem ficção são as dos ditadores da Coreia do Norte”
Livro: Almoço de Domingo
Convidado: José Luís Peixoto, autor da obra
O autor do livro Almoço de Domingo, José Luís Peixoto, juntou-se aos leitores para partilhar os desafios da sua última criação. Aquele que é um dos escritores portugueses de maior reconhecimento falou-nos diretamente de uma residência para escritores na Roménia, mas nem as duas horas a mais de fuso horário impediram uma boa conversa.
6. Filipe Melo e Juan Cavia
Livro: Balada para Sophie
Convidados: Filipe Melo e Juan Cavia, autores da obra
Em novembro, tivemos o privilégio de perceber todo o processo criativo do argumentista Filipe Melo e ilustrador Juan Cavia na banda desenhada Balada para Sophie, uma deslumbrante novela gráfica de uma das duplas mais consagradas da Banda Desenhada em Portugal. Um livro feito de detalhes e subtilezas, considerado por muitos um dos melhores livros de banda desenhada nacional já publicados. Uma leitura aconselhável a fãs de banda desenhada, mas também a todos os leitores que gostem de uma boa história.
7. Apneia
Livro: Apneia
Convidada: Tânia Ganho, autora da obra
Em Dezembro, a tradutora e escritora falou-nos do seu próprio livro, Apneia. Baseado em casos verídicos e testemunhos reais, o romance relata a história de um casal luso-italiano que se encontra num processo de divórcio litigioso, dando voz às vítimas de violência doméstica e abuso psicológico, mas sobretudo às crianças que tantas vezes são utilizadas como arma de arremesso entre casais.
Um romance intenso, cru, perturbador com uma autenticidade desarmante e com a qual muito leitores, que terão vivido ou testemunhado situações semelhantes, se poderão identificar.
8. O que seríamos capazes de fazer por paixão?
Livro: Sinopses de Amor e Guerra
Convidado: Afonso Cruz, autor da obra
Em fevereiro, falámos sobre o segundo livro da série Geografias de Afonso Cruz, uma coleção de breves romances inspirados em lugares, inaugurada com Princípio de Karenina.
O enredo, no qual amor e guerra se entrelaçam, leva-nos a questionar: o que seríamos capazes de fazer por paixão, que barreiras ultrapassaríamos? Pode o amor saltar muros sem que alguém se magoe?
9. Quem é Elena Ferrante
Livro: Crónicas Do Mal de Amor de Elena Ferrante
Convidadas: Rita da Nova e a Joana da Silva, autoras do podcast sobre leitura Livra-te
No âmbito da adaptação ao cinema de um dos contos de Elena Ferrante, A Filha Perdida, em março, convidámos a Rita da Nova e a Joana da Silva, autoras do podcast sobre leitura Livra-te, para tentar desvendar quem é esta autora tão intrigante.
O filme A Filha Perdida é uma adaptação de um conto que em Portugal foi traduzido como A Filha Obscura e foi publicado com dois outros contos numa coletânea chamada Crónicas Do Mal de Amor, pela editora Relógio d'Água.
10. A Mais Breve História da Rússia
Livro: A Mais Breve História da Rússia
Convidado: José Milhazes, autor da obra
Em março, o jornalista, historiador e comentador político, José Milhazes, que foi testemunha em primeira mão do regime soviético, tendo vivido mais de 30 na Rússia, ajudou-nos a melhor perceber o contexto histórico que se desenrolou até chegarmos à atual situação da invasão na Ucrânia. Como ponto de partida para esta conversa tão pertinente tivemos o seu mais recente livro A Mais Breve História da Rússia.
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