Depois de seis meses a correr o país com o solo “Memento Mori”, Rui Sinel de Cordes estreia esta noite esse mesmo espetáculo na TVI em horário quase se pode dizer nobre (23h30) e acaba de ser nomeado para um Globo de Ouro pelo canal da concorrência, a SIC, em disputa direta com Ricardo Araújo Pereira, Bruno Nogueira, Herman José e César Mourão.

Visto por muitos dos fãs como expoente do humor negro em português, cartão de visita (o do humor negro) que aliás apresenta quando fala do seu trabalho, o abraço da televisão significa a domesticação do que faz? Estas foram as perguntas que lhe fizemos e as respostas que nos deu.

O humor é hoje um dos territórios mais disputados, com novos nomes a surgir quer em espetáculos, quer via streaming, YouTube ou outras plataformas. Que impacto é que esta realidade tem para nomes, como é o teu caso, com mais tempo de carreira? Ficou mais difícil ou mais fácil ter espaço?

Em Portugal está a acontecer o expectável em relação a uma arte que praticamente não existia há 20 anos. Está a crescer e irá crescer ainda mais. A concorrência faz otimamente a qualquer indústria e não olho para isto como sendo mais fácil ou mais difícil consoante haja mais ou menos pessoas a fazer. E na parte que me toca, consegui a primeira sold out tour na altura em que havia mais humoristas com shows em cena, por isso keep them coming.

Há dois anos fizeste uma incursão em Inglaterra. O que correu melhor e pior e o que mudou para ti depois disso?
Dava para um livro, mas se tiver de resumir diria que o negativo foi descobrir que lá, o Politicamente Correto está a destruir o espírito livre e naturalmente corrosivo e sarcástico do humor britânico. O positivo, foram os momentos em que foi possível ir (novamente) contra isso e ter tido noites incríveis especialmente no Fringe Festival. É bom ter a certeza que somos aquilo que achamos que somos.

"Memento Mori" chega à televisão este fim de semana e também te faz chegar aos Globos de Ouro, depois de teres percorrido o país e esgotado várias salas. O que é que este espetáculo tem de especial?
Dos sete, é o que gosto mais, mas é uma opinião polémica. O que tem de especial é algo que não consigo definir, tem a ver com a própria energia que encontrei nas salas... e acho que apesar de ser centrado na morte, é acima de tudo um espetáculo sobre vida e o que fazemos com ela. Eu diria, sem ironia, que este é um espetáculo de humor negro que pode ser visto por toda a família. Tem é de ser uma família bem cool.

Humor na televisão generalista é significado de maturidade ou de banalização?
Vou responder de outra maneira: considero que um especial de stand-up comedy na generalista é sinal de maturidade. Seja onde for. Maturidade do humorista, do canal, da cultura do país e do público. Pode esse especial ou humorista ser banal? Acontece a toda a hora.

Quais os projetos que tens para os próximos meses?
Fazer pela primeira vez dois solos num ano é capaz de me manter ocupado (risos). Vamos ter duas tours em 2020, fevereiro/março e outubro/novembro, com dois espetáculos que estão interligados. ´O Início´ conta toda a história da humanidade até 2020 vista pelos meus olhos - como eu acho que tudo aconteceu - e ´É o Fim´ pega em 2020 e vai até ao fim do Mundo, como eu acho que vai acontecer. Bilhetes para as duas tours saem ainda no outono.

Para quem tem como cartão de visita o humor negro estar nomeado para os Globos de Ouro é ... 
É engraçado estar entre os primeiros nomeados numa categoria que só agora foi criada, mas eu nunca me esqueço que isto é a opinião de um grupo de notáveis - que eu nem sei quem são - e que vale o que vale. Colocou-me um sorriso na cara por momentos, mas sei que é um fait-divers. Estava em Espanha quando recebi a notícia, bebi mais uma garrafita de cava e no outro dia segui com a minha vida. Os meus prémios são as reações das salas quando termino os espectáculos e esses são os únicos que me interessa continuar a receber. Sem merdas.

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