O álbum, intitulado “Mar Magalhães”, sai a 28 de setembro, e “é o reflexo dessa viagem, que não foi fácil, com os sons das diferentes paragens efetuadas”. “E, exatamente por lhe ter sido difícil empreender, é um disco muito reflexivo”, disse à agência Lusa Luísa Amaro.
A guitarrista, referindo-se à viagem de circum-navegação, efetuada entre 1519 e 1521, apontou-a como “uma simbologia para tantas coisas da vida” que decidiu abordá-la num disco, para o qual procurou sonoridades cabo-verdianas (Magalhães aportou no arquipélago para abastecimento, logo no início da viagem), brasileiras (a frota passou ao largo do Cabo de St.º Agostinho, em Pernambuco, em novembro de 1519, e, em dezembro, entrou na baía do Rio de Janeiro), e as milongas argentinas (Magalhães alcançou em 1520 o rio da Prata).
As partituras escolhidas, compostas para guitarra clássica, foram transpostas, por Luísa Amaro, para a guitarra portuguesa, instrumento que pretendia que “traduzisse os sentimentos desse homem, que é português”.
“Uma certa alma, que é a alma da guitarra portuguesa, que se envolve em tantas sonoridades” e, ao mesmo tempo, “como se fosse a história da uma guitarra portuguesa hoje, [que se mistura] com a história de homem do tempo que foi”, afirmou à Lusa a compositora.
“É como se estivesse a contar duas histórias, uma presente e outra passada”, que se cruzam, explicou.
O CD “Mar Magalhães” é apresentado em Lisboa, no Museu do Oriente, precisamente no dia que chega ao mercado, 28 de setembro, num recital com todos os participantes no disco, que são, além de Luísa Amaro (guitarra portuguesa), Gonçalo Lopes (clarinete), Paulo Sérgio (piano), Heloísa Monteiro (guitarra clássica), João Mota (cavaquinho) e Leonor Padinha (voz).
O álbum, que sucede a “Argvs” (2014), começou a desenhar-se em 2016, quando Luísa Amaro foi tocar a Sabrosa, em Trás-os-Montes e Alto Douro, onde nasceu o navegador.
O CD procura refletir “o caminho real, que foi a viagem, e paralelamente aquela tenacidade de chegar a um sítio, de conseguir, de chegar a bom porto, de lutar, de não desistir, quando Magalhães teve todas as condições para que de facto a viagem [de circum-navegação] não se efetuasse, pois levantaram-lhe muitos obstáculos, até mesmo a tripulação espanhola, que desconfiava do facto de ele ser português”, disse.
Fernão de Magalhães (1480-1521) capitaneou, ao serviço da coroa de Espanha, a primeira viagem de circum-navegação, através dos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico, em busca de uma rota alternativa à de Vasco da Gama, para alcançar os portos indianos e as cargas de especiarias.
O álbum levou Luísa Amaro a revisitar os seus tempos no Conservatório de Barcelona, em Espanha, na década de 1980, onde foi discípula da “grande concertista” Maria Luísa Anido, que lhe “passou muitas milongas, que têm um tempo especial, tal como as composições de Carlos Paredes [que Luísa Amaro acompanhou em recitais]”.
Entre as escolhas feitas para este CD, Luísa Amaro optou por Manuel de Falla, “que é uma sonoridade espanhola e intemporal”, tendo gravado destre compositor “Nana”. Do Brasil, escolheu Heitor Villa-Lobos, de quem gravou “Mazurca-Choro”. Do cabo-verdiano B.Leza, interpreta “Luiza”.
O CD inclui ainda duas versões – uma instrumental e outra cantada, com letra de Fernán Silva Valdés -, de “Canción del Arbol del Olvido”, do compositor argentino Alberto Ginastera (1916-1983), a que junta “Maio de 78″, do “grande mestre de Coimbra” Jorge Gomes, que “foi o primeiro homem a ensinar as mulheres a tocar guitarra portuguesa, e que continua a ensinar”, “María Luiza”, do argentino Julio Sagreras (1879-1942), e “Canção da Primavera”, de Francisco Martins. De sua autoria, Luísa Amaro gravou “A Partida”, com que abre o CD, “Olympos”, “Terminus” e “Cacilda”.
Sobre o álbum, Luísa Amaro afirmou que “é melancólico, mais até do que o habitual” nos seus discos.
Luísa Amaro, de 60 anos, foi a primeira mulher a compor para guitarra portuguesa e a apresentar-se como concertista, tendo estudado guitarra clássica, no Conservatório Nacional de Lisboa, com Lopes e Silva, e prosseguiu os estudos em Barcelona.
Em 1984, começou a acompanhar Carlos Paredes (1925-2004).
Desde 1996 dedica-se à guitarra portuguesa como compositora, considerando-se pioneira na “abordagem inovadora” que tem desenvolvido para este instrumento.
Em 2004 editou o álbum “Canção para Carlos Paredes”, ao qual se seguiu “Meditherranios” (2009) e “Argvs” (2014).
Comentários