Marcelo Rebelo de Sousa publicou hoje, no "site" da presidência, uma nota com o título "Portugal, Reino Unido e Europa: a História continua" e explicou "as três ideias-mestras" da sua leitura quanto ao 'Brexit', "perda, desafio e visão histórica".

"Perda, porque perde a União Europeia e perde o Reino Unido com esta saída e perdem muito mais do que, porventura, muitos pensaram ou pensam. Desafio, porque há um acordo a fechar e faz toda a diferença haver esse acordo de saída e ele ser portador de esperança de futuro", escreveu o chefe de Estado.

Apesar de esse entendimento não resolver "o problema de fundo", acrescentou, é "completamente diferente a rutura ser com acordo ou sem acordo, e o acordo ser um início de parceria de futuro ou ser um ponto final atabalhoado de um inesquecível passado comum".

Como a "História não acaba hoje" e "não começou no dia da entrada do Reino Unido nas Comunidades Europeias", Marcelo lembrou que "muitos séculos antes desse dia, já Portugal tinha como aliado a Inglaterra, relação que sempre se manteve e se manterá no futuro" e que "durante quase duas décadas, o Reino Unido viveu fora do que viria a ser a União Europeia".

"Por isso, o mais importante são os 27 Estados da União Europeia saberem, unidos, trabalhar para a futura parceria com o Reino Unido, tentando atenuar o custo da separação e abrir caminho para que a História, sempre de contornos imprevisíveis, vá encontrando novas formas de encontro entre duas realidades que são ambas europeias", lê-se na nota.

Portugal, prometeu, "estará na primeira linha dessa nova tarefa, com a experiência de mais de seis séculos de aliança nunca negada, quebrada ou enfraquecida".

Na quinta-feira, o Presidente português afirmou esperar que haja unidade entre os 27 Estados-membros da União Europeia nas negociações do futuro relacionamento com o Reino Unido e que se chegue a "um acordo razoável".

Em resposta a questões dos jornalistas, no final de uma visita a uma fábrica de cerâmica no concelho de Sintra, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que "é do interesse de todos" manter uma "ponte que pode e deve permanecer entre o Reino Unido e a União Europeia", após o 'Brexit', e "não estar a fazer negociações bilaterais, não estar a dividir".

"Estou moderadamente otimista quanto à possibilidade de haver um acordo e um acordo razoável entre a União Europeia e o Reino Unido, porque ninguém é suicida. O número de suicidas estatisticamente numa sociedade é, por definição, muito baixo. E, portanto, seria suicida, penso eu, para qualquer das partes, mas no que importa sobretudo a Portugal, para a União Europeia, não haver unidade dos 27, não haver uma capacidade de, em conjunto, negociar um acordo", declarou.

O chefe de Estado considerou que "este é um momento importante para a sobrevivência e para o sucesso do projeto europeu".

Na quarta-feira, o Parlamento Europeu aprovou o Acordo de Saída do Reino Unido da União Europeia, com 621 votos a favor, 49 contra e 13 abstenções, a última formalidade que faltava para que nesta sexta-feira, dia 31 de janeiro, se concretize o 'Brexit' - o primeiro abandono da história desta organização, que passará a ter 27 Estados-membros.

A saída do Reino Unido da União Europeia vai concretizar-se três anos e meio depois do referendo em que o 'Brexit' venceu com 52% dos votos dos eleitores britânicos, em junho de 2016.

No sábado, dia 01 de fevereiro, o Reino Unido passará a ser um "país terceiro" para a União Europeia e iniciar-se-á o chamado "período de transição", até 31 de dezembro de 2020, durante o qual as duas partes negociarão a relação futura.