António Costa falou hoje ao país para anunciar que a (nova) telescola regressa a 20 de abril. E, a título de curiosidade, note-se que o canal em que vai ser transmitida: na RTP Memória.
Entre 1965 e 1987 a telescola teve emissões regulares. Conta-nos a própria RTP que, à data, por cada sala de telescola existiam normalmente dois professores – um da área de ciências e outro de letras. Estes docentes acompanhavam as turmas constituídas por jovens impossibilitados de frequentar aulas noutros locais. Era a forma de colmatar limitações financeiras e dificuldades nas deslocações, resultado de uma deficiente rede de transportes, condições essas que levavam a que muitos abandonassem a escola mais cedo. Aqueles que hoje vão experimentar a nova versão de telescola não terão memória destes tempos, mas nada que esta reportagem da estação pública de televisão não resolva.
Finda a viagem ao passado, vamos então ao que hoje marcou o dia: em resumo, os alunos do ensino básico voltam a ter aulas a partir do dia 14 de abril, mas estas não serão presenciais. Para complementar o ensino à distância, regressa a partilha de conteúdos na televisão, adaptados aos currículos atuais, que serão transmitidos no canal da RTP Memória, por ser um dos canais que que está disponível em rede, por cabo e na TDT.
A ideia é mitigar desigualdades de acesso ao ensino, já que nem todos os alunos têm computadores e as próprias escolas usam meios diferentes para acompanhar os estudantes. António Costa reconhece que a medida ajuda, mas não resolve, e por isso mesmo escusa-se este ano a avaliação por prova de aferição ou exame para estes graus de ensino. Conta a nota curricular, dada por quem mais proximidade teve com o aluno ao longo do ano: o professor. Mas não há passagem de ano garantida para ninguém, avisa Costa. "Uma avaliação é uma avaliação".
Sobre o ensino secundário ainda não há muito acrescentar: há um plano em mente — regressar às aulas presenciais nos casos do 11.º e 12.º ano e restaurar alguma normalidade ao ano letivo adiando a realização dos exames —, mas tudo vai depender da evolução do surto.
Surto esse que já infetou 13.956 pessoas em Portugal, segundo as contas da Direção-geral de Saúde e provocou 409 mortes. Registo todavia para o aumento das recuperações, que somam 205 casos. O destaque da conferência de imprensa que sucedeu a apresentação do ponto de situação nacional vai para o reforço de material e de testes que chegou ao país.
Começam também a chegar-nos os primeiros relatos do dia a dia dentro dos hospitais portugueses. A agência Lusa publicou hoje duas reportagens nos cuidados intensivos do Santa Maria, em Lisboa. Aqui todos os doentes são homens, a maioria com idades mais avançadas. Entre eles está o primeiro paciente com covid-19 internado no Hospital Santa Maria, há mais de 20 dias. “Ainda está entubado, ventilado e tem um percurso clínico” prolongado. Se dúvidas existem sobre a gravidade que a doença pode ter, estas imagens falam por si.
Àqueles em quarentena preventiva ou efetiva (porque a doença não obrigou a internamento, isto é aliás o que acontece na maior parte dos casos), sugiro a título de curiosidade este artigo: "Casas de luxo ou ilhas paradisíacas, testes mais rápidos e médicos à disposição. Não, a quarentena não é igual para todos". A ostentação nunca cai bem, sobretudo quando, como escreve o The New York Times, o "sonho da mobilidade" social é travado pelas incertezas em torno de uma crise económica antecipada e um futuro "congelado" dentro de quatro paredes.
E falando em economia e em crise, continuamos sem novidades sobre a reunião do Eurogrupo. O facto é que desta vez a crise não é só de alguns (como aconteceu se seguiu a 2008) e portanto exige-se uma resposta conjunta e coordenada por parte da Europa. As conversações fora hoje retomadas — a última vez que foram suspensas tinham passado 16 horas sem acordo à vida —, mas a ausência de novidades deixa antecipar que o braço de ferro se mantém (com o ónus a cair sobre uma Holanda renitente). A meio da tarde de hoje, o nosso ministro das Finanças que é também presidente do Eurogrupo deixava uma mensagem: “A confiança dos nossos cidadãos depende de nós. Temos de chegar a um acordo”.
Longe da mesa dos titãs da nossa carteira, há soldados da criatividade e da inovação que merecem destaque: movimento Tech4Covid19 — que se dedica a encontrar e agilizar soluções para vários dos problemas que decorrem desta pandemia — continua a somar iniciativas e soluções. Estas são algumas das novidades.
Tinha uma sugestão musical para o fim de noite, o festival de música TV Fest, promovido pelo Ministério da Cultura, mas entretanto este foi suspenso após duras críticas do próprio setor. Será agora repensada a forma de apoiar os artistas nacionais e levar música portuguesa à casa das pessoas. No entanto, antes desta notícia — sendo que a polémica já tinha estalado — tivemos oportunidade de falar com o Júlio Isidro, padrinho do projeto.
Entretanto, à falta de música, e caso ainda não tenha tido oportunidade, deixo como sugestão o primeiro episódio da série A Espia, que estreou ontem e já está disponível na RTP Play. Para amanhã, destaco o espetáculo solidário de apoio à Cruz Vermelha. O cartaz? Fernando Alvim, Miguel Araújo, Gisela João, Pedro Abrunhosa, Tiago Nacarato, Carolina Deslandes, Tatanka, César Mourão e Salvador Martinha. O mote? "Só, mas bem acompanhado".
O meu nome é Inês F. Alves e hoje o dia foi assim.
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