Numa mensagem na rede social Twitter, os investigadores e autores da vacina adiantaram que o Fundo Soberano da Rússia (RDIF), que financiou o desenvolvimento do fármaco, deram início às negociações com Berlim para “um contrato de aquisição antecipado” da Sputnik V.
A agência noticiosa France-Presse (AFP) observa que as negociações de Berlim com Moscovo estão a decorrer sem esperar “luz verde” da União Europeia (UE) e apesar das reservas que a vacina russa continua a suscitar na Europa.
Horas antes das declarações dos investigadores russos, o ministro da Saúde alemão, Jens Spahn, anunciou a intenção de dialogar com as autoridades russas sobre o assunto.
Spahn justificou a decisão de a Alemanha avançar sozinha devido à recusa da Comissão Europeia em negociar em nome dos 27 a compra da Sputnik V, ao contrário do que fez com outras vacinas contra a doença covid-19.
“Expliquei, em nome da Alemanha, ao Conselho de Ministros da Saúde da UE que discutiríamos bilateralmente com a Rússia, antes de mais nada, para saber quando e que quantidades poderiam ser entregues”, indicou Spahn à rádio pública regional WDR.
A iniciativa foi já criticada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba.
“Quando se trata da Sputnik V, todos os países devem estar cientes do duplo preço a pagar: o preço financeiro e o preço político”, alertou Kuleba em declarações ao diário alemão Bild, a serem publicadas na edição de sexta-feira.
“[Moscovo] não procura, infelizmente, nenhum objetivo humanitário, mas usa-a como uma ferramenta para estender sua influência”, acrescentou.,
Recentemente, também o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Yves Le Drian, criticou a Rússia por fazer da vacina uma “ferramenta de propaganda” no mundo.
Por seu lado, o comissário europeu para o Mercado Interno, Thierry Breton, conhecido como o “Senhor Vacina” foi muito reservado sobre a utilidade para a UE, do ponto de vista industrial, recorrer a vacinas chinesas ou russas, que não seriam produzidas e entregues com a rapidez necessária.
“Será que eles nos vão ajudar a atingir a nossa meta de imunização da [população] até ao verão de 2021? Receio que a resposta seja não”, afirmou Breton.
Segundo as autoridades alemãs, qualquer entrega da Sputnik V, porém, continua sujeita à “luz verde” da Agência Europeia de Medicamentos (EMA).
Por outro lado, acrescentou Spahn, as entregas russas só devem acontecer nos próximos dois a cinco meses.
Segundo a AFP, por querer ser capaz de produzir vacinas suficientes priorizando a população russa, Moscovo apenas exportou pequenas quantidades da vacina para o exterior.
Desde a primeira vacinação, nas vésperas do Natal de 2020, apenas três vacinas são atualmente administradas na Alemanha: as da Pfizer/BioNTech, AstraZeneca, sob condições, e a Moderna.
Uma quarta, da Johnson & Johnson, deverá começar a ser distribuída na UE nas próximas semanas.
Na Alemanha, a pressão pela vacina russa está a aumentar. A Baviera, maior região do país, anunciou quarta-feira que negociou um “contrato preliminar” para receber 2,5 milhões de doses da vacina russa, sujeitas, porém, à autorização do regulador europeu.
Espera-se que algumas doses sejam produzidas em Illertissen, um município da Baviera, pela R-Pharm Germany, uma subsidiária do grupo farmacêutico russo R-Pharm.
Mecklenburg-Vorpommern, um Estado escassamente povoado no nordeste do país, fez hoje o mesmo, ao pré-encomendar um milhão de doses da Rússia”.
“Atualmente, ainda estamos numa situação de grande dependência de poucos fabricantes de vacinas”, sublinhou o ministro regional da Saúde de Mecklenburg-Vorpommern, Harry Glawe, citado pela agência noticiosa alemã DPA.
A EMA não estabeleceu um prazo para uma decisão sobre a Sputnik V, enquanto, para os outros laboratórios que até agora submeteram a vacina contra a covid-19 para aprovação, examinou os dados fornecidos num prazo de dois a quatro meses.
A Alemanha registou 306 vítimas mortais por covid-19 e 20.407 novos contágios nas últimas 24 horas, de acordo com os dados divulgados hoje pelo Instituto Robert Koch (RKI). Desde o início da pandemia morreram no país 77.707 pessoas e somam-se, no total, 2.930.852 casos.
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