Questionado sobre os dois casos confirmados hoje de coronavírus em Portugal — um dos quais ainda a aguardar contra-análise, o primeiro-ministro reiterou a importância de ligar para a Saúde 24 (808 24 24 24) em caso de suspeita de sintomas de infeção.

"Se corrermos todos para um centro de saúde ou para um hospital arriscamo-nos a, se formos portadores, estar a transmitir involuntariamente [o coronavírus covid-19] a outros, ou a sermos contaminados por outros que eventualmente estejam infetados", disse António Costa.

O primeiro-ministro desejou melhoras aos dois homens internados no Porto com resultado positivo para infeção por coronavírus, destacando porém a sua confiança na qualidade do Sistema Nacional de Saúde para os atender.

"Temos de estar conscientes do risco, mas manter a calma e a serenidade", recomendou António Costa, deixando como principal recomendação que quem tenha estado em contacto com pessoas com suspeitas de infeção esteja "particularmente atenta aos sintomas" e que "recorra à linha Saúde 24, e a partir daí siga as instruções" que lhe são dadas. "A Linha de Saúde 24 tem de ser a porta de entrada para todos estes casos", reiterou.

A ministra da Saúde Marta Temido confirmou esta manhã que há um caso positivo por infeção de coronavírus no Porto e um segundo a aguardar contra-análise, também no Porto. Ambos os casos foram identificados este domingo, 1 de março.

O caso já confirmado é de um homem de 60 anos que esteve recentemente em Itália e cujos sintomas tiveram início a 29 de fevereiro. A sua situação é "estável". Trata-se de um médico do Hospital do Tâmega e Sousa que esteve no norte de Itália a fazer férias e que ficou ontem à tarde internado no Hospital de Santo António, no Porto.

O segundo caso é também de um homem, de 33 anos, cujos sintomas tiveram início a 26 de fevereiro. O homem esteve a trabalhar em Espanha e apresentou sintomas ligeiros, tendo ficado internado no Hospital de São João, no Porto. O seu estado de saúde também é considerado "estável" e análises aguardam contra-análise dos resultados por parte do Instituto Ricardo Jorge.

A ministra da Saúde recomendou ainda “vigilância ativa” para as pessoas que venham da áreas afetadas e que possam ter tido contacto com doentes. Estas devem contactar a Linha SNS 24 (808 24 24 24).

Está a ser feito um reforço das linhas de saúde, no sentido de "garantir que as respostas são dadas o mais depressa possível", garantiu Marta Temido. A ministra admite, porém, que com um volume maior de procura "esses tempos possam trazer algumas demoras".  Mas, afirma, o momento é de "preocupação" e  "cuidado", "sem alarmes".

A governante anunciou ainda que os voos provenientes de Itália terão maior rastreabilidade de passageiros à semelhança do que acontecia com provenientes da China.

“Neste momento, foi já tomada a decisão de aplicar [o rastreamento] aos voos que são provenientes de áreas afetadas, já o tínhamos feito relativamente aos voos provenientes da China. Vamos alargar essa medida aos voos provenientes da Itália", disse Marta Temido, explicando que se trata da "aplicação de uma rastreabilidade de contactos e também um reforço da informação dos provenientes dessa região”.

António Costa salientou igualmente esta alteração nas suas declarações, detalhando que esta rastreabilidade passa por fazer o registo do passageiro proveniente destes destinos, assim como identificar as pessoas num raio estimado de infeção, de forma a que seja fácil chegar ao contacto com elas e orientá-las caso venha a revelar-se necessário.

Sobre o eventual encerramento do voos provenientes de Itália, António Costa descartou a hipótese nesta fase. "Devemos ir tomando as medidas gradativamente, sob pena de ficarmos todos paralisados. Não creio que seja justificável essa situação".

"Consciência de risco, serenidade e Linha Saúde 24" foram as palavras de ordem do António Costa sobre esta matéria.

Questionado sobre o impacto deste coronavírus na economia, António Costa respondeu que o governo estabeleceu "metas muito pudentes. Não é por falta de otimismo, mas de conservadorismo responsável, porque a vida económica ao longo do ano está sempre sujeita a imprevistos. Hoje mesmo o senhor ministro da Economia está a reunir com um conjunto de associações empresariais para detetar, em concreto, quebras em algumas cadeias de fornecimento, designadamente no setor industrial, de materiais provenientes da China e verificar outras consequências que possam existir. O senhor ministro das Finanças, na qualidade de presidente do Eurogrupo, vai ter uma reunião, por via de teleconferência, a meio desta semana, para ter uma avaliação global do impacto nas economias", disse.

Ficou hoje a saber-se que de acordo com um despacho da ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública, Alexandra Leitão, que será publicado em Diário da República, os serviços da administração pública devem elaborar planos de contingência de acordo com as orientações da Direção-Geral da Saúde (DGS), adaptando-as à situação concreta de cada serviço. Se esse plano de contingência implicar colocar trabalhadores em teletrabalho ou, quando se justificar, em isolamento profilático, não haverá perda de retribuição salarial.

Questionado sobre o alargar de medidas semelhantes ao setor privado, António Costa salientou que várias empresas têm, por sua iniciativa, aplicado planos de contingência, apelando à solidariedade de todos para a melhor abordagem a esta situação. Todavia, lembrou, "no limite há sempre a figura da baixa, que é aplicável".

Ponto de situação

Em Portugal, e até às 19:00 de domingo, a Direção-Geral da Saúde (DGS) tinha registado 85 casos suspeitos de infeção, 12 dos quais ainda estavam em estudo.

No entanto, durante a madrugada, os Açores registaram um segundo caso suspeito de infeção pelo novo coronavírus (Covid-19), um homem de 24 anos que esteve em Itália.

Esta segunda-feira de manhã, avançou-se então com a informação de dois casos confirmados, no Porto.

Ainda de madrugada, um comboio internacional esteve parado desde as 23:30 de domingo na estação do Entroncamento, Santarém, após uma passageira ter alegado estar com sintomas de infeção pelo novo coronavírus. As autoridades de saúde adiantaram, esta segunda-feira, que está internada no Hospital Curry Cabral, em Lisboa, a aguardar os resultados das análises. Os restantes passageiros sinalizados.

A par, as autoridades de saúde estão a proceder a uma investigação epidemiológica quanto a possíveis casos de contacto com o escritor Luis Sepúlveda, que está infetado com o novo coronavírus e que esteve na Póvoa de Varzim no evento Correntes d'Escritas. A DGS está a pedir aos possíveis afetados para contactarem a linha SNS24.

Entretanto, soube-se também que Adriano Maranhão, um dos portugueses infetados no Japão com o novo coronavírus, teve alta hospitalar este domingo, 1 de março. O outro tripulante encontra-se ainda hospitalizado com confirmação de infeção.

O surto de Covid-19, detetado em dezembro na China e que pode causar infeções respiratórias como pneumonia, provocou pelo menos 2.980 mortos e infetou mais de 87 mil pessoas, de acordo com dados reportados por 60 países. Das pessoas infetadas, mais de 41 mil recuperaram.

Além de 2.912 mortos na China, há registo de vítimas mortais no Irão, Itália, Coreia do Sul, Japão, França, Taiwan, Austrália, Tailândia, Estados Unidos da América e Filipinas.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou o surto de Covid-19 como uma emergência de saúde pública internacional e aumentou o risco para “muito elevado”.

A DGS manteve no sábado o risco da epidemia para a saúde pública em “moderado a elevado”.

De referir que a DGS lançou um microsite sobre o novo coronavírus (Covid-19), onde os portugueses podem acompanhar a evolução da infeção em Portugal e no mundo e esclarecer dúvidas sobre a doença.

Em Portugal, quem suspeitar estar infetado ou tiver sintomas - que incluem febre, dores no corpo e cansaço - deve contactar a linha SNS24 através do número 808 24 24 24 para ser direcionado pelos profissionais de saúde. Não se dirija aos serviços de urgência, pede a Direção-geral de Saúde.

Entre as recomendações de saúde para evitar infeções está: Lavagem frequente das mãos com detergente, sabão ou soluções à base de álcool; Ao tossir ou espirrar, fazê-lo não para as mãos, mas para o cotovelo ou para um lenço descartável que deve ser deitado fora de imediato; Evitar contacto próximo com quem tem febre ou tosse; Evitar contacto direito com animais vivos em mercados de áreas afetadas por surtos; Deve ser evitado o consumo de produtos de animais crus, sobretudo carne e ovos; Caso se dirija a uma unidade de saúde com suspeitas de infeção ou sintomas deve informar de imediato o segurança ou o administrativo.

A Direção-Geral da Saúde  ativou os hospitais de Santa Maria, S. José (Lisboa), Coimbra e Santo António (Porto) para validar casos suspeitos de infeção pelo novo coronavírus (Covid-19). Trata-se de hospitais de referência de "segunda linha" para a contenção da infeção. A partir de 26 de fevereiro, o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e o Hospital Curry Cabral, em Lisboa, passam a poder fazer análises laboratoriais aos casos suspeitos. Até à data, as análises eram feitas no Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, em Lisboa, e, mais recentemente, no Hospital S. João, no Porto. Atualmente existem 2.000 quartos de isolamento nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde.  O Serviço Regional de Saúde dos Açores disponibilizou 80 quartos de isolamento. A Madeira já apresentou também o seu plano de contingência.

A Direção-Geral da Saúde emitiu ainda recomendações às empresas por causa do coronavírus, aconselhando-as a definir planos de contingência para casos suspeitos entre os trabalhadores que contemplem zonas de isolamento e regras específicas de higiene, evitando reuniões em sala. Saiba mais aqui.

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