Não costumo escrever sobre futebol — ou sobre desporto no geral.
O texto do "Hoje o dia foi assim" deste domingo estava escrito às 18h00. Tinha todo um outro tom e tema, que optei por apagar (brincava com o aperto de mão vigoroso de Marcelo na Índia). Estava longe de pensar que assinaria dois textos sobre o desporto-rei — o de ontem versava sobre um caso de fair-play num jogo das camadas jovens do Sporting e Benfica. Que bonito seria que o fim de semana terminasse nesse tom. Mas a história do Dinis, que vale pena recordar, não sobreviverá nos destaques noticiosos.
O de Marega sim. O de Marega deve. O avançado do FC Porto pediu para ser substituído, ao minuto 71 do jogo da 21.ª jornada da I Liga, por alegados cânticos racistas dos adeptos da formação vimaranense, numa altura em que os ‘dragões’ venciam por 2-1.
Sérgio Conceição, treinador dos dragões, já considerou o momento de “lamentável”. A Liga de clubes salientou que os atos de racismo “envergonham o futebol e a dignidade humana”. O secretário de Estado da Juventude e Desporto, João Paulo Rebelo, assegurou que as autoridades estão a identificar os responsáveis, a fim de serem punidos. As reações chegam um pouco de todo o lado.
O dia de hoje marcará um antes e um depois no futebol nacional. E se tal não acontecer, algo estará errado. Dia 0, de zero tolerância a casos como o de hoje. Mas que não o seja apenas no desporto. Que o seja transversal a toda a sociedade. Dentro e fora dos estádios. Nas escolas. No trabalho. Nos transportes públicos. Nos espaços de comentários...
Não se levantem dedos médios, levante-se o indicador. "Não somos um país racista", dizem. Hoje o dia foi assim, e contraria-o.
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