O candidato à Casa Branca, Donald Trump, e o presidente do México, Peña Nieto, marcaram encontro na Cidade do México, um encontro duramente criticado por políticos, analistas e cidadãos mexicanos que desaprovam o discurso xenófobo do magnata nova-iorquino. "Os Estados Unidos têm o direito de construir um muro na fronteira", disse Trump numa mensagem conjunta à imprensa com Peña Nieto, o qual garantiu, por seu lado, que o México não pagará essa obra. "No início da conversa com Donald Trump deixei claro que o México não pagará pelo muro", escreveu Peña Nieto no Twitter.
O porta-voz da presidência Eduardo Sánchez assinalou à AFP que Peña Nieto reconheceu que "os Estados Unidos tem o direito de construir um muro no seu território", mas que este deve ser pago pelos americanos (ao invés da proposta original de Trump).
Trump disse acreditar no presidente mexicano e na sua vontade para resolver os problemas na fronteira comum. "Acho que o presidente e eu podemos resolver esses problemas (...). A imigração ilegal é um problema tanto para o México quanto para nós. As drogas são um tremendo problema tanto para o México quanto para nós. Não é uma via de sentido único. Trabalharemos juntos e resolveremos esses problemas", afirmou Trump.
Sobre a conversa privada com Peña Nieto, o republicano garantiu que tiveram uma "substantiva e construtiva troca de ideias" e que, para ele, foi importante apresentar a sua perspectiva sobre o impacto da imigração ilegal e sobre o comércio entre ambos os países.
Peña Nieto é o primeiro presidente mexicano a reunir-se com um candidato americano e que, além disso, oferece uma mensagem mediática conjunta, apesar de o seu convidado não ser um chefe de Estado. O presidente mexicano destacou a importância de se trabalhar em conjunto para conseguir uma fronteira mais segura, mas sublinhou a obrigação de conter o fluxo de armas e dinheiro do vizinho do norte para as organizações criminosas no sul. "Muitas vidas podem ser salvas em ambos os lados da fronteira, se as organizações criminosas deixarem de receber armas e dinheiro (...) Ambos os países devem investir mais nisso (na fronteira), mais em infraestrutura, mais nas pessoas, mais em tecnologia para tornar mais segura e eficiente" a fronteira comum, declarou o presidente mexicano.
Encontro criticado
Trump desembarcou às 13h09 locais, no hangar presidencial do Aeroporto Internacional da Cidade do México. Após a aterragem, um fotógrafo da AFP observou a descolagem de um helicóptero da Presidência, no qual o magnata teria sido levado para a residência presidencial de Los Pinos.
Com este encontro surpreendente, Trump procura inverter a sua desvantagem nas sondagens de intenção de voto em relação à sua adversária democrata, Hillary Clinton. O candidato tenta mostrar ao eleitorado americano que não é xenófobo, apesar das suas declarações contra os imigrantes.
O encontro foi anunciado na terça à noite por Trump e Peña Nieto. Ambos já se enfrentaram à distância, mas hoje encontram, aparentemente, interesse político em estender mutuamente a mão.
O convite do presidente mexicano surpreende, já que poucos americanos são tão impopulares no país quanto Trump. Ao longo da campanha eleitoral, o magnata nova-iorquino teve no México um dos seus principais alvos, acusando o vizinho de enviar os seus piores elementos para os Estados Unidos. Entre eles, segundo Trump, estariam violadores, criminosos e traficantes de drogas.
Hillary voltou à carga contra o rival nesta quarta-feira, durante um discurso em Ohio, reiterando que o seu adversário não tem a experiência, nem a personalidade necessárias para assumir o controlo da Casa Branca. "É necessário mais do que tentar apagar um ano de insultos e insinuações com uma visita de não sei quantas horas aos nossos vizinhos antes de voltar para a casa", afirmou.
No início da sua campanha, Trump causou um escândalo regional, ao afirmar que os imigrantes mexicanos são violadores e traficantes de drogas e que tiram o trabalho aos americanos, além de propor a construção de um grande muro ao longo dos mais de 3000 km de fronteira entre os dois países.
Embora tenha amenizado o seu discurso recentemente, defendendo uma política "justa e humana", os mexicanos não esqueceram a dureza da sua retórica e, na Cidade do México, Donald Trump era esperado com manifestações de repúdio.
A visita de Trump ao México acontece no mesmo dia do seu comício no Arizona, estado na fronteira com o México. Os Estados Unidos são o principal parceiro comercial do México. Estima-se que vivam hoje nos EUA cerca de 11 milhões de pessoas em condição clandestina, a maioria mexicana.
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