“Toda a gente que estava à volta deles, coletivos como a Habita e Stop Despejos e pessoas que apareceram, juntaram dinheiro e vão ter onde ficar esta noite”, disse João Cruz à agência Lusa, frisando que o alojamento “foi pago do bolso dessas pessoas”.

De acordo com o ativista, o casal e o idoso de 89 anos, que se movimenta numa cadeira de rodas, vão ficar num Alojamento Local com “acessibilidade para o pai de Alcina conseguir entrar”.

“Mas, amanhã [quinta-feira] já não têm para onde ir”, acrescentou.

Em causa está o despejo, decretado pelo tribunal, de Carlos Almeida, Alcina Lourenço e do pai desta.

O despejo ocorreu hoje de manhã sem serem dadas alternativas à família.

Contactado pela Lusa, Carlos Almeida disse que, “em princípio, já há um canto” para passarem a noite, sem saber precisar onde.

“É a única coisa que eu sei”, afirmou, acrescentando que foi o que lhe comunicou a sua mulher, pois ainda se encontrava junto ao apartamento onde residiam, a guardar os bens.

Durante a tarde, ativistas e Alcina Lourenço estiveram no Ministério da Habitação para pedir ajuda, mas sem sucesso.

Segundo João Cruz, da Habita, “nenhuma instituição pública arranjou uma solução”, tendo a família e os coletivos pressionado o Ministério da Habitação, a Câmara de Lisboa, a Santa Casa da Misericórdia e a linha 144 (Linha Nacional de Emergência Social).

As instituições chegaram a propor algumas respostas, mas “passavam todas por os separar”, pelo que não aceitaram.

A família recusava-se a sair do T4 na zona de Arroios onde Carlos e Alcina, um casal, e o idoso, pai de Alcina, moravam (estes dois últimos há algumas décadas) por não ter encontrado, desde 2020, uma casa no mercado habitacional com uma “renda compatível com os seus rendimentos” e na qual conseguissem ficar juntos, incluindo o idoso, do qual a mulher cuida.

As autoridades já tinham tentado despejar a família no dia 03, mas vários populares e elementos da Habita juntaram-se no local e, apesar da presença de duas viaturas com elementos da PSP, não foi feita nenhuma tentativa para entrar no apartamento e retirar a família.

Segundo Carlos Almeida, Alcina tinha cerca de 7 anos quando foi viver, com o pai, para esta casa, com contrato de arrendamento em nome de uma tia que a ajudou a criar, mas que entretanto faleceu, tendo o senhorio ignorado tentativas de novo contrato e ajustamento do valor da renda.

Segundo a Habita, a família tem rendimentos totais de cerca de 1.200 euros e procurou nos últimos anos acesso a uma casa no mercado habitacional, mas também junto da Câmara e da Santa Casa da Misericórdia, sem sucesso.

Em 03 de outubro, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, contactada pela agência Lusa, assegurou que “tem estado a acompanhar a situação do agregado em causa” e que procurou encontrar “uma solução de resposta de emergência, perante a iminência da execução da ação de despejo”.

No entanto, a família recusou a proposta porque previa a ida do idoso para um lar.

Alcina Lourenço, segundo a Câmara de Lisboa, está registada na Plataforma Habitar Lisboa desde 2021 e apresentou duas candidaturas ao programa de arrendamento apoiado, mas “a pontuação obtida, de acordo com a matriz de ponderação da carência socioeconómica, não atinge o valor que permita o acesso a uma habitação municipal”.