“A França pode ser vista como um país forte no exterior, mas é um Estado frágil por causa da degeneração do presidencialismo que é a versão moderna do regime imperial de Napoleão. Não por haver um Presidente, mas por ele agregar em si quase todo o poder. Isso dá força aos presidentes, mas também os fragiliza. Miterrand foi um monarca republicano, isso mostrou a histeria de Nicolas Sarkozy e a impotência de Hollande e, agora, o narcisismo de Emmanuel Macron”, considerou Edwy Plenel em entrevista à agência Lusa.
Sem querer fazer previsões sobre o impacto dos “coletes amarelos” na vida política em França, o fundador, diretor e presidente do jornal Mediapart, que estará em Lisboa no dia 15 de maio para participar na conferência “Democracia e Liberdade de Imprensa”, promovida pela revista Sábado, diz que a abstenção vai aumentar nas eleições europeias marcadas para 26 de maio.
Edwy Plenel foi diretor do diário Le Monde antes de fundar, há 11 anos, o jornal Mediapart.
“A confirmação do movimento dos ‘coletes amarelos’ vai chegar através da abstenção nestas europeias. Ela já é forte, mas será ainda mais forte. […] Esta impaciência [de conhecer o impacto imediato do movimento] é da velha democracia. Estamos à espera de partidos, de organizações, de porta-voz, de um líder. Quando há movimentos sociais autónomos, algo novo, o que eles criam como organização é também novo”, disse o jornalista.
Os “coletes amarelos” são mesmo uma reação à eleição de um Presidente que disse que tudo mudaria.
“Emmanuel Macron, ao criar um movimento como o En Marche que não existia antes, que estava aparentemente fora dos partidos políticos, prometeu uma revolução democrática profunda. O que lhe está a ser atirado à cara é essa promessa não cumprida”, indicou.
Já algo que parece uma forte possibilidade é a vitória da extrema-direita nas eleições europeias em França. Algo que, na visão de Plenel, também se deve à ineficácia de Emmanuel Macron.
“[Uma vitória da extrema-direita] Só mostra que Macron falhou no seu mandato. Ele foi eleito contra a extrema-direita, o que fez pesar sobre ele uma forte responsabilidade de ouvir as pessoas e de ter em conta a diversidade das pessoas que o elegeram. Ele não o fez e, como outros antes dele, não conseguiu fazer baixar a extrema-direita”, afirmou.
Edwy Plenel diz-se mais favorável a um regime semipresidencialista como o português, onde “há uma verdadeira democracia parlamentar em que é possível fazer alianças”.
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