Falando numa conferência em Lisboa, a social-democrata teceu críticas ao que diz ser uma "tendência" comunicativa do Governo de "chamar boas notícias ao facto de determinadas más noticias não acontecerem" - a antiga governante deu o exemplo das agências de ‘rating' e das mais recentes previsões económicas da Comissão Europeia.
"No ano passado, no fim do ano, várias agências de ‘rating' estavam prestes a passar o país novamente para o nível de investimento, tendo inclusivamente passado o ‘outlook' de estável para positivo. (…) E a boa noticia verdadeiramente seria essa, que Portugal deixava de depender apenas de uma agência de ‘rating’ para ter acesso ao financiamento do Banco Central Europeu e passava a ter outras", advoga Maria Luís Albuquerque.
Contudo, lamenta, a "boa notícia" para o Governo nesta matéria é que a única agência que dá notação acima de ‘lixo' a Portugal - a canadiana DBRS - continua a manter o país nesse nível: "a boa notícia é que ainda não aconteceu a desgraça", ironizou a social-democrata.
Sobre as visões económicas de Bruxelas, a "boa notícia" destacada pelo primeiro-ministro "é que em 2018" Portugal vai estar "a crescer menos dois pontos percentuais" do que em 2015.
"Presumo que para o primeiro-ministro a boa notícia é que não nos disseram que vamos entrar em recessão amanhã. Tem sido sistematicamente assim: boa notícia é não acontecer uma desgraça. Que ambição é esta de um Governo que a única coisa que mostra como resultado do seu trabalho é que não morreu, o Governo ainda não se escangalhou, a maioria ainda não se desmanchou, ainda não perdemos o ‘rating', a Comissão Europeia não devolveu o Orçamento?", interrogou.
E foi mais longe: "Isto é suposto serem boas notícias para os portugueses porquê?", questionou ainda, acrescentando que "mesmo no programa de ajustamento", com PSD e CDs-PP no poder, "nunca se apresentaram como boas noticias não terem acontecido desgraças.
O primeiro-ministro, António Costa, afirmou hoje que as notícias sobre a economia portuguesa "são boas" e que para a semana "ainda serão melhores", numa alusão ao processo de aprovação do projeto de orçamento português por parte da Comissão Europeia.
António Costa fez esta declaração no final de uma reunião com o primeiro-ministro luxemburguês, Xavier Bettel, em São Bento, depois de questionado sobre as previsões da União Europeia em relação à evolução da economia portuguesa até ao final deste ano e em 2017.
A vice-presidente do PSD Maria Luís Albuquerque lançou hoje também novas farpas à proposta de Orçamento para 2017, declarando que o documento mostra uma "total falta de ambição" do Governo e procura a sua "mera sobrevivência a curto prazo".
No Orçamento, diz a antiga ministra das Finanças, "pouco mais consegue do que garantir o pagamento dos salários e mesmo assim, nalguns casos, vai ter de se ir buscar dinheiro a outro lado qualquer", o que é "muito pouco" e demonstra uma "total falta de ambição".
A dirigente do PSD diz que se forem cortadas "todas as despesas do Estado, a ponto de paralisar os serviços", o que sobra é financiamento para pagar a funcionários que "não têm condições para fazer aquilo para que são pagos".
"E isso é o que me parece até mais triste nesta proposta de OE. É o pouco que representa no sentido de ambição", continuou.
Depois, a antiga titular da pasta das Finanças do executivo PSD/CDS-PP deu o exemplo do ensino superior, nomeadamente o mais técnico e menos virado para as ciências sociais e que necessita, por exemplo, de "equipamentos de laboratório".
"As universidades se não tiverem dinheiro não conseguem fazer o seu trabalho como deve ser. E este é um exemplo que pode ser replicado em todas as outras atividades", realçou.
Maria Luís Albuquerque falava na conferência "Financiamento do Ensino Superior", organizada em Lisboa pelo núcleo de estudantes sociais-democratas do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP).
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