Espanha continua num impasse político. O candidato do partido mais votado nas últimas eleições, Mariano Rajoy do PP, já tinha um chumbo anunciado e foi confirmado ao final da tarde pelo Congresso dos Depudados. Com 170 votos, Rajoy não chegou aos 176 votos favoráveis que lhe garantiam a possibilidade de formar governo. Ficou a seis deputados de o conseguir. Sexta-feira repete-se a votação e desta vez é só preciso que o número de votos favoravéis a Rajoy seja superior ao número de votos contra a sua investidura. 

A favor da investidura de Rajoy votaram os 137 deputados do PP, os 32 do Ciudadanos e a deputada da Coligação Canária. Contra Rajoy há mais deputados, entre eles os 85 do PSOE, os 71 do Unidos Podemos, os nove da Esquerda Republicana, oito do PDC, o PNB com cinco deputados e o EH Bildu com dois. No total somam 180 votos contra.

Se a votação se mantiver na próxima votação, que irá decorrer nesta sexta-feira, Espanha irá para eleições no dia 25 de Dezembro desde ano. 

A distribuição de deputados depois da repetição das eleições não foi favorável à formação de coligações. A grande parte dos assentos parlamentares foram distribuidos entre quatro partidos: PP, PSOE, Unidos Podemos e Ciudadanos. O PP, de Mariano Rajoy, foi o partido mais votado, mas apenas conseguiu o apoio do Ciudadanos e da Coligação Canária, votos que não chegaram para que o governo do PP passasse hoje no Congresso. 

O líder dos socialistas espanhóis, Pedro Sánchez, que também falhou a sessão de investidura na anterior legislatura, disse que Espanha "precisa de um governo, não de um mau governo", e que, por isso "o PSOE vota contra [a investidura de Rajoy] para o bem do país".  

O líder do Ciudadanos, Albert Rivera, respondeu e disse que há que escolher "entre o mal e o menos mal". Para o líder do partido que deu a mão a Rajoy "é menos mal que Espanha tenha um governo, mesmo que não seja o nosso governo, porque mau é que Espanha esteja bloqueada consitucionalmente." 

Albert Rivera fez uma alusão aos jogos infantis e disse que "podiamos fazer duas coisas: encontrar as diferenças ou unir os pontos". E perguntou ao Congresso: "O que querem vocês fazer? É que eu quero unir os pontos".

Os Espanhóis decidiram que "acabaram as maiorias absolutas". "Tem de haver mudanças!", pede Rivera, num país que não conhece um governo de coligação na sua história democrática. 

"Se não há renovação, nem o PSOE quer negociar, quem critica o Plano B o que quer? Terceiras eleições, talvez quartas", disse Rivera. E pediu aos deputados: "Que ninguém pense numas terceiras férias!"

Pedro Sánchez pautou todo o seu discurso com criticas à governação de Rajoy. Acusou-o de ter sido irresponsável nos últimos quatros anos em que teve maioria absoluta e deixou a frase: "[Rajoy] levou anos a confundir maioria absoluta e absolutismo".

Sánchez repetiu a palavra "cortes" para definir o Governo de Rajoy. "Cortes em direitos, cortes na democracia, cortes nas políticas de igualdade", acusa o líder do PSOE.  

Rajoy respondeu às acusações com ironia: "Se sou assim tão mau, quão mau é Pedro Sánchez? Péssimo?". Com direito a risos na bancada do PP.

A investidura foi marcada para esta data, porque Rajoy já previa a possibilidade de umas terceiras eleições. A oposição criticou a data escolhida uma vez que assim a nova ida às urnas, a acontecer, será marcada para o dia de Natal, 25 de Dezembro. Rajoy fez questão de explicar que se fosse uma semana mais tarde calharia a 1 de Janeiro e se fosse na outra semana seria a 8 de Janeiro, mas a campanha eleitoral decorreria no período natalício. E depois disso, o calendário eleitoral entraria na campanha da Galiza e País Basco. "Fizesse o que fizesse, pareceria sempre mal a minha decisão", disse para Pedro Sánchez. 

O líder do Podemos, Pablo Iglésias, que concorreu a estas eleições coligado com a Izquierda Unida, lançou ataques a um dos pontos de acordo do PP com o Cuidadanos, o Pacto Anti-corrupção. Iglésias disse que esse acordo "é uma burla", porque "é mentira que vão combater a corrupção, porque vocês [para o PP] são a corrupção". 

Iglésias não se limitou a acusar o líder do PP e candidato a esta investidura, o seu discurso também se focou em Albert Rivera, o parceiro de coligação do PP. Iglésias disse que o Ciudadanos "não é de esquerda, nem de direita", porque ele "vale para tudo". Rivera estabeleceu um acordo com o PSOE na primeira sessão de investidura e agora assinou um com o PP, que representam possições opostas no espectro eleitoral.

O líder do PP respondeu com ironia: "Sr. Iglésias, você é estupendo, às vezes pergunto-me se não gostava de ser como você". Na sala ouviram-se risos. Rajoy continuou: "Nunca se confunde, acerta sempre, é o único independente".  

"Falar é muito fácil, especialmente quando não tens responsabilidades, simplesmente levantas-te e falas", disse para o líder do Podemos, com um Congresso a rir da frase. 

O porta-voz do partido Esquerda Republicana da Catalunha, Joan Tardà, aproveitou esta oportunidade para pedir a autodeterminação da Catalunha e um referendo. Aos deputados perguntou: "Porque têm medo de um referendo?" e fez questão de responder à pergunta retórica que colocou: "Porque vocês não querem uma via democrática".

Joan Tardà acrescentou que os "catalães não têm nada contra a Espanha, apenas queremos governar-nos a nós próprios".

O porta-voz do partido que defende a independência da Catalunha espera que a declaração "República Catalã" seja para breve, e deixou um apelo em catalão para que os Valencianos e Baleares "se juntem" ao novo país.

Rajoy na resposta a Tardà disse que "o povo espanhol é que tem de decidir sobre o seu futuro" e que "para Tardá parece que todos os catalães são independentistas", quando na realidade "há quem não o seja".

Rajoy regaña a Tardá por hablar por todos catalanes. "Hay quienes no son independentistas" https://t.co/d0KDR5kATE pic.twitter.com/DzSjBRqg7v

Interviram na sessão também os representantes dos pequenos partidos, que questionaram as políticas de Rajoy e pediram um novo rumo para Espanha. A única deputada que esteve do lado de Rajoy foi Ana Oramas, da Coligação Canária. Na sua intervenção, Ana Oramas disse que as Canárias "não tiveram nestes anos as políticas de que necessitavam, por isso assinámos um acordo." E desabafou "nós, infelizmente, esperamos até hoje um Governo em Espanha que se preocupe com as Canárias."

Ana Oramas deu a mão a Rajoy e votou a favor da investidura, mas, para já, não foi suficiente para que o líder do PP seja convidado a formar um governo.

E se Mariano Rajoy não conseguir o apoio necessário nas próximas 48 horas?

Segundo o Artigo 172 do regulamento do Congresso, se o candidato não conseguir recolher o apoio suficiente, o Rei vai ter de voltar a ouvir os partidos. Se em dois meses a contar a partir de hoje nenhum candidato reunir o apoio suficiente, a Presidente da Câmara dos Deputados, Ana Pastor, vai pedir ao Rei que dissolva o Congresso e o Senado e que convoque novas eleições, previstas para 25 de Dezembro.