Nos dias seguintes a esta visita, cerca de meia dúzia de prisioneiros deixaram o estabelecimento, segundo uma mulher, cujo namorado cumpre pena naquele espaço.

A mesma fonte, que falou sob a condição de anonimato por temer represálias, acrescentou que o namorado não se voluntariou, embora tenha ponderado a oferta pois ainda tem anos de sentença por cumprir.

A Rússia continua a sofrer baixas na invasão que iniciou em finais de fevereiro na Ucrânia e, perto do sexto mês de conflito, o Kremlin (presidência russa) continua a recusar-se a anunciar uma mobilização completa, decisão que poderia afetar a popularidade do Presidente Vladimir Putin.

Para contornar as dificuldades, tem decorrido um esforço de recrutamento secreto, que inclui o uso de prisioneiros para compensar a escassez de mão-de-obra.

Esta opção surge numa altura em que centenas de soldados russos se têm recusado a lutar e tentam sair das Forças Armadas.

“Estamos a assistir a um grande fluxo de pessoas que querem deixar a zona de guerra, aqueles que estão a servir há muito tempo e os que assinaram um contrato recentemente”, explicou Alexei Tabalov, advogado que dirige um grupo de apoio jurídico da Escola de Recrutas.

Este grupo tem registado pedidos de homens que querem rescindir os contratos e o Ministério da Defesa está a procurar “bem fundo” para encontrar os que pode persuadir a servirem no Exército, acrescentou à AP.

Embora o Ministério da Defesa negue “qualquer atividade de mobilização”, os esforços estão visíveis em cartazes publicitários ou anúncios nos transportes públicos em várias regiões.

As administrações regionais estão a formar “batalhões de voluntários”, promovidos pela televisão estatal e o diário de economia Kommersant aponta pelo menos 40 destas entidades em 20 regiões, onde são prometidos salários mensais equivalentes entre 2.150 dólares e 5.500 dólares, além de bónus.

A AP assinalou ainda a existência de milhares de vagas em ‘sites’ de procura de emprego para vários especialistas militares.

Mas Moscovo não está sozinho neste ‘recrutamento’, pois desde o início da guerra que o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, prometeu amnistia aos veteranos militares presos, caso fossem para o campo de batalha.

No caso da Rússia, o recrutamento tem sido dinamizado pelo grupo militar privado Wagner.

Yevgeny Prigozhin, empresário conhecido como “chef de Putin” por causa dos seus contratos de ‘catering’ com o Kremlin, e alegadamente gerente e financiador do grupo Wagner, descartou relatos de que o próprio tinha visitado prisões para recrutar condenados, num comunicado por escrito divulgado este mês.

O fundador do grupo de direitos dos prisioneiros Gulagu.net, Vladimir Osechkin, referiu à AP que os prisioneiros com experiência militar ou policial foram inicialmente recrutados para irem para a Ucrânia, mas mais tarde a proposta foi estendida a prisioneiros com origens variadas, estimando que até final de julho, cerca de 1.500 candidatos podem ter-se alistado, atraídos por promessas de grandes salários e eventuais indultos.

Agora, acrescentou, muitos destes voluntários, ou as suas famílias, estão a entrar em contacto com a organização para tentar livrar-se dos seus compromissos.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 12 milhões de pessoas de suas casas — mais de seis milhões de deslocados internos e mais de seis milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Também segundo as Nações Unidas, cerca de 16 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.

A invasão russa — justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que está a responder com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca à energia e ao desporto.

A ONU confirmou que 5.401 civis morreram e 7.466 ficaram feridos na guerra, que hoje entrou no seu 169.º dia, sublinhando que os números reais serão muito superiores e só poderão conhecidos quando houver acesso a zonas cercadas ou sob intensos combates.

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