Estávamos a chegar à primeira hora da madrugada quando o Governo português anunciou o que parecia já ser inevitável: estado de alerta declarado, medidas para prevenir a propagação da pandemia anunciadas (que, para além do encerramento das escolas antes revelado, inclui ainda o reforço do Sistema Nacional de Saúde com mais profissionais, o apoio às empresas que terão trabalhadores em isolamento ou o encerramento de discotecas e limitação de entradas em supermercados e centros comerciais).

Repitam comigo: isto não é uma simulação.

Ao longo do dia, a Direção-Geral de Saúde confirmou que o número de infetados em Portugal subiu para 112 (mais 34 do que no dia anterior), Rui Moreira (presidente da Câmara Municipal do Porto) anunciou que iria pedir ventiladores à China, a Bulgária declarou estado de emergência durante um mês, a República Checa anunciou que ia encerrar fronteiras a partir de 2.ª feira (a Polónia e a Dinamarca fecham-nas já este sábado) e o Governo espanhol declarou estado de alerta para conter uma epidemia que já infetou mais de 4 mil pessoas e matou 120 no país. Tudo isto no dia em que a Organização Mundial de Saúde declarou que a Europa é agora o epicentro da pandemia.

Repitam comigo: isto não é uma simulação.

Em Itália, nas últimas 24 horas, mais de 250 pessoas morreram devido ao Covid-19 (o número de mortes decorrentes da pandemia já supera as 1.200 pessoas). Desde o final de fevereiro, altura em que o surto foi detetado no país, o número de infetados ascende já a 17.660 pessoas, incluindo doentes, falecidos e recuperados.

Nos EUA, 40 mortes e 1.701 casos de infetados depois, Donald Trump declarou o estado de emergência no país, numa altura em que surgem notícias de que o mesmo pode estar descontrolado naquela que, para muitos, é a principal e mais influente nação do globo. Isto no dia em que uma notícia do New York Times dá conta de que estudos feitos pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças estimam que, num dos cenários projetados, os EUA podem ver entre 160 e 214 milhões de pessoas serem infetadas pelo novo coronavírus nos próximos meses o que originaria entre 200 mil e 1,7 milhões de mortes - isto num cenário em que não foram tidos em conta os esforços já desenvolvidos para conter a pandemia.

Repitam comigo: isto não é uma simulação.

Este será, nas próximas semanas e meses, o “novo normal”. Não é uma simulação. É a vida a que temos de nos adaptar, é o mundo onde vamos ter de reaprender a viver. O que estamos a viver são tempos “extraordinários”, no mau sentido da palavra. Por isso, mais do que nunca, a prevenção e o civismo como encaramos os próximos tempos serão decisivos para impedir que aquilo que o vírus já destruiu possa, aos poucos e poucos, voltar a tomar forma.

Este “novo normal”, contudo, também pode ter boas notícias. Como o anúncio de que, em Macau, o regresso às aulas está para breve. Como a notícia de que as crianças, apesar de tudo, são menos afetadas pelo novo coronavírus que os adultos (apesar de ainda não sabermos porquê e de poderem, mesmo assim, ser propagadoras da doença). Como a aprovação, nos EUA, de um novo teste ao Covid-19 que é 10 vezes mais rápido que o anterior, o que permitirá diagnosticar o vírus de forma mais rápida. Como o reforço de profissionais na linha SNS24, que também passará a ter chamadas gratuitas. E como a comunicação de que mais um paciente português, infetado com o novo coronavírus, já recuperou.

Repitam comigo: isto não é uma simulação. É o "novo normal".