2.
Crianças cooperantes
O sonho impossível? Porque não conseguem simplesmente FAZER o que lhes dizemos para FAZER?
Não podemos passar o dia todo a falar de sentimentos. Às vezes, precisamos que as crianças façam coisas que estão profundamente desinteressadas em fazer.
Quantas crianças se preocupam em não chegar atrasadas, lavar as mãos, manter os seus quartos arrumados, ou trocar de roupa interior?
Parece que a forma mais eficiente de levar as crianças a fazer as coisas seria dizer-lhes diretamente:
«Larga o gato, veste o casaco. Não, não é mais tarde, AGORA!»
O problema é que ser o recetor de ordens pode suscitar profundos sentimentos de irritação e desobediência.
Imagine que chega a casa do trabalho e que o seu cônjuge lhe diz, «Oh, ainda bem que chegaste. Nã, Nã, não toques no computador. Pendura, por favor, o teu casaco, lava as mãos e vem pôr a mesa. Eu disse-te que podias ver o correio? Pousa isso, agora. Despacha-te, o jantar está quase pronto. Ouviste-me? Eu disse agora!»
Sentiu o impulso de virar costas e sair porta fora? Afinal, hoje é aquela terça-feira em que há uma promoção na pizaria.
Quando damos ordens às crianças (mesmo quando o fazemos educadamente adicionando-lhe um «por favor»), estamos a trabalhar contra nós mesmos. As ordens e os seus familiares próximos – as ameaças, as acusações e os avisos – não inspiram sentimentos de cooperação. E inspirar as crianças a sentirem‐se cooperantes é mais de metade da batalha ganha.
Observemos algumas das típicas estratégias ineficazes que nós, adultos, usamos para conseguir que as crianças façam coisas. E depois, para não os deixarmos pendurados, apresentaremos também os antídotos – alternativas que têm mais probabilidades de resultar numa criança cooperativa!
Estratégia Ineficaz: Ameaças
Em vez disso, PONHA A CRIANÇA COMO RESPONSÁVEL.
Quando nos encontramos perante uma árdua batalha, torna-se mais útil arrefecer os ânimos do que nos prepararmos para a guerra. Uma ameaça é frequentemente percebida como um desafio que só consegue endurecer a determinação de uma criança cheia de energia. Em vez de tentar obter mais controlo, procure partilhar o poder. Poderá ficar agradavelmente surpreendido!
Estratégia Ineficaz: Avisos
Em vez disso, DESCREVA O PROBLEMA.
Quando avisamos as crianças acerca de um desastre que está prestes a acontecer, estamos a transmitir a mensagem de que não confiamos nelas, de que não agem responsavelmente, de que não podem confiar nelas próprias para perceberem o que fazer ou como se comportarem. Os avisos (e as ordens que os acompanham) removem um sentido de responsabilidade pessoal.
Quando descrevemos o problema, fazemos o oposto. Convidamos a criança a fazer parte da solução. Damos-lhes uma oportunidade para que digam a si mesmas o que fazer.
Se elas não apresentarem uma solução, DIGA‐LHES O QUE PODEM FAZER EM VEZ DE O QUE NÃO PODEM FAZER.
Quando as crianças estão a dar connosco em doidos, naturalmente, focamo-nos naquilo que não queremos que elas façam. Mas as crianças não conseguem simplesmente «não fazer»! É muito mais fácil redirecionar a energia de uma criança do que detê-la subitamente.
Estratégia Ineficaz: Sarcasmo
Em vez disso, ESCREVA UM BILHETE.
Já todos passámos por isto: repetir uma instrução e ser ignorado vezes sem conta até darmos em loucos. E, depois, irrompemos em frustração e acabamos por dizer qualquer coisa realmente maldosa e inútil. Precisamos de um antídoto. E que tal escrever um bilhete?
A palavra escrita tem muitas vantagens. Primeiro, depois de expressar a sua irritação no primeiro esboço, pode reescrevê-lo e tornar o bilhete mais simpático. Segundo, serve como lembrete ao seu filho sem ter de o repetir você mesmo. Terceiro, como disse uma criança: «Os bilhetes não gritam.» Quarto, há qualquer coisa nas palavras escritas, uma qualidade mágica à qual até as crianças mais pequenas, que ainda não sabem ler, acham graça.
Estratégia Ineficaz: Culpar e Acusar
Em vez disso, DÊ INFORMAÇÃO.
O que é óbvio para nós nem sempre é óbvio para uma criança. Quando damos informação em vez de disparar acusações, estamos a tratar a criança com respeito. Partimos do princípio de que se ela tiver acesso a um conhecimento adequado, irá agir de modo responsável.
Ajuda se pensarmos na forma como falaríamos com um adulto. Seria insultuoso dar -lhe uma ordem direta: «Ei, para de bater com o garfo na minha mesa! Estás a marcar a madeira com os dentes do garfo!» Naturalmente, tentaremos encontrar uma forma de transmitir essa informação: «Esta mesa é feita de uma madeira delicada. Até uma ligeira batida com o dente de um garfo poderá marcá-la.» Permitimos que os adultos digam a si mesmos o que fazer.
Estratégia Ineficaz: Perguntas Retóricas
Em vez disso, DESCREVA O QUE VÊ.
Quando estamos exasperados, poderá ser difícil resistir à tentação de fazer perguntas retóricas. O problema é que as crianças mais novas não as entendem, e as mais crescidas sentem-se ofendidas.
Quando nos limitamos a descrever o que vemos, evitamos a crítica implícita e pomos o foco onde ele é necessário.
Comentários