Na manhã de quarta-feira, a bandeira ucraniana foi hasteada em frente à câmara municipal, completamente destruída pelos bombardeamentos, na presença do presidente Volodymyr Zelensky.
O governante prometeu "vitória" ao seu povo na sua primeira visita à região de Kharkiv desde a libertação desta área este mês, quase completamente recuperada pelas suas forças em apenas 15 dias.
Um pouco depois da visita do presidente, dezenas de moradores, em sua maioria idosos, reuniram-se naquela mesma praça no centro de Izyum. Em vez de ver Zelensky, cuja visita não tinha sido anunciada com antecedência, queriam ver o autarca da cidade, Valeri Marchenko, para apresentar reivindicações, como o restabelecimento dos serviços e auxílios.
Marchenko, porém, não apareceu. O tom aumentou na praça pública. Deveriam eles ter aceitado a ajuda dos russos durante a ocupação? As opiniões divergem, e aqueles que aceitaram a ajuda humanitária russa foram visados.
"Queriam que eu morresse, é isso?", defendeu-se Svitlana Ficher, de 55 anos, que aceitou ajuda russa.
"Ela quer ser alimentada pelos russos", diz um homem. "Vendeste a Ucrânia por comida", grita outra mulher.
Uma mulher intervém para defender Svitlana, assediada pela multidão. "E o que é que vocês comeram durante todo este tempo?", pergunta. "Comemos os produtos da nossa própria terra", respondeu um homem.
Svitlana Ficher disse à AFP que foi dizer à praça central para dizer a Marchenko que ele é "um idiota, um mentiroso. Salvou a sua pele e deixou as pessoas para trás", acusando-o de deixar a cidade antes da chegada dos russos.
"Não tínhamos informações sobre as evacuações, eu não consegui sair. E agora sou uma traidora porque sobrevivi graças às rações russas?", indigna-se.
As conversas também giraram em torno dos responsáveis pela destruição da cidade, apanhada no meio dos combates.
Os russos ou os ucranianos? As opiniões divergem sobre isso também. Alguns dizem que os moradores também participaram na destruição.
"Estas disputas são o problema da democracia. Com os russos isto não aconteceria", reclamou um homem que entrou brevemente na discussão antes de fugir.
No leste da Ucrânia, a maioria dos habitantes fala russo e alguns são pró-Moscovo. Cerca de 47.000 pessoas viviam em Izyum antes da guerra, mas menos de metade terá permanecido, de acordo com uma fonte local.
Muitos habitantes pró-russos permaneceram em Izyum durante a ocupação, entre abril e 10 de setembro. Alguns, porém, partiram antes da chegada das forças ucranianas, especialmente os mais envolvidos em colaborar com a ocupação russa, contou à AFP um soldado ucraniano que pediu anonimato.
Taisiya Litovka, uma enfermeira de 46 anos, prefere ficar fora das disputas. "Estávamos perdidos (...) mas estamos no céu há quatro dias", declara, referindo-se à ocupação russa.
Litovka espera agora que as comunicações sejam restabelecidas para que possa ligar para aos seus filhos no oeste da Ucrânia.
Um pouco mais longe, um homem carrega uma bandeira ucraniana às costas. Gueorgui Jykidzé, de 60 anos, é da Geórgia e é casado com uma ucraniana de Izyum.
"Saímos (da Geórgia) porque houve uma guerra na Geórgia, mas a guerra seguiu-nos. Temos um inimigo comum na Ucrânia e na Geórgia, que é a Rússia", ressalvou.
Na cidade, soldados ucranianos patrulham as ruas desde o último domingo. Dois tanques a transportar soldados de infantaria passam pelo centro. Os habitantes estão a voltar lentamente para a cidade.
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