Reunidos no Teatro Micaelense, em Ponta Delgada, na passada semana, 500 cientistas de 31 países refletiram sobre os progressos feitos na observação e conhecimento do planeta Terra, devido à utilização de satélites, e sobre como aumentarem a qualidade e a precisão dos dados recolhidos.
Com a organização das Agências Espaciais Europeia (ESA) e Francesa (CNES), em análise estiveram questões relacionadas com o estudo dos oceanos, da criosfera e dos processos de costa e terrestres.
O simpósio “25 anos de progresso em Altimetria de Radar” centrou-se na evolução conseguida pela altimetria de radar, que é um elemento chave para os Sistemas de Observação da Terra. Na base, está a necessidade de monitorização contínua e rigorosa do planeta, como forma de se conhecerem as alterações climáticas que se têm registado.
O simpósio reuniu os cientistas em torno dos dados recolhidos, que evidenciam uma aceleração da subida do nível médio das águas do mar, para cerca de cinco milímetros anuais, nos últimos cinco anos.
Em entrevista à Lusa, Jérôme Benveniste, oceanógrafo, conselheiro da ESA para o Departamento de Observação da Terra, explicou que o trabalho que a agência intergovernamental desenvolve precisa de se articular com o de outras agências e organismos, e que a cooperação internacional é fundamental, “porque o planeta é tão vasto que só um grupo de investigação, um país ou até mesmo um continente não conseguem monitorizar a saúde do planeta”.
Esta foi uma das questões centrais discutidas na reunião científica: “É também sobre como nos organizamos para trabalharmos em conjunto através da cooperação internacional, de organismos internacionais, desde as Nações Unidas, ao World Climate Research Program, o Climate Viability Program, a iniciativa da Agência Espacial Europeia para as Alterações climáticas, que olha para o clima globalmente… Os americanos também têm um programa de análise às alterações climáticas. Gostávamos também de ter maior participação da Índia e da China. Portanto, a cooperação internacional é a palavra-chave para se poder monitorizar a saúde do nosso planeta”, referiu.
Sobre o tema que pautou o encontro, o oceanógrafo sublinhou que, “se esta subida acelerada continuar, muitas das cidades costeiras estarão em risco”, e apontou a Holanda como exemplo de um país que seria bastante afetado pelo fenómeno.
É por isso que considera essencial “fornecer estes dados aos políticos, para que tomem consciência de que a situação está a mudar e a mudança está a acelerar”.
“Há coisas a fazer no âmbito do Acordo de Paris, do acordo COP 21, de modo a reduzirmos as emissões de gases com efeito de estufa, porque sabemos que estes têm um forte contributo para o efeito de estufa, o qual é um dos componentes do aquecimento global”.
Em relação ao impacto que este fenómeno terá nos Açores, o especialista esclareceu que o problema não é tanto o da subida das águas, mas o aumento da temperatura que motiva essa subida.
“Se se viver no cimo de um vulcão, a uma altitude elevada, a subida do nível das águas do mar não tem muita importância", por si só, referiu.
Porém, "há mais energia no sistema terra, há mais calor, devido à subida da temperatura, o que é um dos fatores para a subida do nível das águas. A água, como todos os materiais, expande-se com o calor”, afirmou, explicando que “quanto mais calor houver, mais combustível haverá para furacões”.
O cientista salienta que nas últimas semanas houve cinco ou seis sistemas de furacões em todo o planeta, desde a Ásia até à América e aos Açores, um facto que evidencia a importância de monitorizar o que se passa: “para que possamos compreender e, claro, para que vejamos se podemos fazer alguma coisa, para não sermos os humanos responsáveis por esta mudança climática, que foi muito abrupta comparada com todas as mudanças climáticas que houve no passado”.
Comentários