Em vésperas do Dia do Trabalhador, Portugal prepara-se para retomar aquilo que nesta altura se vai assemelhar mais a alguma normalidade: reabrir, devagarinho, alguns espaços, permitir algumas coisas.
Não se pense, porém, que já passou. Está longe de passar, lembrou hoje o primeiro-ministro, António Costa, quer quando apresentou as medidas de desconfinamento progressivo, quer na entrevista que deu esta noite à RTP.
4 de maio marca as primeiras reaberturas, mas até lá, ainda há uma proibição de sair do concelho de residência pelo meio — nos dias 1, 2 e 3 de maio.
As medidas são várias e ocorrem em três grandes fases; separadas por quinzenas de avaliação. Durante o próximo mês, reabrem creches e dois anos do ensino secundário; regressam as missas e o futebol; abrem os cafés e os restaurantes; abrem os cinemas e os museus.
Para tal, os portugueses vão ter de se habituar a novas rotinas — a mais evidente delas será a máscara, obrigatória em praticamente todo o lado.
Mas atenção: "É muito importante que se usem as máscaras [comunitárias] que têm certificação e que são fiscalizadas pela ASAE. A máscara tem de ter uma capacidade de filtração", sublinhou hoje Graça Freitas, reforçando que "houve um grande esforço para que estas máscaras sejam fabricadas com boas práticas, de acordo com muitos parâmetros que as empresas têm que cumprir".
“Se e quando usarem uma máscara, as pessoas devem ter muita disciplina para não levar as mãos à cara. A tendência natural de mexer na máscara acaba por lhe tirar a eficácia, porque o vírus passa para as mãos e das mãos para as superfícies”, alertou a diretora-geral da Saúde na conferência de imprensa.
A diretora-geral apelou para que se atente à etiqueta das máscara, dizendo que é preciso verificar se esta "é de uso único ou se pode ser reutilizada e como".
Graça Freitas adiantou ainda que nos próximos dias vai ser lançada uma campanha "para dizer às pessoas como devem ser colocadas e retiradas e, enquanto colocadas, o que fazer", uma ação que considera necessária para haja "muita disciplina" num país que "não tem tradição" no uso de máscara.
Serão dias novos, a juntar aos novos dias que tem o mundo andado a ver. Um tempo novo, faz do mundo um outro lugar, com maneiras diferentes de ocorrer. O amor, que é do mundo — o velho e o novo —, ganha também novas formas de surgir.
É o caso da Joana e do Luís, que encontraram, numa janela digital, um mundo comum — uma história de amor para estes dias, encontrada numa caixa de comentários de um direto numa rede social. O relato é da Margarida Alpuim.
Apesar do amor — que ainda vai sendo das poucas coisas de incerteza certa que vai havendo —, o mundo não é um lugar sempre belo. Por ventura as imagens duma Lisboa atascada na ausência, feita bicho mortiço de bossas cravejadas das lapas que são as casas, julga o resto do país especado também, à espera da saúde.
Mas não é assim, como lembrou hoje o primeiro-ministro. Fora dos centros das cidades, o país continua na labuta. Vai abrandado, é certo, mas mantém as rodas encarriladas.
E se o país não para, os crimes dele também não. O texto é do Tomás Albino Gomes: O número de denúncias de crimes ambientais diminuiu, mas não no que toca à contaminação de linhas de água. Desde que foi decretado o estado de emergência que se registaram vários casos de descargas ilegais em rios e ribeiras — com o caso mais grave a ser assinalado no rio Lena, no distrito de Leiria.
Naquele que é um retrato pouco animador de um mês, salva-se a fotografia que regista a presença de lontras ao rio Este, em Braga. Um sinal de esperança numa história em que o capital se sobrepõe ao respeito pelo ambiente.
Mas há mais, que o país unido aos arco íris não arranja maneira de esconder os problemas sociais que persistem (e agora se agravam).
A história é da Alexandra Antunes: Em Monforte, a invasão do quartel dos bombeiros por um grupo de cidadãos de etnia cigana foi a gota de água que fez a autarquia avançar para medidas de reforço da segurança em que se inclui um sistema de vigilância. O objetivo, diz o presidente da Câmara, é “promover a harmonia, sem conflito e sem questões de discriminação”.
São três temas que podem ocupar parte dos próximos três dias (quem os tiver com espaços por ocupar).
Deixo mais umas poucas: estreou hoje, na RTP, a série feita com a história do elogiado “A Herdade”, com os seus laivos de trama queirosiana (das formações e influências de que nasce um homem) nos anos 1970.
Para ouvir: amanhã à tarde, Gisela João e Samuel Úria. A fadista de Barcelos é a convidada desta sexta-feira da nova rubrica do SAPO24, que tem o cantautor como mestre de cerimónias. Será mais uma das “Conversas de roupão com Samuel Úria, no Instagram do SAPO24, pelas 16h.
Para ler: o primeiro capítulo de “Noughts & Crosses”, o primeiro livro de uma série cuja ação decorre numa sociedade distópica. Descreve uma história alternativa em que os povos africanos ganharam grandes avanços tecnológicos e organizacionais sobre os europeus, tornando-os seus escravos.
Termino regressando à pandemia: Reunimos neste guia as principais medidas anunciadas e os links onde poderá encontrar mais informação útil para empresas e trabalhadores num país à beira de sair do estado de emergência (dia 3 entramos no estado de calamidade).
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