“Uma coisa é clara: qualquer solução passará forçosamente pela Europa. Qualquer que seja a solução, terá de passar pela Europa”, declarou, numa conferência de imprensa conjunta com o Presidente francês, Emmanuel Macron, no Palácio de Eliseu, quando questionada sobre a exclusão da União Europeia das conversações que a Rússia vai manter com os Estados Unidos sobre a Ucrânia.

A responsável encontra-se em Paris no quadro da tradicional visita do colégio da Comissão à capital que assume a liderança semestral rotativa da UE.

Von der Leyen sublinhou que “a UE está muito presente no que diz respeito por exemplo ao enorme apoio à Ucrânia”, lembrando que ainda em outubro passado a União se comprometeu numa cimeira em Kiev com um apoio de seis mil milhões de euros e que o bloco tem defendido a segurança energética da Ucrânia, assim como sancionado a Rússia “pelas suas agressões”.

“Tudo isto são factos naquele teatro. E temos o formato da Normandia, com a França e a Alemanha. E, claro, os países europeus formam a maioria da NATO e a NATO é crucial neste diálogo”, reforçou, para argumentar por que razão a UE não pode ser excluída de uma solução que venha a ser acordada para pôr fim à tensão entre a Ucrânia e a Rússia.

Apontando que é muito importante “refletir sobre a ideia da arquitetura da segurança europeia” que o bloco vai desenvolver nos próximos meses, com vista a uma maior autonomia estratégica da Europa, Von der Leyen, assumiu hoje no Eliseu a sua satisfação por a presidência do Conselho da União Europeia ser assumida neste “momento tão delicado” por um país “com o poder político e experiência da França”.

“Estou feliz por um país com o poder político e experiência da França assumir a presidência do Conselho num momento tão delicado, porque a voz da França faz-se ouvir bem alto e de forma clara, e a França tem a Europa no coração”, declarou Ursula von der Leyen.

Já o Presidente francês começou por dizer que, na sua opinião, “é algo de bom que haja conversações entre a Rússia e os Estados Unidos, sobre as tensões em torno da situação ucraniana, e mesmo num quadro mais geral”.

“Por isso, congratulo-me e penso que essas discussões são importantes. E constato e saúdo também o facto de a cooperação entre a Europa e os Estados Unidos ser exemplar nesta matéria”, acrescentou.

Defendendo igualmente a importância de a Europa assumir as suas responsabilidades enquanto “potência geopolítica” e desenvolver uma nova arquitetura de segurança — matéria que estará em foco numa cimeira informal de chefes de Estado e de Governo da UE prevista para março em França -, Emmanuel Macron insistiu na necessidade de manter o diálogo com Moscovo.

“Tive duas conferências telefónicas muito longas com o Presidente [Vladimir] Putin nas últimas semanas e voltarei a ter nos próximos dias. Penso que a UE deve dialogar com a Rússia. Dialogar não é conceder, dialogar é poder fazer um ponto da situação sobre os desacordos e procurar pontes. Temos sanções que existem, são mantidas, mas precisamos de um diálogo com a Rússia, que é um ator incontornável para essa arquitetura de segurança europeia que devemos debater”, prosseguiu.

“Continuo a defender esse diálogo franco, exigente e coordenado, porque nem todos os Estados-membros da UE têm a mesma história face à Rússia, nem a mesma geografia”, acrescentou, apontando que, por essa razão, efetuou “várias deslocações bilaterais para compreender as suas preocupações e integrá-las” na futura estratégia europeia de Defesa.

Hoje mesmo, os chefes da diplomacia da NATO participam numa reunião extraordinária, em formato virtual, para discutir o reforço militar da Rússia na Ucrânia e junto da fronteira ucraniana, bem como “questões mais amplas da segurança europeia”.

Este encontro extraordinário antecede uma semana que será marcada por um conjunto de importantes reuniões no âmbito da tensão militar observada entre a Rússia e a Ucrânia e do clima de preocupações ocidentais em relação às manobras de Moscovo, com destaque para o encontro da próxima segunda-feira, em Genebra (Suíça), entre os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da Rússia, Vladimir Putin.