Está a ser um fim de semana tudo menos fácil para Ana Mendes Godinho, Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social. No centro da questão está o surto de covid-19 num lar em Reguengos de Monsaraz e uma entrevista ao Expresso onde terá dado respostas que "desvalorizam" a situação. Contudo, antes de se aprofundar quem disse o quê, pois são várias as opiniões relativamente às declarações da ministra, uma mini cronologia dos acontecidos sobre o tema:
- 18 de junho. Um surto tem origem no lar da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, em Reguengos de Monsaraz, no distrito de Évora.
- 24 de julho. Morre a 16.ª vítima mortal entre os utentes do lar. No entanto, registou-se ainda uma morte entre os funcionários da instituição e outra na comunidade. Assim, no total, faleceram 18 pessoas.
- 6 de agosto. Uma auditoria da Ordem dos Médicos conclui que o lar não cumpria as orientações da Direção-Geral da Saúde e aponta responsabilidades à administração.
- 7 de agosto. O Ministério Público instaurou um inquérito sobre o surto.
- 11 de agosto. A direção do lar garante ter feito "tudo" ao seu "alcance" para "salvar vidas", nesta "crise" com "contornos dramáticos".
Sábado, 15 de agosto
Na entrevista que teve destaque na capa do semanário, a governante frisou que existem poucos funcionários, embora esteja em marcha um plano para fazer face à necessidade. Na visão de Ana Mendes Godinho, o seu papel à frente do Ministério passa por apoiar e não por procurar culpados. Todavia, ao considerar "que a dimensão dos surtos nos lares não é demasiado grande em termos de proporção" e ao admitir que não leu o relatório da Ordem dos Médicos sobre a situação do lar da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, o tema ganhou tração ao longo do dia.
Numa reação à entrevista, o CDS-PP considera que a reação da governante desvaloriza o impacto da pandemia de covid-19 nos lares. Para o líder democrata-cristão, Francisco Rodrigues dos Santos, as declarações da ministra, além de "exporem a sua total inabilidade para o cargo e espelharem uma negligência arrepiante", parecem "retiradas de um filme de terror". O Chega juntou-se às críticas e, em uníssono, pediram mesmo a sua demissão. Já o PSD avisa que vai chamar as ministras da Segurança Social e da Saúde ao Parlamento por causa do surto.
Porém, o dia iria terminar com um desmentido. E, às redações, chegou uma nota informativa do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, onde é garantido que a citação da ministra Ana Mendes Godinho ("dimensão dos surtos nos lares não é demasiado grande") que o Expresso utilizou como título foi "descontextualizada de forma grave". A resposta na sua totalidade, de acordo com o comunicado, foi a seguinte:
"Tivemos 365 surtos [em abril] e temos 69 agora! Claramente, temos menos incidência. Temos 3% do total dos lares e temos 0,5% das pessoas internadas em lares que estão afectadas pela doença! A dimensão não é demasiado grande em termos de proporção. Mas, claro, que isto não significa que não devamos estar preocupados e mobilizados para reforçar a guarda."
Ora, a subversão do contexto da frase que fez o título da peça é, segundo a nota, um "acto grave e que, como tal, deve ser desmentido". Isto porque a citação dá a entender que o Governo não está a dar importância ao assunto, o que o ministério refuta.
Em resposta, o Expresso não só não desmentiu conforme era pretendido pelo Ministério, como até revelou o áudio da entrevista. E, em jeito de "Direito de Resposta" ao comunicado da sua própria entrevista, enfatiza que "repudia" a acusação de que é alvo. Mais, salienta que "a ministra não só não considera graves as mortes nos lares como as relativiza". Pode ler e ouvir a resposta do semanário aqui.
Domingo, 16 de agosto
O tema é complexo e continuou este domingo. À TSF, o bastonário da Ordem dos Médicos, é da opinião de que a entrevista revela uma "enorme insensibilidade" por não ter lido o relatório sobre o lar. "É no mínimo estranho e de uma enorme insensibilidade a ministra não ter perdido 15 ou 20 minutos para ler a auditoria que a Ordem dos Médicos fez. Competia-lhe ler o documento", afirmou Miguel Guimarães.
Depois do Bastonário, o PSD voltou à carga. Em comunicado, o partido social-democrata fala numa "teia de relações partidárias que se estabelece com a Administração Regional de Saúde e o Centro Distrital da Segurança Social". "A ocupação generalizada das estruturas da administração local e regional por parte do Partido Socialista é uma prática que atinge no Alentejo uma dimensão insuportável", sublinha ainda o partido.
Por agora, estas são as principais reações e o resumo da situação. Mas não será credível esperar que o tema se esgote neste fim de semana.
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