Segundo a Agência Reuters, Guaidó, de 35 anos, disse que estaria disposto a assumir a presidência do país temporariamente com o apoio das forças armadas para poder marcar eleições.
"Levantemos a mão, hoje 23 de janeiro, na minha condição de presidente da Assembleia Nacional e perante Deus todo-poderoso e a Constituição, juro assumir as competências do executivo nacional, como Presidente Encarregado da Venezuela, para conseguir o fim da usurpação (da Presidência da República), um governo de transição e eleições livres", disse, perante uma multidão de seguidores.
Juan Guaidó começou por fazer referência a vários artigos da Carta Magna venezuelana e fez os manifestantes jurarem comprometer-se em "restabelecer a Constituição da Venezuela".
"Hoje, dou um passo com vocês, entendo que estamos numa ditadura", disse vincando saber que a sua autoproclamação "terá consequências".
Por outro lado, dirigiu-se ao Presidente Nicolás Maduro, sublinhando que "aos que estão a usurpar o poder, digo, com o grito de toda a Venezuela: vamos insistir até que regresse a água e o gás, até que os nossos filhos regressem, até conseguir a liberdade".
EUA e Brasil entre os países que já reconheceram Guaidó
Donald Trump, através da conta oficial da Casa Branca no Twitter, já fez saber que reconhece Juan Guaidó enquanto Presidente interino da Venezuela. Segundo a Reuters, o presidente dos EUA estava a aguardar esta ação do líder da oposição para poder declarar oficialmente o seu apoio.
O Vice-Presidente dos EUA, Mike Pence, também utilizou esta rede social para partilhar uma nota oficial que Trump assinou de reconhecimento a Juan Guaidó. "Hoje, estou a reconhecer oficialmente o Presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Juan Guaidó, como Presidente Interino da Venezuela. No papel de único braço legítimo do governo devidamente eleito pelo povo venezuelano, a Assembleia Nacional invocou a Constituição do país para declarar Nicolás Maduro ilegítimo e, portanto, o gabinete da Presidência ficou vago", pode-se ler no comunicado.
Na mesma declaração, Trump insta outros países ocidentais a proceder ao reconhecimento de Guaidó. O Presidente dos EUA já disse considerar "todas as opções" se Maduro usar a força na Venezuela.
Também Jair Bolsonaro, chefe de estado brasileiro, procedeu ao reconhecimento oficial de Juan Guaidó. Bolsonaro, inclusive, partilhou no Twitter uma mensagem de apoio ao autoproclamado presidente interino.
A ministra dos Negócios Estrangeiros do Canadá, Chrystia Freeland, por sua vez, afirmou que o seu país "apoia a Presidência interina da Venezuela, assumida pelo presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó".
Os Presidentes da Argentina, do Chile, da Colômbia, do Perú, do Paraguai e da Guatemala também já fizeram o reconhecimento oficial.
Luís Almagro, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, também já reconheceu Guaidó e usou o Twitter para saudá-lo, partilhando um vídeo onde se regista a sua proclamação.
Já em sentido inverso, o México fez saber que mantém o reconhecimento a Nicolás Maduro.
Supremo Tribunal pede investigação
Hoje o dia começou com o Supremo Tribunal da Venezuela a ordenar ao Ministério Público que investigasse criminalmente os deputados integrantes do Parlamento, de maioria opositora, acusando-os de usurpar as funções do presidente Nicolás Maduro.
"Exorta-se ao Ministério Público, ante a objetiva materialização de condutas constitutivas de tipos delitivos (...), para que de forma imediata proceda a determinar as responsabilidades dos integrantes da Assembleia Nacional", destacou o Supremo Tribunal numa declaração lida à imprensa.
O TSJ considera que as recentes declarações do Parlamento, que declarou Maduro em usurpação do cargo de presidente a 15 de janeiro, considerando-o ilegítimo, e aprovou uma amnistia aos militares que cooperarem com o governo de transição, constituem um "ato de força que pretende derrubar a Constituição".
Para ser julgados, os deputados precisam de perder a sua imunidade, um processo que requer a aprovação do Parlamento, que na prática foi substituído por uma Assembleia Constituinte completamente pró-governo. A sala penal do Supremo ratificou a "inconstitucionalidade das ações do Poder Legislativo", cujas decisões tem anulado sistematicamente desde 2016, quando o declarou em desacato.
Após autoproclamar-se presidente interino, Guaidó taxou os juízes do Supremo de dirigentes do partido do governo "disfarçados de magistrados".
A onda de protestos
A declaração de Guaidó foi feita num dia em que centenas de milhares saíram à rua para se manifestar contra o governo de Nicolás Maduro. Na zona este de Caracas podiam-se ouvir gritos de ordem como "Fora Maduro" ou "Guaidó, Presidente" enquanto eram envergadas bandeiras nacionais. A polícia já recorreu a gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes em algumas zonas.
Por outro lado, dezenas de milhares de seguidores de Maduro também marcham nesta quarta-feira em Caracas e outras cidades do país para defender o segundo governo do líder socialista e rejeitar o que consideram um golpe de Estado em curso.
A Polícia antimotim já enfrentou hoje manifestantes num setor na zona este de Caracas. Os distúrbios ocorreram quando dezenas de opositores bloquearam a concorrida avenida Francisco de Miranda, na localidade de Altamira, e membros da Guarda Nacional tentaram desobstruí-la, disparando balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. Outros relatos dão conta de uma situação idêntica ocorrida numa auto-estrada.
Alguns protestos originaram situações violentas na noite de terça para quarta-feira, sendo que o Observatório Venezuelano de Conflituosidade Social já registou quatro mortes, uma delas de um jovem de 16 anos, que faleceu em Caracas devido a "um ferimento por arma de fogo, durante uma manifestação".
Face à ameaça dos conflitos recrudescerem, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, diz que a prioridade de Portugal é garantir a segurança dos portugueses no território.
Segundo o OVCS, os protestos contra o novo mandato do Presidente Nicolás Maduro multiplicaram-se durante a última noite, passando de 30 na noite de segunda-feira para 63, na noite de terça-feira, na grande Caracas (capital e os vizinhos Estados de Miranda e Arágua).
Na localidade de San Félix, neste Estado, a população incendiou uma estátua do antigo Presidente socialista Hugo Chávez (presidiu o país entre 1999 e 2013) da qual cortou o busto que foi pendurado na ponte da Av. Guayana.
A Venezuela enfrenta uma grave crise política e económica que levou 2,3 milhões de pessoas a fugir do país desde 2015, segundo dados da ONU.
Esta crise num país outrora rico, graças às suas reservas de petróleo, está a provocar carências alimentares e de medicamentos. De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a inflação deverá atingir 10.000.000% em 2019.
Os ânimos na Venezuela voltaram a exaltar-se depois de Nicolás Maduro, considerado o grande responsável pelo estado de carestia no país, ter tomado posse num novo mandato a 10 de janeiro, resultante de um processo eleitoral boicotado por muitos cidadãos e que os observadores internacionais vaticinaram de fraudulento.
Maduro acusa Guaidó de tentar conduzir um golpe de estado no país, tendo ameaçado prender o líder da oposição. Este chegou mesmo a ser detido no passado dia 13 de janeiro pelo serviço de Inteligência da Venezuela quando ia a caminho de um comício, mas foi libertado poucas horas depois. Os agentes responsáveis pela detenção foram afastados.
No seguimento deste episódio, Guiadó atribuiu-o ao "desespero" do Governo de Maduro, sublinhando que há uma rutura de comando nas forças de segurança. Já o presidente apelidou o caso de "espetáculo mediático", atribuindo-o a um acordo entre opositores e agentes de Inteligência corruptos para atacar o governo.
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