A oposição insistiu, no debate desta quinta-feira, que para 72% da população da Venezuela, mais de 22 milhões de pessoas, entre os principais problemas do país estão o abastecimento, a escassez de produtos e o alto custo da vida.
“Como pretendem que haja produção [nacional] quando pagam ao produtor 96 bolívares [0,13 euros] pelo quilograma de milho e pagam 278 [0,38 euros] pelo milho importado dos Estados Unidos?”, questionou o deputado Carlos Paparoni.
Por outro lado, denunciou que os Comités Locais de Abastecimento e Produção (Clap), criados pelo Governo venezuelano, distribuem apenas 2% dos produtos.
“Trata-se de uma bolsa que está desenhada para uma semana de comida e que é distribuída a cada mês e meio. Não ultrapassa mais de 15% dos venezuelanos e os 85% que não se beneficiam não têm como comprar comida”, disse.
O deputado Juan Guaidó exemplificou que “para comprar quatro produtos alimentares”, os venezuelanos gastam “50% do salário mínimo” local.
A deputada Maria Beatriz Martínez apresentou gráficos de dados que dão conta que pelo menos 53% da população não faz três refeições diárias.
“80% dos venezuelanos perdem peso porque a nutrição no nosso país está pelo chão (…), padecemos de uma violação de um direito fundamental humano como é a segurança alimentar”, disse.
Dignora Hernández insistiu que “para falar de fome há que padecê-la” e que “há estatísticas e testemunhas que o Governo não quer ouvir”.
“Há crianças que não podem nem sequer alimentar-se com leite materno” e existem apenas quatro bancos de leite aprovados pela Organização Mundial da Saúde no país, acrescentou.
Os socialistas, no poder, chamaram “irresponsáveis” aos deputados da oposição por falarem em desnutrição.
O deputado socialista Luís Soteldo afirmou que a Venezuela está a produzir 52% do arroz de que precisa, que em dezembro os venezuelanos terão milho produzido no país e que o Governo tem “demonstrado que sabe superar as dificuldades”.
Com os votos da oposição, o parlamento aprovou a criação de uma comissão para responder à crise alimentar. O texto da proposta aprovada exige ainda ao Governo que cumpra a Constituição em termos de segurança alimentar e que substitua o ministro da Alimentação, Rodolfo Marco Torres.
Por outro lado, pede a Nicolás Maduro que permita a entrada de ajuda humanitária alimentar no país e que divulgue os dados oficiais sobre a escassez, inflação, desnutrição e falta de abastecimento.
O texto insta também o Governo “a abandonar a perseguição a altos setores produtivos do país”.
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