Zelensky "não acredita" que a Rússia vá usar armas nucleares na guerra na Ucrânia.
"Não acho que essas armas serão usadas. Não acho que o mundo deixará isso acontecer", afirmou o chefe de Estado ucraniano, em entrevista ao canal alemão Bild TV.
Zelensky alertou ainda para o risco de se ceder perante as ameaças do líder russo: "amanhã Putin pode dizer que, tal como com a Ucrânia, quer parte da Polónia, caso contrário vai usar armas nucleares. Não podemos fazer esse tipo de compromissos".
O líder ucraniano considerou ainda que a mobilização parcial decretada por Putin se deve à baixa moral das tropas russas. "Ele precisa de um exército de milhões... e ele vê que uma grande parte dessas tropas que nos enfrenta, simplesmente foge", disse.
Putin quer "afogar a Ucrânia em sangue, e também com o sangue dos seus soldados", concluiu.
A Ucrânia já tinha reagido, pela voz de Mijailo Podolyak, conselheiro de Zelensky, que afirmou que a mobilização de reservistas anunciada hoje pela Rússia contraria todos os planos iniciais de Moscovo, que esperava que a agressão demorasse apenas três dias até a Ucrânia sucumbir.
“Estamos no dia 210 da 'guerra de três dias'. Os russos, que exigiam a destruição da Ucrânia, acabaram por ser mobilizados, por ver fronteiras encerradas, por enfrentar um bloqueio das suas contas bancárias, por ser presos por deserção”, escreveu Mijailo Podolyak numa mensagem divulgada na rede social Twitter.
“Ainda está tudo dentro dos planos, certo? A vida tem um grande sentido de humor”, salientou com ironia.
Putin dirigiu-se ao país para a anunciar uma mobilização parcial, de militares na reserva, para a guerra na Ucrânia — à qual se continua a referir como "operação militar especial".
Neste discurso à nação, em que assume que o seu principal objetivo é "libertar o Donbass", o líder russo deixou várias ameaças ao Ocidente, entre as quais a de usar todas as armas à disposição para defender o seu país.
"A Rússia deve tomar as medidas necessários para defender a sua soberania. O Ocidente quer destruir a Rússia, mas digo-lhes isto: temos muitas armas para responder, não é um bluff. A integridade territorial da nossa terra-mãe, a nossa independência e a nossa liberdade serão garantidas, repito, com todos os meios de que dispomos. Temos armas mais poderosas que a NATO e usaremos tudo o que temos à disposição”.
Nas entrelinhas está uma ameaça velada sobre o uso de armas nucleares.
Perante os avanços territoriais recentes das forças ucranianas — que Putin atribui ao armamento e às informações disponibilizadas pelo Ocidente à Ucrânia, o que na sua ótica, "ultrapassa todos os limites" —, havia na Rússia quem exigisse ao líder um pulso mais firme na condução da guerra. Agora, segundo o ministro da Defesa russo, cerca de 300 mil pessoas foram chamadas formalmente a integrar o esforço de guerra.
Face à escalada do conflito, a China — a quem a instabilidade pouco interessa, porque não é boa para os negócios — a pedir que se chegue a um cessar-fogo através de diálogo e negociações. Já os líderes europeus viram este discurso de Putin com um sinal claro de que a sua incursão militar está a falhar.
A decisão de mobilizar militares na reserva acontece um dia depois do parlamento aprovar sanções duras para soldados que desertem, que se rendam ou que se recusem a seguir ordens.
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