“Se estiverem em causa mudanças [territoriais], a única solução será convocar um referendo. Serão as pessoas que irão decidir a questão”, afirmou Zelensky, em entrevista às emissoras checa CT24, francesa France Télévision e ucraniana NSTU.

A Ucrânia "não irá aceitar qualquer ultimato da Rússia”, alertou.

Na entrevista, transmitida na segunda-feira à noite e citada hoje por diversos meios de comunicação, Zelensky considerou que um possível encontro com seu homólogo russo, Vladimir Putin, deve ser precedido de um consenso no seu país.

Uma reunião dos dois líderes, sobre a qual se especula há alguns dias, será fundamental, segundo o chefe de Estado ucraniano, para descobrir as verdadeiras intenções da Rússia e saber “do que é capaz ou o que pretende alcançar para parar esta guerra”.

Zelensky insistiu várias vezes, durante a entrevista, na necessidade de se realizar “uma reunião” entre os dois chefes de Estado para que termine o conflito na Ucrânia.

“Acredito que, sem esta reunião, é impossível entender completamente os objetivos russos”, referiu, lembrando que já pediu várias vezes ao Kremlin que aceite realizar esse encontro.

“Estou disposto a ceder o que quer que seja, mas só se o meu povo concordar. Nada se passará de outra forma. Finalmente, alcançámos a unidade e não quero, de forma alguma, uma divisão do Estado”, considerou.

“O povo terá de decidir sobre este tipo de compromissos. E esses compromissos dependem das conversas” com a Rússia, acrescentou Zelensky.

O Presidente ucraniano admitiu, no entanto, que as cicatrizes deste conflito irão perdurar, afirmando que “nem a História nem o Estado perdoarão a perda de pessoas” e nem “as gerações futuras perdoarão a perda de território”.

Uma das reivindicações de Moscovo neste conflito é o reconhecimento da sua soberania sobre a península da Crimeia, anexada desde 2014, e da autodeterminação dos territórios rebeldes de Donetsk e Lugansk.

“Acredito que as questões da Crimeia [anexada por Moscovo em 2014] e de Donbass [região no leste da Ucrânia onde separatistas pró-Rússia proclamaram duas 'repúblicas'] são histórias muito difícil para todos”, admitiu ainda o chefe do Estado ucraniano na entrevista.

“Agora, para encontrar uma solução, temos de dar um primeiro passo em direção a garantias de segurança e de cessar-fogo”, avisou, referindo estar pronto para, logo numa primeira reunião com o Presidente da Rússia, “levantar essas questões, são muito relevantes e importantes para nós”.

Na entrevista, Zelensky também se referiu à questão da adesão à NATO, dando a entender que se resignou com a ideia de não poder fazer parte da organização de defesa da Europa.

“Todos nós já entendemos que não fomos aceites [na NATO], porque eles [os Estados-membros] têm medo da Rússia. Só isso. E temos de nos acalmar e dizer: ‘Ok, [teremos de aceitar ter] outras garantias de segurança’”, disse.

“Há países da NATO que querem ser garantes da segurança [da Ucrânia]” e “estão prontos para fazer tudo o que a Aliança [Atlântica] faria se fôssemos membros da organização”, concluiu Zelensky.

Moscovo exigiu uma garantia de que a Ucrânia nunca entrará na NATO, organização criada para proteger a Europa da ameaça da URSS no início da Guerra Fria e que gradualmente se expandiu para as fronteiras da Rússia.