A cerimónia decorreu no Théâtre du Châtelet, em Paris, sendo este troféu dado por um conjunto de jornalistas da publicação France Football
O astro argentino levou a sua avante perante Virgil Van Dijk, Cristiano Ronaldo e Sadio Mané, futebolistas, à exceção do extremo do Liverpool, com quem já tinha concorrido para o prémio The Best, da FIFA, que também venceu.
Depois de, no ano passado, Luka Modric ter quebrado o monopólio de distinções que subsistia desde 2008 entre si e Cristiano Ronaldo, Messi voltou a receber este troféu, tornando-se o primeiro jogador da história a receber seis Bolas de Ouro, depois das conquistas de 2009, 2010, 2011, 2012 e 2015. O astro argentino ficou assim um passo à frente do português da Juventus, que recebeu o galardão da revista France Football em 2008, 2013, 2014, 2016 e 2017.
A seu favor teve o facto de ter vencido (novamente) o campeonato espanhol, numa temporada em que ganhou a sua sexta Bota de Ouro por ter sido o melhor marcador das ligas europeias em 2018/19, com 36 golos, e tendo sido também o jogador que mais marcou na passada edição Liga dos Campeões, com 12 golos, um deles votado o melhor tento da prova.
Para além de estabelecer um recorde absoluto, esta Bola de Ouro é também o coroar daquele que foi um ano excecional para Lionel Messi, tendo vencido também o The Best da FIFA pela sexta vez, um feito inédito na história do futebol. Dos prémios deste ano, só o Melhor Jogador do Ano da UEFA, atribuído a Virgil Van Dijk, lhe escapou.
A última Bola de Ouro que Messi tinha vencido, recorde-se, foi em 2015, ano em que conquistou tanto a Liga dos Campeões como a La Liga pelo Barcelona. Desde então, o argentino ficou em segundo lugar no pódio, atrás de Cristiano Ronaldo, tanto em 2016 como 2017, e nem sequer figurou no top 3 em 2018, decisão que causou um certo bruá dentro da comunidade futebolística.
Por outro lado, Bola de Ouro também tem uma certa significância pela data em que é atribuída, já que fez ontem 10 anos que o argentino, na altura já um jovem prodígio de 22 anos, estreou-se a vencer este troféu, naquele que foi um ano em que venceu tudo o que havia para vencer a nível de clubes, incluindo a sua segunda Liga dos Campeões, em cuja final marcou de cabeça.
Mas mesmo que não tivesse chegado ao Olimpo do futebol no que a prémios individuais concerne, Messi poderia mesmo assim orgulhar-se do seu legado no Barcelona, tendo conquistado 34 troféus junto dos blaugrana: 10 La Liga’s, seis Taças do Rei de Espanha, oito Supertaças espanholas, quatro Ligas dos Campeões, três Supertaças europeias e três Campeonatos do Mundo de Clubes.
Tal espólio dificilmente teria passado pela cabeça do rapaz filho de um funcionário metalúrgico, especialmente tendo em conta um handicap que o prejudicou desde cedo. Nascido em 1987 e criado na cidade de Rosario, Argentina — viveiro de talento futebolístico de onde também brotaram Di Maria, Icardi, Banega, Lo Celso e Bielsa — Messi destacou-se desde tenra idade nas camadas jovens do Newell's Old Boys, mas uma deficiência de hormona do crescimento podia ter privado o mundo futebolístico do talento do argentino.
Considerado demasiado pequeno e frágil, Messi passou os primeiros anos da sua adolescência a batalhar este problema que não lhe afetava a técnica, mas sim a capacidade física. Sem conseguir assegurar tratamentos na Argentina — demasiado dispendiosos para uma família modesta — e com família na Catalunha, a solução passou por tentar chegar a acordo com o Barcelona para assinar um contrato e assegurar que o jogador continuaria a ser acompanhado em Espanha.
"Se o meu filho não tivesse precisado de tratamento hormonal, não teríamos enfrentado tanta pressão para encontrar um clube que assumisse esses encargos. Foi isso que nos levou ao Barça", confessou o seu pai, Jorge Messi. Numa história por si só lendária — que inclui o facto do seu contrato ter sido assinado num guardanapo — e depois de muita resistência da direção do clube catalão, Messi veio mesmo para o Barcelona em 2000.
O início não foi fácil — Messi, por conflitos contratuais com o Newell’s, apenas podia jogar em partidas da liga catalã, e a sua natureza reservada levou os colegas a apelidá-lo de “O Mudo” — mas o diminuto craque perseverou e foi ultrapassando os escalões de formação a um nível estonteante. Tal ascensão firmou-se numa chamada à equipa principal do Barcelona por Frank Rijkaard, entrando como substituto num amigável frente ao Porto de José Mourinho a 16 de novembro de 2003, em que os dragões venceram o Barcelona por 2-0, mas que, mais importantemente, permitiu a um jovem de 16 anos apresentar-se naquela que seria a sua equipa de sempre. A consolidação viria quase um ano depois, a 16 de outubro de 2004, entrando no lugar de Deco aos 82 minutos numa partida para a La Liga no reduto do Espanyol.
Desde então, quer no “tiki-taka” que dominou o futebol europeu de Pep Guardiola, quer nos atribulados anos de Tito Vilanova e Gerardo Martino, ou sendo parte da parceria MSN (com Suaréz e Neymar), Messi veio a afirmar-se como o talento maior, não só do Barcelona, como porventura do futebol mundial (a par, naturalmente, de Cristiano Ronaldo). Para isso, ajudou-o ser ladeado por jogadores do talento de Ronaldinho Gaúcho, Ibrahimovic, Thierry Henry, Xavi, Iniesta, Busquets, Puyol, Daniel Alves, Deco ou Eto’o (para além dos já mencionados Suaréz e Neymar), mas é inegável que, desde que se afirmou na ida época de 2006-07, se tornou na mais brilhante das estrelas que têm formado os elencos blaugrana.
Nos seus 15 anos ao serviço dos culé, Messi tem sido, a par de Cristiano Ronaldo, um dos responsáveis pelos mais notáveis recordes da história de Futebol. Com o record do Guiness de mais golos marcados num ano civil - 91 golos em 2012 —, o argentino é também o único jogador da história a marcar mais de 40 golos por época a nível de clubes por 10 temporadas consecutivas (2009/10 - 2018/19) e o futebolista que detém o recorde de mais jogos a marcar consecutivamente numa liga: 21 partidas, nas quais fez 33 golos.
A sua importância para o Barcelona é imensurável — m 2017, Luís Enrique, na altura à frente dos Blaugrana, admitiu que o Barça sofria de Messidependência e continuaria padecer de tal condição nos anos seguintes — pelo que o mais próximo que se consegue esgrimir é nos números do seu percurso: ao fim de 700 partidas pelos culé, Messi tinha marcado 613 golos e feito 237 assistências.
Ao longo da sua carreira, são tantos os momentos memoráveis de Messi — do slalom frente ao Getafe em 2007 à obra-prima conjurada frente ao Betis de Sevilha no ano transato, passando pela humilhação que pregou à defesa do Bayern de Munique em 2015 — que tal contagem mereceria um artigo por si só. Em todos eles se denota a aparente leveza do seu jogo, a capacidade surreal de fazer parecer o impossível rotineiro. Onde jogadores como Ibrahimovic ou Ronaldo têm o dom de chocar com rasgos de génio, Messi distancia-se pela naturalidade com que o faz, de tal forma que, quando começa uma jogada e termina-a com golo, o sentimento é de que tal era uma inevitabilidade e de que só ele conseguiria fazê-lo.
Se dúvidas restassem quanto a esta característica (e do seu carácter eminentemente decisivo para o clube), basta olhar para a sua última partida, numa vitória ao Atlético de Madrid no Wanda Metropolitano, em que nos minutos finais do jogo fez o golo mais Messi que Messi podia fazer. Arranca a jogada, triangula com Luis Suárez e remata à entrada da área para junto do poste esquerdo, sem hipótese para Oblak, como se fosse a coisa mais simples do mundo.
Nem tudo, porém, tem sido assim tão fácil para Messi. Para além dos problemas com a justiça espanhola devido a alegados crimes fiscais pelos quais foi condenado a 21 meses de pena suspensa — admitindo até vir a deixar Espanha por força desses casos — o argentino carrega a pedra no sapato de nenhuma ter importado o seu sucesso a nível clubístico para a sua seleção, fardo esse agravado pelo facto de agora ser o capitão. Apesar de ter chegado perto da glória no campeonato do mundo em 2014 — perdeu a final contra a Alemanha —, os seus momentos a nível internacional são mais marcados pela frustração do que pelo sucesso.
Aos 32 anos, é uma incógnita quanto àquilo que Messi ainda conseguirá conquistar nos anos que lhe restam no futebol. A eventualidade de acabar a carreira no Barcelona parece cada vez mais certa — o clube até pondera oferecer-lhe um contrato vitalício —, mas Messi deverá ter em conta quando retirar-se em glória. “Eu pondero todos os anos [a continuação]. Já entrei numa idade em que começa a custar. É normal e lógico. Mas não direi que jogarei até os 35 ou 36 anos e depois descubro que já não me mexo. Quero jogar, mas bem”, disse o argentino.
Mas se o futuro se apresenta incerto, o presente não. Neste momento, Lionel Messi é o melhor jogador do mundo. Prestemo-lhes uma vénia.
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