Os “hinchas” uruguaios transformaram a música “Cielo de um solo color (Céu de uma só cor”, um tema de rock da autoria da banda Non te Vas Gustar) no hino de apoio à seleção. É assim desde 2010, no Mundial da África do Sul em que o Uruguai chegou às meias finais. E tem sido desta forma com que se têm apresentado nos estádios na Rússia.

Do lado português, a imortalizada música dos Xutos e Pontapés “A minha casinha” servia de primeiro embalo para a seleção de Fernando Santos.


Antes do arranque da partida, a festa fazia-se fora do estádio (e de muitas cores), em Sochi, na Rússia. Porque o Mundial não é só sobre o que acontece dentro das quatro linhas.


Mas parecia estar escrito no céu. No mesmo céu em que o Sol iluminou a equipa Celeste. De peito inflamado e bandeiras desfraldadas, os adeptos cantavam, em uníssono, depois de “y em ultimo suspiro” ... “Ay Celeste regaláme un sol”. E a equipa deu o que os adeptos pediam.

E uma seleção liderada por um “ladrão de ideias” (Oscar Tabarez), guiada na frente por uma dupla celestial, Cavani e Suarez, e uma retaguarda - Jimenez e Godin – que secava tudo o que se metia no meio foi suficiente para indicar o caminho de casa à campeã europeia de 2016, que saiu derrotada por 2-1 (dois golos de Cavani, avançado que viria a sair lesionado).

E no mesmo dia em que, um par de horas antes, o mundo de despediu de Messi (é pouco provável que vá ao Qatar), esse mesmo mundo suspira que o Ronaldo continue a encarnar a figura do Peter Pan do futebol e continue a brilhar no incandescente sol das Arábias.

Belicismos só nas letras. No campo a música foi rasgadinha e com notas de arte

Na antecipação, este embate entre Portugal e Uruguai poderia antever uma batalha no Mar Negro, com a cidade de Sochi como enquadramento. Desde logo por uma certa dose de beligerância à mistura de exaltação a heróis da pátria presente nos hinos nacionais que se escutam a cada início das partidas.

Minutos depois de uma demonstração de rock puro, os uruguaios puxaram os galões de uma quase ópera num impressionante hino “Sabremos cumprir”.

“Orientales la Patria ou la Tumba,
Liberdad o com Gloria Morrir,
Es el voto que el alma pronuncia,
Y que heroicos saberemos cumprir”

Timidamente escutado em Sochi, a Portuguesa apresentou o nosso bem conhecido ...

“Às armas, às armas,
Sobre a Terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar”

... um grito que os muitos adeptos oriundos de um pouco por todo o mundo não conhecem. E não cantaram. E a equipa esteve longe de encantar quem viajou de vários pontos do globo só para ver Ronaldo e companhia.

Música à parte, em campo havia outras notas que podiam elevar o Dó, RÉ, Mi, Fá, Só.

E nesse campo, Pepe (expulso no Mundial do Brasil), do lado de Portugal, Luis Suarez (quem não se lembra da dentada ao italiano Giorgio Chiellinie, igualmente no Brasil) e Diego Godin, do lado do Uruguai, têm, por vezes, voz grossa. Felizmente piaram fininho, embora o avançado uruguaio tenha expressado muitos “ais” no duelo como os defesas.

Com uma folha limpa até à data, este Uruguai é bem diferente daquele que em 1986 assistiu à expulsão mais rápida (Batista expulso aos 29 segundos no Mundial do México).

As duas equipas, inspiradas no rock’n’roll apresentaram alguns momentos de futebol “rasgadinho”, intermediado com notas artísticas de que os três golos são o exemplo mais puro. Em especial o 2-1 (60’), uma obra de arte de contra ataque superiormente concluída por Cavani, um golo que surgiu meia dúzia de minutos após a igualdade concretizada por Pepe.

Na equipa lusa, Bernardo Silva foi o melhor homem ao vestir a pele de um Ronaldo muito nervoso (viu um amarelo no final da partida) e “bailarino”, alvo de assobios cada vez que tocava na bola, tendo merecido aplausos quando ajudou Cavani (lesionado) a sair do campo. Ainda na seleção lusa, as trivelas de Quaresma não resultaram, Manuel Fernandes estreou-se no Mundial e André Silva entrou em campo. Mas mais nada.

Tudo somado, mesmo lutando até ao último minuto, com Rui Patrício a andar alguns segundos pela área adversária, a campeã europeia caiu nos oitavos de final no Mundial 2018 e regressou a casa.

Em frente seguiu o Uruguai. Um caminho iluminado pelo Sol está bem visível na bandeira do Uruguai e que é hoje escutado na voz de quem anda atrás da seleção celeste.