Já esta época temos vários exemplos das criticas de José Mourinho, senão vejamos.
Manchester United 1-2 Manchester City
“Tive dois ou três jogadores na primeira parte que, sabendo o que sei agora, não os teria colocado a jogar.” Como consequência, Henrikh Mkhitaryan esteve mais de umm dezena de jogos sem jogar.
Watford 3-1 Manchester United
“[Nordin] Amrabat recebe a bola e o nosso defesa esquerdo [Luke Shaw] está a 25 metros dele, em vez de 5. Isto é táctico, mas também mental.” Depois da derrota, Luke Shaw não foi opção para Mourinho durante um mês. O jogador nunca mais ganhou o lugar no onze de forma consistente, sendo titular apenas por duas ocasiões desde então.
Chelsea 4-0 Manchester United
“Basta vermos o primeiro minuto de jogo para perceber o que se passou. Fizemos erros defensivos inacreditáveis.” Na jornada seguinte da Premier League, Mourinho retirou quatro jogadores do onze inicial, sendo que três foram do quarteto defensivo que tinha defrontado os Blues.
Swansea City 1-3 Manchester United
“Há uma diferença entre os corajosos, que querem jogar a qualquer custo, e aqueles para os quais uma pequena dor pode fazer a diferença. Se eu falar com algumas das lendas que defenderam esta camisola, tenho a certeza que me dirão que muitas vezes jogaram sem estar a 100%. Tudo pela equipa.” Depois de ver a sua defesa limitada pelas ausências por lesão de Antonio Valencia e Danny Blind, Mourinho via-se ainda mais limitado depois de Chris Smalling e Luke Shaw comunicarem, no dia do jogo, que não poderiam jogar, também devido a lesão.
Esta é a "seleção natural" utilizada por Mourinho. O português quer uma equipa à sua imagem e pretende com estas críticas testar o caráter dos seus jogadores. Os que se transcendem, tendem a dar tudo para provar que merecem a confiança do treinador. Os que não têm capacidade mental para assimilar os seus métodos, acabam por abandonar a equipa. O objetivo é separar os psicologicamente mais fortes, dos menos capazes de lidar com pressão e com as críticas, e de dar a volta a resultados e exibições.
Mourinho fá-lo pois nega-se a baixar as suas expetativas, bem como as dos seus jogadores, dos adeptos e do próprio clube.
“(…) podem criticar o trabalho dos outros, mas eu sou um homem bom. Faço imensa caridade, ajudo muita gente, porque não ajudar também os ‘Einsteins'?” Resposta de José Mourinho, durante esta época, aos críticos que não tardaram a comentar a forma como ele pensa e ‘recupera’ este United.
O outro lado de Mourinho
Por outro lado, Mourinho faz questão de manter as suas peças principais focadas e preparadas para a ação. Muitas vezes, de forma a que isso aconteça, o treinador tem que sair em defesa dos jogadores. Durante a temporada, já o fez com Marcos Rojo e Marouane Fellaini. Esta semana, chegou a vez de Paul Pogba.
Este excerto foi retirado da conferência de imprensa da passada quarta-feira, que serviu de antevisão ao jogo da Liga Europa de ontem, em que os Reds defrontaram e bateram o Rostov por 1-0 (golo de Mata), mas no qual se falou das criticas à exibição de Paul Pogba no último embate frente ao Chelsea.
A primeira ideia que nos salta à vista, mesmo antes de começar a falar, é de que Mourinho está confortável. Fisicamente, apresenta uma expressão facial neutra, não podia estar mais recostado na cadeira. O treinador português sente-se "em casa" quando enfrenta o batalhão de jornalistas habitualmente presente nas suas conferências de imprensa. Se os jogadores correm e marcam golos, o treinador manobra os media e pressão mediática a que os seus jogadores estão sujeitos na perfeição.
“Eu sinto que o mundo está a perder valores, e todos nós sabemos isso, e a inveja está a aparecer em níveis que me assusta, principalmente pela geração que aí vem, se as coisas continuarem neste sentido.”
Desde logo, Mourinho apresenta a dimensão do problema e, grande ou pequeno, o seu papel foi torná-lo o maior possível. Repare-se como chama a atenção para “o mundo”, determinando a dimensão (enorme) do ‘problema’. Os “níveis” elevados da “inveja” identificam o ‘problema’. O facto de isso o “assustar”, realça a dimensão do mal e chama a atenção para a 'injustiça’ do sucedido.
“Não é culpa do Paul o facto de ele ganhar dez vezes mais que outros, excelentes jogadores, ganhavam no passado. Não é culpa dele que alguns dos comentadores estejam com problemas nas suas vidas, que precisem de contar tostões para sobreviver e que o Paul seja multi-milionário. Não é culpa sua. Não é culpa sua. Eu acho que ele merece respeito.”
O próximo passo no seu discurso retira qualquer pressão que possa existir nos ombros do jogador. Primeiro, faz questão de tratar Pogba pelo nome próprio, o que trás proximidade e faz o jogador relacionar-se com as suas palavras. Em segundo lugar, a repetição, por quatro vezes, da frase “a culpa não é sua”, desresponsabiliza o médio francês de qualquer pressão que este possa sentir, referindo-se indiretamente ao elevado preço pago pelo United na sua aquisição e ao dinheiro que este ganha por mês. Por último, dá uma cara ao ‘problema’. Depois de caracterizar e de lhe ter dado uma dimensão, Mourinho dá agora um nome ao problema: os comentadores.
“Eu acho que a sua família merece respeito. Ele é um rapaz que vem duma família trabalhadora, uma família com três filhos que, tenho a certeza, precisaram de muita comida, uma vez que são enormes. Tenho a certeza que a sua mãe e o seu pai trabalharam no duro por muitos, muitos anos, por eles.”
Agora o discurso encarrega-se de motivar o jogador e fazer com que o que foi dito, nos primeiros parágrafos, tenha efeito. Mourinho puxa ao sentimento de Pogba, levando o jogador a relembrar momentos que o tocam no coração. Mencionando a infância, os seus irmãos e os pais, faz com que o jogador se sinta defensivo quanto aos ataques e críticas a que é sujeito. O francês tem agora um motivo para se defender e reagir.
“Um rapaz que veio para Manchester como adolescente, que lutou pela sua carreira aqui, que não teve medo de mudar de país e procurar melhores condições para o seu futuro. Um rapaz que atingiu o topo do mundo sem que ninguém lhe tenha dado nada. Portanto eu estou muito, muito, preocupado com a próxima geração, porque as coisas estão a seguir um caminho tal que a inveja está em todo o lado.”
Relembrando ao jogador pelo que este passou, leva-o a perceber que já enfrentou coisas muito mais difíceis. A “adolescência” e a “mudança de país”, o “sem ninguém lhe ter dado nada” trás a lembrança da dificuldade de conquista que é a razão que o fez vingar. Por fim, sublinha a importância de proteger Pogba. Mas, caso o jogador não seja razão suficiente para o público em geral se sensibilizar, o treinador aponta mais uma vez a “geração seguinte”. Mourinho dá, mais uma vez, uma dimensão, neste caso, não ao ’problema’, mas à ‘vitima’, ao ‘justo’, à ‘razão’.
“Eu estou muito feliz com o Paul, o clube está muito feliz com o Paul. E acho que uma coisa boa é que, devido à sua personalidade, ele está-se a ‘lixar’ para o que as pessoas dizem.”
Por último, José Mourinho mete um ponto final na conversa. Deixando o jogador tranquilo, dizendo que todos à sua volta gostam dele, que o irão apoiar e que ele é forte pois, “devido à sua personalidade, ele está-se a ‘lixar’ para o que as pessoas dizem.”
Ser, ele mesmo (José Mourinho), criticado pelos adeptos do antigo clube — os adeptos do Chelsea chamaram Mourinho de ‘Judas’ durante a partida da passada segunda feira a contar para a Taça de Inglaterra — foi também o melhor que poderia ter acontecido ao treinador português. Poder vir a público responder às criticas dá a Mourinho mais respeito e credibilidade diante dos adeptos do United. O Special One é fortíssimo a criar uma muralha à volta dos seus jogadores e o facto de ele próprio ser atacado pelos adversários vai, com certeza, ajudá-lo nessa tarefa.
José Mourinho não perdeu o que faz dele um dos melhores treinadores do mundo, e não me espantaria que Pogba começasse a pegar nas rédeas da equipa depois deste incentivo. O treinador prepara a próxima época a todo o gás e não descuida pormenor algum. O Manchester United é um projeto de futuro para o treinador português e, a meu ver, podemos contar com um sério candidato ao título nos anos vindouros.
Esta semana, na Premier League, o destaque vai para o Manchester City-Liverpool, que poderá alterar e começar a definir os lugares de acesso direto à Liga dos Campeões na próxima época. A não perder, domingo, pelas 16h30.
Pedro Carreira é um jovem treinador de futebol que escolheu a terra de sua majestade, Sir. Bobby Robson, para desenvolver as suas qualidades como treinador. Tendo feito toda a sua formação em Inglaterra e tendo passado por clubes como o MK Dons e o Luton Town, o seu sonho é um dia poder vir a treinar na melhor liga do mundo, a Premier League. Até lá, pode sempre acompanhar as suas crónicas, todas as sextas, aqui, no SAPO 24.
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