Na investigação do professor Omar El Nayal, feita em co-autoria com Hans van Oosterhout e Marc van Essen, foram relacionadas mais de 12 mil nomeações de detentores de cargos políticos para quadros empresariais entre 2001 e 2010, em 14 países: Austrália, Bélgica, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Holanda, Noruega, Espanha, Suécia, Suíça, Reino Unido e os Estados Unidos da América.
Uma das conclusões da investigação é que a nomeação de políticos para os quadros das empresas é geralmente bem recebida “em firmas que operam em indústrias altamente reguladas”, como as dos mercados da “energia, telecomunicações, finanças ou farmacêutica”, disse em declarações à Lusa o investigador e professor da Católica Lisbon School of Business and Economics.
O estudo partiu da pergunta “nomear políticos para os quadros cria valor para as empresas?” e o estudo sugere que “depende do nível de corrupção no país”, sublinha a instituição universitária, que divulgou o documento, que aguarda publicação na edição em papel da revista “Journal of Management”.
"É nesse tipo de empresa – regulada e num país com níveis superiores de corrupção como a Espanha ou a Itália – que uma pessoa com ligações políticas pode trazer mais valor a uma empresa. Já em países com menor corrupção, como a Suécia ou a Dinamarca, os investidores não mostram esperar muito valor da nomeação de políticos para os quadros de empresas reguladas", destaca.
Foram estudadas as reações do mercado de valores à nomeação de políticos nestes países, procurando perceber quando é que estas nomeações resultam em respostas positivas ou negativas por parte dos investidores.
O estudo sugere que a presença de políticos nas administrações é encarada como uma vantagem nos países em que as indústrias são muito reguladas e em que existe uma maior perceção de corrupção na sociedade.
Verificadas estas duas condições, “os investidores antecipam benefícios políticos que podem ser assegurados pela nomeação” uma vez que “o político conhece bem os processos legislativos e pode usar as suas ligações para influenciar as decisões políticas em favor da empresa”.
No entanto, em países com níveis elevados de perceção de corrupção na sociedade, a presença excessiva de políticos em quadros empresariais também pode ser vista com desconfiança pelos investidores, que temem uma espécie de “coligação dominante” entre políticos na administração de forma a usar a empresa para o ganho pessoal ou político.
“A corrupção, tal como é percebida na sociedade, pode funcionar como uma espada de dois gumes que aumenta quer a expetativa de benefícios quer a expetativa de custos das nomeações de políticos”, lê-se no estudo.
“Níveis mais altos de perceção de corrupção significam a possibilidade real de os políticos abusarem da posição de poder e responsabilidade que lhes é confiada como autoridades públicas, para benefício dos acionistas”, refere-se.
Mas também podem abusar da sua posição dentro dos conselhos de administração, sendo “improvável que ajam como guardiões dos interesses dos acionistas”, referem os investigadores.
A pesquisa, que não inclui Portugal uma vez que o investigador, à data, não vivia ou lecionava no país, inspirou alguns alunos da Universidade Católica a investigar a temática - trabalhos que estão a ser supervisionados por Omar e que já avançam com algumas pistas sobre a realidade portuguesa nesta matéria.
Numa dessas pesquisas, “os resultados parecem sugerir que políticos ‘locais’ (como ex-deputados de assembleias regionais ou autarcas) podem trazer às empresas maior valor do que políticos mais ‘sénior’ (como deputados da Assembleia da República ou ex-ministros)”.
Uma segunda tese sobre o tema em Portugal sugere que os investidores preferem a nomeação de políticos especialistas e com uma experiência vasta em áreas específicas em detrimento de políticos com experiência mais curtas em múltiplos assuntos.
Está ainda em curso um outro estudo que visa entender se políticos portugueses nomeados para quadros empresariais usam os seus contactos para ajudar na internacionalização das empresas e com que países são essas ligações mais frequentes.
A perceção pública da corrupção foi medida pela Transparência Internacional no seu Corruptions Perceptions Index, no qual os investigadores se basearam para o seu trabalho.
Omar El Nayal é professor Auxiliar na Católica Lisbon School of Business and Economics desde 2019. Doutorado em Gestão Estratégica e Empreendedorismo, na 'Rotterdam School of Management' (RSM), na Holanda. Após completar a licenciatura em Finanças na Universidade Americana do Cairo, trabalhou ainda como analista no Ministério das Finanças do Egito.
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