Motivo disto: na semana passada, almocei por três euros em Lisboa. Três. Prato e bebida por menos dinheiro do que uma bica em qualquer outra capital da Europa Ocidental. Não vou revelar a identidade do restaurante, por receio de represálias: aumento do preço da carta, enchente de clientes à uma da tarde ou, pior, um destaque na Time Out.

É que os lisboetas hoje em dia não conseguem estar calados e estão sempre a revelar o que a cidade tem de melhor. Já eu considero que nem vocês, nem os turistas merecem saber onde se come bem e barato, para que se mantenha precisamente assim. É por isso que tive uma epifania e decidi lançar aqui este movimento: vamos espalhar pelo Mundo que Lisboa é a pior cidade da Europa, para que a gentrificação não destrua a real e sedutora mediania da capital.

Plano: da próxima vez que alguém elogiar Lisboa, digam que um novo terramoto está marcado para o fim da Feira do Livro e que a Bíblia diz que o Apocalipse começará ali para os lados de Marvila. Espalhem toda uma antologia de novos mitos urbanos (o Ramiro é só marisco congelado do LIDL; os pastéis de nata são feitos do sémen de Belzebu) e depois vemos se a Madonna quer mesmo comprar casa aqui. Hoje, só mesmo quem já ganhou 9 grammys é que consegue arrendar um T2 em Chelas. Nada contra a rainha da pop, o turismo ou a lei da oferta e da procura, até porque we are living in a material world and she’s a material girl, mas era giro que um ou outro lisboeta pudesse, também ele, viver em Lisboa.

Não se enganem, procurar casa em Lisboa é um futuro formato televisivo intitulado “Que Valor Absurdo É Que Estes Gajos Vão Pedir Por Este Buraco”. A verdade é que os lisboetas da minha geração cada vez menos veem a sua cidade pela janela e cada vez mais através de artigos do The Guardian. Quando se pede 700 euros por um T0, expulsa-se os locais. Todos sabemos que o português nem tem dinheiro, nem se contenta com o kitsh e uma kitchenette.

Recomendações

Agora que o calor chegou, sugiro sair de casa para reclamar como era melhor quando estava pelo menos uma brisa / ficar em casa no fresquinho agradável e sentir remorsos por não aproveitar o bom tempo.

Se não gostam assim tanto de jazz, sugiro o OutJazz.

Se já estavam com saudades de um bom fim-de-tarde no habitáculo do vosso automóvel, apostem na Costa da Caparica ao Domingo.

Porque o seu tempo é precioso.

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