E saíram as notas dos exames. Os miúdos atropelavam-se para chegar às pautas, um burburinho nervoso persistia e alguns pais esperavam com ansiedade, braços cruzados, atentos. Os telemóveis memorizaram as notas. Os rostos dos finalistas do 12º, nas diferentes áreas, são uma palete confusa que abrange a totalidade do espectro emocional. Há riso, choro, aflição, mutismo, mãos a arrepelar cabelos.

Os jovens com a alegria conquistada pela visão da pauta agrupam-se naturalmente. Os menos felizes encolhem-se, o corpo em curvatura. Os rapazes contêm-se, as raparigas começam no frenesim de perceber a média, faz contas, corrige, liga à mãe que não está presente. Há duas miúdas que discutem se têm de se inscrever já para a segunda fase dos exames, ambas com 10 a História. Não sabem o que fazer. Uma delas pergunta: "Mas tu já sabes o que vais fazer? Que média precisas para entrar na faculdade?" E a resposta chega veloz: "Não sei. Não faço ideia. Talvez eu não devesse ir para a faculdade, mas a minha mãe..."

Afasto-me deste cenário com o coração apertado por todos os que ali ficaram contristados com os resultados. Sei de quem tenha pago explicações caríssimas e tenha de enfrentar a realidade: o filho traz notas negativas a ambos os exames. Sei de quem não quer pensar mais no assunto.

Vou com as boas notas do meu filho mais novo pela rua e penso que ele também não faz ideia do que será o futuro. Há uns anos, ainda criança, o mais velho sentenciou que o futuro é um país lá longe. E agora que parece mais próximo, mais assustador, não é possível ter a certeza de que estejamos a ser correctos.

Pressionamos os miúdos para decidirem? Escolham um curso, sff, depois logo se vê? Valerá a pena ficar a morder o lábio de nervosismo perante a decisão que diz: não quero ir para a faculdade? Ser pai não é ter um livro de receitas certas, nem garantias de eficácia como os pequenos electrodomésticos que por aí se vendem.

Ser pai é complicado. Ser filho é igualmente complicado.

Num mercado cada vez mais exigente, acreditamos que uma licenciatura é uma ferramenta básica e lutamos para que os nossos filhos adiram com empenho e alegria. Não saber o que se quer fazer é paralisante e, ao mesmo tempo, frustrante. Mas pior será pensar que estamos a depositar nos nossos jovens todas as esperanças de um mundo melhor, sabendo de antemão que o que importa verdadeiramente é encontrar algo de que se goste. A paixão importa.

Para muitos miúdos, esses que estudaram aqui por casa para os exames nacionais, o que parece ser mais urgente é "ter um emprego". Eu vou dizendo que o mais importante é fazerem algo de que gostem, algo que possa proporcionar conhecimento, mas também uma gratificação pessoal.

Levo as boas notas do meu filho para casa e sei que ele se inscreverá na faculdade sem saber nada do futuro. Eu sou mãe dele e também não tenho o direito de saber do futuro dele. Será uma presunção muito grande continuar a decidir o que quer ou não quer, o que deve e o que não deve. Ou não será?