Sabem que falam de uma realidade que não existe, mas fazem de conta com razoável sabedoria. Se trabalhasse num departamento de ficção de uma televisão ou produtora, estava em cima do fenómeno - de Passos a Jerónimo, temos ali um painel de actores que vale a pena avaliar…

No passado isso era comum com os partidos derrotados - que se declaravam “vencedores”… -, com os clubes que não ganhavam o campeonato - e despejavam nos media a conversa habitual sobre os árbitros, a corrupção no futebol e o papel da Federação Portuguesa de Futebol - e com os desgraçados que não eram apurados para o Festival da Canção. Agora, o fenómeno domina a política.

O partido que perdeu acha que ganhou e faz por isso. O partido/coligação que ganhou (sabendo que foi uma vitória “poucochinha”…) vai governar, mesmo reconhecendo que não faz nada sozinho, o que é o mesmo que dizer que perdeu mas faz de conta que ganhou. Os partidos pequeninos gritam vitória como crianças no pátio da escola. Não ganharam nada. E depois há o Presidente, que esperávamos que estivesse acima disto tudo, mas alinha na brincadeira. Sabendo que está apenas a adiar um problema criado pelos números (de que tanto gosta, ironicamente…).

Resultado: como numa peça, assistimos à representação até ao fim. Sabemos que é ficção, e que daqui a pouco vamos novamente estar entre a parede e o abismo, votando para um qualquer mal menor. Nada de muito novo. Como espectadores passivos do espectáculo, mantemo-nos quietos. A ver no que dá.

O que mais impressão me faz é ver esse tal de Cavaco Silva interpretar o papel que não estava no guião original da peça: ser juiz num julgamento para o qual não foi chamado; dar palpites no lugar onde só se lhe pede arbitragem; e indicar caminhos, quando lhe pagamos para gerir semáforos.

Por mim, mais voto menos voto, dá igual: já percebi que a política é um teatro. De sombras e luzes. Confesso que só não esperava um Presidente a quem cabia o lugar, no limite, de “compére" (o actor que vai dando as deixas para o actor principal brilhar na revista…), mas a quem apetece ser primeira figura.

Está tudo trocado. Mas também é verdade que a revista à portuguesa só resta mesmo na política. Às tantas, trata-se de uma homenagem. Manhosa. Não podia Cavaco ficar-se por uma comenda ao Parque Mayer?

Coisas que me deixaram a pensar esta semana

A ideia do Museu de Arte Antiga de lançar uma campanha de angariação de fundos para comprar uma obra de arte é um achado e um momento de maturidade política e social. É a primeira vez que tal se faz em Portugal. A obra chama-se “Adoração dos Magos”, é uma pintura de Domingos Sequeira, e custa 600 mil euros. Numa operação que envolve entidades publicas e privadas, abre portas ao envolvimento de todos numa aquisição de peso. Vale a pena conhecer esta brilhante ideia aqui, no jornal “oficial” da campanha

Viver é cada vez mais fácil. A frase parece parva? Pois parece. Mas experimente acompanhar esta ideia, de que cito apenas o primeiro parágrafo, e verá que talvez tenha sentido: “Quatro casais de amigos norte-americanos decidiram que queriam morar juntos até a velhice. E qual foi a ideia? Construir uma vila somente para eles, toda sustentável, em um lugar chamado Llano Exit Strategy, composto por quatro cabanas de frente ao rio Llano, no Texas”…

Quem gosta de design, de capas de jornais e revistas que primam pela ousadia, originalidade, surpresa, ou capacidade de impressionar e motivar leitores, não deve deixar de passar os olhos pela Cover Junkie. Há cinco anos que o holandês Jaap Biemans, ex-director de arte da Volksrant Magazine, escolhe boas capas, reúne as mais clássicas, e junta um acervo precioso. Razão suplementar: a capa da primeira edição da renovada “Visão” teve direito a destaque no site. É quase como se fosse um prémio. Merecido.