Carlos Moedas venceu surpreendentemente a eleição para Presidente da Câmara de Lisboa. Ao contrário da narrativa veiculada pelos seus apoiantes, não a venceu porque tenha conquistado, segundo o que nos dizem os números, muito para lá do eleitorado PSD/CDS com a sua brilhante e clarificadora campanha (not). Talvez com a excepção do próprio Carlos Moedas (e talvez com mais fé do que convicção), poucos previam o cenário de vitória até ao fim da tarde de domingo.
Rui Rio tinha um feeling, ao mesmo tempo em que quase fazia asneira hostilizando as sondagens que até lhe deram jeito: foram inexcedíveis a subvalorizar o seu candidato e a desmobilizar o eleitorado de centro-esquerda que não nutria simpatia suficiente por Medina ao ponto de votar nele numa eleição que supostamente já estava ganha. Rio tinha um feeling, mas eu também tenho o feeling de que o Benfica vai ganhar o Barcelona. Claramente o presidente do PSD estava perfeitamente preparado para ler os resultados das eleições como uma vitória pessoal (face ao conseguido pelo partido em 2017), mesmo sem precisar do triunfo em Lisboa, que acabou por ser a cereja no topo do bolo. Talvez uma cereja amarga, já que ficou provado que a direita pode ganhar eleições, bastando o candidato não ser Rui Rio.
A subvalorização de Moedas é evidente, mas a sobrevalorização de Medina também. A estratégia do PS para Lisboa era meramente maquilhar Fernando Medina de idóneo senador da República e deixar que os outros fizessem campanha. De repente, parecia que o delfim estava pronto para assumir o negócio da família socialista, já que se convenceram, seguindo a tendência de assobiar para o lado que vigora hoje no partido, que Medina era uma figura com uma sedutora gravitas e com um irrepreensível sentido de estado. Acontece que, fora das fronteiras do largo do Rato, o resto dos lisboetas não pensavam igual.
Ou seja, a derrota de Medina não é somente pessoal e transmissível. Vem sobretudo da hubris do PS. Contudo, é obviamente intransmissível para os partidos de esquerda que se candidataram sozinhos. O comunicado-chazada do Livre culpa o PCP e o Bloco pela vitória da direita na cidade, ignorando que, se estes partidos de esquerda se candidataram sozinhos, talvez tenha sido porque os mandatos de Medina não se pautaram por uma governação de esquerda. Não fica bem ao Livre este papel de mensageiro da chantagem “ou declaram amor incondicional ao PS ou vem aí a direita”. Não é a esquerda que deve refletir melhor sobre se deve ou não votar no PS, é o PS que deve refletir melhor sobre se é ou não de esquerda.
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