A cambalhota

Inês F. Alves
Inês F. Alves

Ainda se lembra da última cambalhota que deu?

De cócoras, com o peso apoiado sobre as pontas dos pés e as pontas dos dedos das mãos, cabeça baixa, queixo contra o peito, impulso... e todo um novo mundo.

A preparação para a primeira cambalhota — praxe nas aulas de ginástica de meninice — mete medo. Sentimos que não controlamos o que acontece depois daquele impulso final. Quando aterramos, por fim, uma gargalhada. Mete medo, mas é divertido, e seguem-se então mais meia dúzia de piruetas — com cuidado, porque o mau jeito pode ser mesmo mau — até que alguém nos avise que tudo o que é demais enjoa (literalmente).

Hoje demos a primeira cambalhota aos números da pandemia em Portugal: O acumulado de casos recuperados (917 no total, mais 307 face a ontem) ultrapassou o de óbitos (762). Também reduzimos o número de pessoas internadas (menos 36 pessoas nos cuidados "normais" e menos duas nos cuidados intensivos — sendo que estas subidas e descidas têm sempre mais flutuações).

Mas e o medo? Está lá. No entanto, é como na cambalhota, há que aprender a viver com ele. Preparamo-nos bem, fazemos tudo o que estiver ao nosso alcance e depois novo impulso, porque a vida não pode parar e não devemos perder o que já foi conquistado.

O alerta foi deixado pelo secretário de Estado da Saúde António Lacerda Sales: "Não podemos deixar o medo vencer. A vacinação das crianças é crucial". A questão é que com o medo de apanhar o novo coronavírus há quem tenha adiado as vacinas habituais — um erro. "Ainda que atravessemos um período e um momento difícil, os pais não devem adiar a vacinação dos seus filhos sob pena de Portugal enfrentar um surto de outras doenças infecciosas evitáveis e com consequências potencialmente graves mais tarde".

E cambalhota atrás de cambalhota se ganha terreno ao vírus, na esperança de que em breve se torne uma doença do passado. A fazer ginástica nos laboratórios do mundo estão vários cientistas, uns à procura de vacinas, outros de medicamentos. E no que diz respeito aos segundos, há três candidatos na frente da corrida. À partida a sua aprovação será mais rápida do que a das vacinas, mas o seu papel no combate à doença também é muito mais limitado, explica-nos a Margarida Alpuim. Que medicamentos são estes? Que esperanças podemos depositar neles? Por que motivo não podem ser vistos como a solução para a pandemia? Aqui fica um guia para entender o que os torna mais promissores e quando poderemos esperar que cheguem ao mercado.

Por cá, Portugal vai realizar ensaios clínicos ao plasma de doentes recuperados de covid-19, devendo o estudo começar em maio. O objetivo destes ensaios, segundo o Ministério da Saúde, é analisar a possibilidade de utilização do plasma no tratamento de doentes infetados.

Mas esta luta contra a covid-19 também se faz de maratonas — provas de resistência para as quais ninguém treinou (afinal, calculo que para a maioria dos empresários o risco de uma pandemia não esteja no topo das prioridades da análise SWOT quando se pensa em abrir um novo negócio).

Segundo o inquérito do INE e Banco de Portugal divulgado hoje, mais de 80% das empresas mantiveram-se em funcionamento, com maior recurso ao ‘lay-off’, e quase 30% diversificaram ou mudaram a sua produção. No entanto, quase metade (48%) afirma não ter condições para manter a atividade por mais de dois meses sem medidas de apoio à liquidez. Entretanto, o ministro da Economia revelou que as empresas portuguesas já pediram o adiamento do pagamento de impostos e contribuições para a Segurança Social no valor total de 445 milhões de euros. Os números são conhecidos no dia em que Costa recebeu, em São Bento, representantes da hotelaria e da restauração para preparar medidas de relançamento da atividade. Venha a próxima cambalhota (provavelmente com máscara e medidas de distanciamento social)?

E porque — como frisei ontem — atrás de um número há sempre pessoas e suas histórias, destaque hoje para o Badoca Safari Park, em Santiago do Cacém (Setúbal), que corre o risco de não sobreviver aos prejuízos causados pelo encerramento ao público. Tal como com a cambalhota, tenho boas memórias neste lugar dos tempos de criança. Seria uma pena vê-lo ficar pelo caminho nesta prova.

Numa nota final, recorda-se de eu ter dito ontem que houve certamente muito adulto curioso em frente à televisão para assistir ao primeiro dia de telescola? Pois bem, a RTP Memória foi "líder de mercado" na segunda-feira entre as 09:00 e as 11:20, com 16,3% de 'share', no dia do arranque do #EstudoEmCasa. Matemática foi a disciplina mais vista.

Para não fugir à regra, despeço-me com uma sugestão: Vem aí o Play On Fest, um festival online da Warner Music que junta nomes como Cardi B, Coldplay ou Ed Sheeran. Marque na sua agenda: 24 a 26 de abril.

O meu nome é Inês F. Alves e Hoje o Dia Foi Assim.

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