Se Portugal fosse Lisboa, a capital também queria ser paisagem

Tomás Albino Gomes
Tomás Albino Gomes

Os números do boletim diário da Direção-Geral da Saúde preparavam-se para ser mera paisagem, campos estendidos de tranquilidade do milagre português que fez títulos de jornais lá fora e trouxe cá para dentro a fase final, inédita, da Liga dos Campeões.

Mas quando nos disseram para sair de casa, na região metropolitana de Lisboa, os números começaram a aumentar e a capital deixou de ser Portugal - antes fosse paisagem - para passar a ser o retrato negativo do desconfinamento e das diferentes armas que cada grupo social tem para combater esta pandemia.

Vamos a números: os cinco concelhos da região de Lisboa mais atingidos pela Covid-19 concentraram metade dos novos casos de contágio verificados em Portugal nas últimas duas semanas, um aumento de 2.230 infeções.

Tendo por base os boletins divulgados pela DGS entre 7 e 21 de junho, os concelhos de Amadora, Lisboa, Loures, Odivelas e Sintra acumularam 50,2% do total de novos casos neste período em Portugal — 4.440.

Por exemplo, esta segunda-feira, data que não entra nas contas acima, dos 259 novos casos de infeção registados, 164 foram identificados na região de Lisboa e Vale do Tejo.

Numa altura em que Portugal é quase paisagem e Lisboa luta para o ser, o primeiro ministro, António Costa, reuniu-se hoje com os presidentes dos cinco municípios da área metropolitana de Lisboa que despertam maior preocupação devido ao elevado número de novos casos de covid-19 nas últimas semanas.

Da reunião saíram novas regras para tentar conter a centralização da pandemia. Dessas, destaque para a imposição do limite de funcionamento dos estabelecimentos comerciais até às 20:00, exceção feita aos restaurantes para serviço de refeições, e a proibição de vendas de bebidas alcoólicas nas áreas de serviço de postos de combustíveis.

A partir das 00:00 de terça-feira, é proibido o consumo de bebidas alcoólicas na via pública e é reposto um limite aos ajuntamentos até dez pessoas.

"Quem não respeitar alguma destas quatro regras, e logo na sequência da primeira violação, será determinado o crime de desobediência. A pessoa indicada será imediatamente autuada", afirmou à agência Lusa fonte do Governo.

Parece um retrocesso numa batalha que já dura mais de três meses, que pesa no corpo e na carteira. Hoje, na conferência da DGS que se passou a realizar apenas três vezes por semana, Graça Freitas repetia todas as medidas de prevenção, pontos que conhecíamos melhor do que a tabuada há dois meses, como se fosse a primeira vez que falava aos portugueses. Como se não tivéssemos já feito tudo - e não fizémos.

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