De picada em picada até ao regresso à normalidade

António Moura dos Santos
António Moura dos Santos

Num ano marcado por mais percalços e entraves do que é possível (ou sensato) contar, o primeiro dia de vacinação contra a Covid-19 em Portugal correu ontem de forma globalmente positiva, julgando pelos balanços feitos pelas autoridades de saúde.

Com um total de 4.828 profissionais de saúde registados no sistema de vacinas e não tendo havido reações adversas de maior por parte de quem recebeu “a picada”, os votos reservados para hoje eram que o processo continuasse a decorrer tranquilamente.

No entanto, a manhã abriu com um mau prenúncio. Estando estipulado que Portugal deveria receber hoje mais 70 mil e 200 doses da Pfizer para continuar o esforço de vacinação — a primeira dose, de 9750 unidades, foi sobretudo simbólica —, a notícia foi de que tinham ocorrido atrasos junto de uma fábrica do laboratório, na Bélgica, e de que, como tal, uma interrupção iria forçosamente impôr-se.

Foi o que aconteceu em Espanha, entre outros países, mas deste lado da fronteira escapou-se a tal contrariedade e as vacinas chegaram mesmo para que o processo entre numa fase a todo o gás. É esperado que, até abril, sejam vacinados cerca de 950 mil pessoas dos grupos prioritários definidos pela ‘task-force’: pessoas com mais de 50 anos com doenças associadas, utentes e trabalhadores de lares e profissionais de saúde e de serviços essenciais. 

O próximo passo foi hoje desvendado pela Ministra da Saúde, Marta Temido. Segundo a governante, a segunda entrega de doses da vacina da Pfizer-BioNTech vai permitir estender o processo de vacinação para "outros hospitais do Serviço Nacional de Saúde” mas vai também levar ao início das vacinas nos lares de idosos.

“Neste momento está a ser concluído o processo de identificação das estruturas residenciais para idosos que são objeto desta administração, sendo certo que há uma circunstância que temos de ter presente, que são as unidades que têm surtos, que não serão alvo de vacinação enquanto o surto se mantiver ativo, por uma questão de segurança”, disse Marta Temido.

A ministra apontou para o plano de futuro enquanto falava no hospital Curry Cabral, em Lisboa, neste segundo dia de vacinação. Amanhã seguem-se o Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho e o Centro Hospitalar Universitário do Algarve, tal como os hospitais das Caldas da Rainha e de Torres Vedras e a Unidade de Saúde de S. Domingos (em Santarém) enquanto contemplados.

Outros, porém, terão de esperar. A Madeira é um desses casos. Apesar de ter prometido no sábado que a chegada das vacinas estava prevista para hoje, Miguel Albuquerque admitiu hoje ser provável que as vacinas cheguem à região a 30 ou 31 de dezembro.

O Presidente do Governo Regional da Madeira, porém, desdramatizou a situação, lembrando que o processo será rápido assim que as doses chegarem. "Nós temos seis horas para o descongelamento das vacinas e começar a administrá-las. Só estamos a aguardar informação da Pfizer", acrescentou.

A região, no entanto, vê-se a braços com uma situação delicada, já que se sabe que foram detetados 18 casos positivos com a nova estirpe da Covid-19, mais infeciosa. Miguel Albuquerque garantiu que todos eles foram isolados atempadamente, mas na sua comunicação deixou revelar um pormenor preocupante: dos 18, "17 são provenientes do Reino Unido e uma de Lisboa e Vale do Tejo”.

Nem a Direção-Geral da Saúde nem o Instituto Nacional Ricardo Jorge se pronunciaram hoje quanto à possibilidade de já haver casos desta estirpe no território continental, sendo necessário acompanhar desenvolvimentos futuros.

Esta possibilidade, no fundo, serve também para nos recordar que o risco está longe de ter terminado, mesmo iniciado o esforço de vacinação. Por isso mesmo, hoje o diretor do serviço de Infeciologia do Curry Cabral, Fernando Maltez, quis refrear os ânimos, sublinhando a necessidade de todos manterem as medidas de proteção adequadas - uso de máscara, etiqueta respiratória, higiene das mãos, manter a distância física e evitar aglomerados em espaços fechados e eventos de massas.

"Esta vacinação deve servir, do ponto de vista psicológico, como um estímulo para todos nós. Temos à frente a solução do problema e é importante aderir a esta vacinação e não fugir às nossas responsabilidades de prevenir a transmissão aos outros (...). Se isso for respeitosamente seguido, sou otimista, esperarei que lá para setembro estejamos a voltar às nossas vidas normais", afirmou.

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