A necessidade de "fazer escolhas" na vacinação

Alexandra Antunes
Alexandra Antunes

A vacina contra a covid-19 permite ver a luz ao fundo do túnel. Contudo, o caminho ainda é longo — e tal descoberta não invalida todos os outros cuidados que são necessários.

Chegar a toda a população ao mesmo tempo seria impossível. Por isso, a vacinação foi dividida, como sabemos, em três fases. Na primeira, a que agora se assiste, têm sido vacinadas as pessoas prioritárias. E quem são?

  • Pessoas com mais de 50 anos com patologias associadas; residentes e profissionais em lares e unidades de cuidados continuados; profissionais de saúde; profissionais das forças armadas, forças de segurança e serviços críticos.

No dia de hoje, o semanário Expresso trouxe a discussão, ao noticiar que o presidente da Câmara de Reguengos de Monsaraz tomou a vacina contra a covid-19 sem pertencer aos grupos prioritários.

Segundo o jornal, José Calixto foi vacinado por ser presidente da fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, que gere o lar com o mesmo nome, no qual houve um surto de covid-19 no mês de agosto do ano passado, registando 18 mortes.

Poderia assim dizer-se que afinal o autarca estaria incluído na primeira fase, por ter relação com um lar — mas apesar de estar previsto que no primeiro grupo de vacinação estejam incluídas pessoas residentes nas instituições e funcionários, não há menção quanto aos respetivos cargos administrativos.

Além do autarca, foram também vacinados o provedor da Santa Casa da Misericórdia, o coordenador da Unidade de Saúde Familiar e o presidente da Junta de Freguesia de Reguengos de Monsaraz.

Despertado o debate, surgiram já várias reacções e respostas:

  • Do autarca: no Facebook, José Calixto afirmou que a "autoridade de Saúde está a tratar todas as pessoas das ERPI por igual para evitar todas as cadeias de contágio. Por isso, estão a ser chamadas para a vacinação todas as pessoas que tem funções nos lares e todos eles tem a obrigação de comparecer a essa vacinação. Penso que seria certamente irresponsável não o fazer".
  • Do coordenador do Plano Nacional de Vacinação: Francisco Ramos, citado pela SIC, referiu que "a ter acontecido, foi um uso indevido da vacina" e que "o que está previsto é que a vacina seja administrada aos profissionais e não a dirigentes dos lares", salvo caso "se trate, também, de um prestador de cuidados aos utentes".
  • Do governo: o secretário de Estado Adjunto e da Saúde admitiu que poderá haver justificação para o autarca já ter sido vacinado contra a covid-19, por integrar a direção de uma lar. "Se faz parte da direção" de um lar, "a situação, ainda assim, transforma-se e talvez por isso tenha sido vacinado. Então, assim, justificar-se-á", afirmou António Lacerda Sales, em declarações às televisões.
  • Do lar: João Carlos Silva, diretor de serviços da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, citado pelo Expresso, afirmou que "foram vacinados todos os elementos do conselho de administração", acrescentando que estes têm sido "parte ativa e desenvolvido diligências quase diretas junto das instalações do lar". Além disso, a Fundação referiu à agência Lusa que José Calixto é uma das pessoas que tem "contacto regular direto com os utentes".

Casos semelhantes têm sido criticados pela bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, que tem vindo a denunciar situações de pessoas que estão a ser vacinadas contra a covid-19 sem ter contacto direto com doentes. E não poupou nas palavras, afirmando que esta situação é "própria de um país saloio" que tenta vacinar "os amigos da instituição". Para evitar o sucedido, a Ordem já enviou relatos para a Assembleia da República.

A discussão trouxe também uma novidade: António Lacerda Sales admitiu que "a atividade política" deve ser visada nos "serviços críticos" para a definição dos critérios de vacinação, bem como bombeiros. Assim, o grupo de trabalho para o plano de vacinação contra a covid-19 está a preparar uma proposta para incluir os titulares de altos cargos de decisão e os bombeiros entre os prioritários a vacinar.

Num cenário em que quase tudo tem sido novidade, as escolhas são feitas consoante a necessidade e as evidências que vão surgindo. O ideal seria expandir os grupos prioritários — "mas não há vacinas disponíveis e temos mesmo de fazer escolhas, identificando os que são muito prioritários", justificou Francisco Ramos. E, "se tudo correr bem e numa versão otimista", pode ser possível ter seis a sete milhões de portugueses vacinados (para atingir a imunidade de grupo) no verão.

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