Não queremos voltar para a ilha

Tomás Albino Gomes
Tomás Albino Gomes

Haveria de ficar célebre um sketch que se repetiu ao longo de vários episódios da série de humor 'Maré Alta', transmitida pela SIC em 2004, uma espécie de versão Malucos do Riso num barco, e que era uma adaptação da série brasileira ‘Zorra Total’. Num dos episódios, um naufrago, interpretado pelo ator Carlos Areias, salvo do alto mar pela tripulação do cruzeiro, ameaça várias vezes voltar para a ilha deserta onde estava cada vez que o inteiram sobre o que se passa em Portugal.

O grito "quero voltar para a ilha" viria a ficar, usado como piada sempre que aparecia uma situação com que alguém não concordava. Hoje, depois das mais recentes notícias que chegam da região autónoma da Madeira, a ilha é a sombra de 2020, um lugar para onde o país não quer voltar.

A Madeira foi hoje colocada na categoria de risco elevado para covid-19 no mapa do Centro Europeu para Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC), que suporta decisões sobre viagens na União Europeia (UE), passando do laranja para vermelho.

Depois de, em meados de outubro, ter ficado na categoria verde (relativa à melhor situação epidemiológica no mapa do ECDC) e de há duas semanas ter recuado para a laranja, a Madeira volta hoje a ver a classificação a piorar, passando para o vermelho, que significa risco elevado.

A categoria vermelho no mapa do ECDC significa que, nestas regiões europeias, a taxa cumulativa de notificação de casos de infeção nos últimos 14 dias varia de 75 a 200 por 100 mil habitantes ou é superior a 200 e inferior a 500 por 100 mil habitantes e a taxa de positividade dos testes de é de 4% ou mais.

Em resposta ao cenário epidemiológico, o Governo da Madeira determinou hoje a obrigatoriedade de apresentação de certificado de vacinação e teste antigénio para frequentar qualquer recinto público ou privado, anunciou o chefe do executivo, referindo que a medida entra em vigor às 00:00 de sábado.

Miguel Albuquerque explicou que os testes rápidos, que são gratuitos, podem agora ser realizados de sete em sete dias e são obrigatórios para “acesso a qualquer evento”.

“Para exercer ou frequentar atividades ou eventos no setor público e privado – desporto, restaurantes, hotéis, cabeleireiros, ginásios, bares e discotecas, [recintos] culturais, cinemas, atividades noturnas, jogos, casinos e outras atividades sociais similares – devem estar vacinados e testados, com teste rápido antigénio, com periodicidade semanal”, explicou.

A medida faz parte de um conjunto de novas restrições para contenção da covid-19 na Madeira, anunciadas hoje em videoconferência pelo presidente do Governo Regional (PSD/CDS-PP), quando o arquipélago, com cerca de 251 mil habitantes, sinaliza 436 casos ativos de covid-19, num total de 12.804 confirmados desde o início da pandemia, e 84 óbitos associados à doença.

Miguel Albuquerque indicou que a apresentação conjunta do certificado de vacinação e do teste antigénio só não é obrigatória para acesso a supermercados e locais de culto religioso, onde basta apresentar um dos documentos.

O cenário de contenda é uma opção que o país quer fintar e nesse sentido, para fugir a mais restrições e dar um período de festas mais próximo do normal às famílias, a diretora-geral da Saúde anunciou hoje três alterações à vacinação contra a covid-19, a maior arma que temos à nossa disposição para continuar a enfrentar esta pandemia.

  • "O intervalo entre a última dose e uma pessoa tornar-se apta, elegível, pronta para a vacinação é neste momento entre cinco a seis meses, 150 a 180 dias. Resumindo, encurtamos este intervalo para, com segurança, podermos vacinar mais pessoas mais precocemente. As pessoas ficam mais depressa elegíveis e prontas para se vacinar".
  • "Desde já, os recuperados também começam a entrar no processo de vacinação. Com uma única exceção, os recuperados que tendo tido a doença já, por qualquer motivo das suas vidas, levaram duas doses da vacina com 150 a 180 dias de intervalo, esses estão já, naturalmente, com o reforço feito. Mas regra geral, os recuperados vão ser vacinados dentro deste teto dos 65 ou mais anos de idade e dos profissionais".
  • As pessoas que receberam a vacina da Janssen "vão fazer um reforço, aqui com um período diferente, pelo menos 90 dias depois de terem levado a última dose da vacina, e estas pessoas basta terem 18 ou mais anos de idade. Aqui o grupo etário é diferente. A vacina da Janssen passa a ser recomendada para pessoas com 18 ou mais anos de idade com uma dose de reforço feita com 90 dias após a primeira dose".

No entanto, um dos momentos mais importantes para antecipar os próximos tempos acontecerá amanhã com mais uma reunião de especialistas e políticos no Infarmed para "salvar" o Natal.

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