O mapa da Rússia e a aliança da Ucrânia
Edição por Tomás Albino Gomes
O dia de hoje não era surpresa para ninguém. A cerimónia de anexação de quatro territórios ucranianos pela Rússia estava marcada para esta tarde na Praça Vermelha, em Moscovo. Lá, o próprio Vladimir Putin falou à nação, sublinhando que os habitantes das regiões ucranianas de Donetsk, Lugansk, Zaporijia e Kherson efetuaram uma opção “inequívoca” para se unirem à Rússia, assegurando que serão protegidos por "todos os meios necessários”.
“É uma decisão inequívoca”, disse Putin num discurso prévio à assinatura dos tratados de anexação com quatro províncias ucranianas na Sala de São Jorge no Grande Palácio do Kremlin, e após os referendos denunciados por Kiev e pelos países ocidentais.
“Os habitantes de Lugansk e Donetsk, Kherson e Zaporijia vão tornar-se cidadãos russos para sempre”, garantiu o Presidente perante a elite política do país. “As pessoas votaram pelo nosso futuro comum”, acrescentou Putin, que também exortou a Ucrânia a “terminar imediatamente as hostilidades”.
“Apelamos ao regime de Kiev para um cessar-fogo imediato, para que termine todas as hostilidades e regresse à mesa das negociações”, indicou no discurso perante o Governo, os deputados e senadores, e outros representantes do Estado russo.
A anexação destas quatro regiões, que correspondem a cerca de 15% do território terrestre da Ucrânia, ocorreu após a realização de referendos não reconhecidos pela comunidade internacional, entre 23 e 27 de setembro.
Os referendos, considerados uma farsa pela comunidade internacional, ocorreram em plena guerra na Ucrânia, que a Rússia invadiu em 24 de fevereiro deste ano.
A Rússia já tinha anexado a península ucraniana da Crimeia em 2014, após um processo idêntico.
A anexação e o pedido de cessar fogo tiveram resposta imediata da Ucrânia e do Ocidente. O país invadido anunciou que formalizou um pedido de adesão acelerada à NATO.
Num comunicado, Vladimir Zelensky disse que a Ucrânia já está “de facto” a caminho de se tornar membro da Aliança Atlântica e demonstrou a sua compatibilidade com os padrões militares da NATO, tanto no campo de batalha como na interação com os aliados.
“Há confiança mútua, ajudamo-nos mutuamente e protegemo-nos mutuamente. Esta é a aliança”, disse.
Do lado ocidental, somaram-se condenações. Numa declaração, os dirigentes dos países da União Europeia afirmaram que “rejeitam e condenam a anexação ilegal” pela Rússia de quatro regiões ucranianas, acusando Moscovo de pôr “a segurança mundial em perigo”.
“Não reconhecemos e nunca reconheceremos os ‘referendos’ ilegais que a Rússia realizou como pretexto para esta nova violação da independência, da soberania e da integridade territorial da Ucrânia, nem os seus resultados falsificados e ilegais. Nunca reconheceremos esta anexação ilegal”, lê-se na declaração.
Também o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, condenou a "tentativa fraudulenta" da Rússia de anexar territórios ucranianos e a diplomacia norte-americana anunciou sanções a mais mil pessoas e empresas envolvidas na invasão.
"Continuaremos a ajudar a Ucrânia nos seus esforços para recuperar o controlo sobre seus territórios", disse Biden, num comunicado, minutos depois de o Presidente russo, Vladimir Putin, ter assinado os tratados de anexação de quatro regiões ucranianas.
A pergunta é: a que ponto chegámos na guerra? No passado, a Rússia tinha colocado a questão da adesão à NATO por parte da Ucrânia como uma linha vermelha que podia fazer escalar o conflito. Tal aviso fez Zelensky recuar... até agora, momento em que o ano de 2014 se repete e Putin volta a roubar território ucraniano.
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