O seu nome tem natureza bélica, mas lá dentro o ambiente é calmo. Junto dos pavilhões da FIL, no Parque das Nações, o “War Room” abriga 30 membros das equipas de engenharia e de operações da Altice Portugal, sendo que neste centro de operações se asseguram as comunicações da Web Summit, não só gerindo as redes usadas no certame — wi-fi, fibra ótica e rede móvel — como também fazendo a cibersegurança do evento.
Foi neste espaço que Alexandre Fonseca, o presidente executivo da Altice Portugal, fez uma pequena conferência de imprensa, para dar o balanço de “um dia e meio” daquilo que descreveu como uma “mega operação”.
Segundo o líder da operadora, durante esse espaço de tempo foram estabelecidas um milhão e 100 mil sessões, sendo que nas redes da Altice Portugal cruzaram-se 24 terabytes de informação, 18 dos quais na redes wi-fi apenas. Estes valores, avançou, foram potenciados por “mais de 36 mil dispositivos únicos que já se ligaram aqui nesta rede e, destes, cerca de 30 mil em simultâneo”. Falando destes “números impressionantes”, Alexandre Fonseca disse que, perante os registos da passada edição — 88 terabytes de informação, três milhões e meio de sessões de wi-fi e cerca de 50 mil dispositivos —, a Altice Portugal está em linha “para provavelmente bater recordes do ponto de vista da informação e dos acessos”.
Mas para além dos valores avultados, o que o presidente da Altice Portugal quis mesmo destacar é tranquilidade das operações, frisando a ausência de incidentes até à data, até mesmo quando Edward Snowden realizou uma videochamada para a Altice Arena. Admitindo que “segunda-feira [data da participação de Snowden] foi um dia especialmente atribulado para as equipas de cibersegurança”, tendo havido tentativas de ataque e situações anormais. Alexandre Fonseca deixou claro que nenhuma resultou em incidentes e que tais ocorrências são fruto deste ser um “mega evento” e também daquela que é “a ameaça crescente de estarmos a viver uma vida cada vez mais conectada”.
À margem da conferência, Alexandre Fonseca disse ao SAPO24 que, apesar dos balanços apenas se fazerem no final, “até ao momento tudo está a correr muito bem”. Estamos a verificar um crescimento do ponto de vista de dispositivos e de dados transacionados, mas as nossas redes têm estado à altura”, garantiu o presidente da operadora.
E se em relação às passadas três edições “o balanço não podia ser mais positivo” — lembrando Alexandre Fonseca que Paddy Cosgrave, organizador da Web Summit, considerou a atuação da Altice Portugal “imaculada” —, de futuro o presidente da operadora diz-se preparado. “Penso que já demos provas claras de que somos a única entidade em Portugal, e diria mesmo a nível internacional, que consegue montar um certame desta dimensão, com esta densidade de dispositivos e de redes”, afirmou.
Um dos projetos de futuro avançados já este ano foi a instalação de uma célula 5G na Altice Arena, que “passa a estar já servida de uma infraestrutura permanente que vai ficar com 5G”. Para inaugurar esta rede, no mesmo dia em que a operadora renovou o contrato de patrocínio desta sala de espetáculos por mais 10 anos, a Altice fez uma videochamada entre este ponto no Parque das Nações e a sua sede nas Picoas, também em Lisboa.
No entanto, a rede 5G apenas está a correr de momento porque está a utilizar “frequências emprestadas pelo regulador”, como explicou Alexandre Fonseca durante a conferência, tendo dito ao SAPO24 que “infelizmente não se pode usar ainda em Portugal [de forma generalizada] porque não existe ainda uma licença comercial para se operar”.
Este tem sido um tópico contencioso nos últimos meses, lembrando o presidente executivo da operadora que “Portugal é um poucos países da Europa que ainda não tem uma data para o arranque do 5G”. “Só teremos para o final de 2020, isto assumindo que vamos ter nas próximas semanas ou meses ter um roadmap [roteiro] para Portugal, comunicado seja pelo regulador, seja pelo Governo”.
Recorde-se que a Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom) aprovou no dia 23 de outubro um projeto de decisão para a atribuição de frequências, incluindo as que serão usadas no 5G (quinta geração móvel), através de um leilão, a concluir em agosto de 2020. Estes prazos e as condições apresentadas pelo regulador foram contestados pelas operadoras, mas o presidente da Anacom defendeu-se com um anterior acordo que onde se previu que não haveria “modelo de negócio para o 5G antes de 2022″.
Neste capítulo, a Altice Portugal tornou pública a sua discordância com a Anacom e, no seguimento desse diferendo, Alexandre Fonseca deixou palavras duras ao regulador, acusando-o de “total incapacidade no dossier do TDT, tal como no do 5G e noutros dossiers, em responder à altura das expectativas e das necessidades do país em termos da inovação tecnológica no setor das telecomunicações.”
Ao SAPO 24, Alexandre Fonseca explicou que Portugal já parte com atraso na corrida ao 5G, sendo “um dos últimos países da Europa a lançar uma tecnologia que é disruptiva”. Porém, o presidente executivo da Altice Portugal explica que há mais consequências a ter em conta, pois não se trata apenas de um “impacto nas telecomunicações, que também é grande”, mas também “na economia nacional como um todo”.
“É sabido que as grandes multinacionais competem entre os diversos países onde operam pela atração do investimento, que se faz pela capacidade que essas empresas têm de gerar riqueza, serem mais eficientes e produtivas. O que acontece é que o 5G é uma tecnologia que vai permitir aumentar os esses níveis para as empresas. Ora, se as empresas portuguesas não tiverem acesso a essa tecnologia porque o país não tem 5G, significa provavelmente que vamos desequilibrar ainda mais a nossa balança comercial, porque esses investimentos dessas multinacionais vão para países que tenham essa infraestruturas”, avisou.
Nesse sentido, durante a conferência, ressalvando que a Altice Portugal não faz política, mas sim tecnologia, Alexandre Fonseca pediu que decisões sejam tomadas com urgência. Ao SAPO24, o líder da operadora lembrou, como já disse repetidamente, que “é fundamental que alguém tome uma decisão no sentido de, de uma vez por todas, Portugal ter uma estratégia e uma data para lançar o 5G”.
Mas esta é também uma “questão geopolítica” que extravasa o território nacional, apontando Alexandre Fonseca que a rede 5G assume uma importância tal que “está na base daquilo que tem sido a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China”. Nesse aspeto, perante a luta de gigantes e os avisos chineses, o líder da Altice Portugal considerou que a União Europeia “tem de ser pragmática, tem de tomar decisões do ponto de vista político rapidamente e não pode ficar nesta situação de limbo, de não decisão”. O CEO realçou, contudo, que a Huawei — empresa chinesa no olho deste furacão — não deixa de ser “ um parceiro do Grupo Altice”.
Apesar de todo o potencial revolucionário para as empresas e para as telecomunicações do 5G, Alexandre Fonseca opta por refrear as ânsias dos consumidores, avisando que não será para já que vão sentir diferenças de maior. “Para o cidadão comum, teremos de esperar mais um, dois, três anos até veremos efetivamente melhorias muito significativas”, concluiu.
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