Há histórias que, além de serem contadas nos livros, precisam de ser faladas e percebidas pela voz dos seus autores. Ao longo de 2024, o SAPO24 falou com vários escritores sobre os seus livros, dando lugar a conversas que, além da ficção ou da história, também fazem retratos do mundo em que vivemos.
Esta é uma seleção de 12 entrevistas que vale a pena recordar (ou ler pela primeira vez).
Hugo Gonçalves: “É mais fácil ser fascista numa sociedade livre do que ser livre numa sociedade fascista”
Hugo Gonçalves tem pensado muito no 25 de Abril. Não só porque foi a matéria-prima de "Revolução" — o seu romance de 2023, publicado pela Companhia das Letras —, mas porque também é o que inspirou a sua estreia no teatro, com a peça "A Madrugada que eu Esperava".
Mas não é apenas por ser fonte de inspiração que a Revolução dos Cravos permanece na cabeça do escritor, jornalista e guionista. É que o próprio reconhece que dificilmente faria o que faz sem que os ventos da liberdade tivessem soprado após esse fatídico dia.
Uma entrevista para ler aqui.
Controlar a ansiedade não é ter ansiedade zero. É perceber qual é normal e aprender a controlar a incapacitante
A pandemia terá feito aumentar em 25% os transtornos de ansiedade e os quadros de depressão em todo o mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde.
Contudo, não foi a pandemia que fez a saúde mental cruzar-se com a vida de Sara Crispim. A psicóloga clínica faz disso vida e a experiência levou-a a especializar-se em ansiedade — e o confinamento a fazê-la perceber que era necessário dar acompanhamento online. Publicou o livro "A ansiedade não manda em mim" para nos fazer perceber que é possível controlá-la.
Saiba mais aqui.
Tess Gunty: “Se a literatura não tivesse o poder de afetar o curso da história, as pessoas não teriam medo dela”
Cristãs místicas, moderação de comentários em obituários online, mommy issues. Todos estes temas e muitos outros compõem o monumento que é "O contrário de nada", romance que descreve de forma tão violenta quanto engraçada o declínio da cidade média americana.
Tess Gunty, a sua autora, visitou Portugal e falou com o SAPO24 sobre proibições de livros, como se equilibra humor com desgraça e porque é que não confia em alguém que "diz que não gosta de ficção contemporânea".
Uma conversa para ler aqui.
Peter Frankopan: “Uma boa coisa da nossa espécie é não concordarmos uns com os outros”
O currículo do Professor britânico Peter Frankopan é impressionante. Tem ensinado História Mundial nas universidades mais prestigiadas, Oxford, Cambridge, Yale, Harvard, Princeton, Nova Iorque (NYU) e King’s College.
E ainda arranja tempo para escrever livros monumentais, como “A História do Mundo, do Big Bang até aos dias de hoje”, publicado em Portugal pela Planeta. A sua abordagem histórica inclui um parâmetro até agora pouco usado, as mudanças ambientais e geo-económicas.
Veio a Lisboa dar uma conferência e tivemos oportunidade de falar com ele sobre as grandes e pequenas questões civilizacionais.
Recorde aqui a conversa.
Telma Tvon: “Todos, não só os brancos, mas inclusive nós, negros, fomos educados a ter medo uns dos outros”
"Um Preto Muito Português" conta a história de um jovem afrodescendente ficcional, mas que bem podia representar milhares de pessoas. Com este romance, Telma Tvon quis "dar voz, dar visibilidade" a uma experiência tantas vezes ignorada e minimizada — e apontar o dedo à forma como Portugal ainda se mantém um país de discriminação e preconceito.
Uma entrevista para ler aqui.
Katherine Vaz: “O boca-a-boca continua a ser o melhor método para um livro receber um maior número de leitores”
Na vida de Katherine Vaz cruzam-se as influências de dois países: os EUA e Portugal. Para a escritora, as raízes lusas são fonte de inspiração para os romances que escreve e que retratam o país no estrangeiro.
Inspirado em factos reais, o livro "A Linha do Sal" traz uma história de amor e imigração entre Maria e John Alves. O SAPO24 falou com a autora, que garante que uma obra assim não se escreve sem pesquisa tradicional e que o sucesso se faz das conversas entre leitores para promover livros.
Leia aqui a entrevista.
Paulo Finuras: “É mesmo tudo sobre sexo. O poder é apenas uma forma de obter mais sexo”
O bio-sociólogo Paulo Finuras, professor na Business & Economics School of Lisbon (ISG) dedica-se ao estudo das alterações do comportamento humano à luz da evolução da espécie.
Tem quatro livros publicados, dos quais “As Outras Razões - como a evolução dá sentido àquilo que fazemos”, serviu de base para esta conversa. Levar a genética em consideração talvez nos ajude melhor a compreender porque somos como somos.
Leia mais aqui.
Isabel Rio Novo: “É impressionante, a lucidez de Camões. Consegue pôr o dedo na ferida da própria natureza humana, que cinco séculos depois não é assim tão diferente”
A conversa com Isabel Rio Novo foi uma viagem emocionate. O tema em cima da mesa foi a sua nova biografia de Luís Vaz de Camões. O livro cumpre a dupla função de nos informar sobre um mundo passado e nos deleitar com descrições coloridas do Portugal e do Oriente da época gloriosa - que afinal não era vivida tão gloriosamente.
Leia aqui a entrevista.
Os corvos fazem-no, as orquídeas também e, claro, os humanos. Há batoteiros em toda a parte e Lixing Sun explica-nos porquê
Lixing Sun é zoológo e escreveu o livro “Os Mentirosos da Natureza e a Natureza dos Mentirosos”, que nos desafia a questionar as premissas morais sobre a mentira e a batota e o papel que desempenham para manter o mundo em equilíbrio.
Uma primeira nota que é importante fazer sobre o livro é que este é divertido. Podia ser um livro técnico ou científico, o autor tem currículo de sobra para isso.
Uma conversa para ler aqui.
Arturo Pérez-Reverte: “Perdemos a inocência que nos permitia sair à rua com vontade de mudar o mundo. Agora, se saímos à rua, é para nos vingarmos dele”
Em “Revolução”, o afamado escritor espanhol Arturo Pérez-Reverte coloca o seu protagonista no México do início do século XX, no centro dos eventos que dão o nome a este romance. Pretexto então para uma conversa sobre a guerra, a condição humana e sobre as revoluções — porque falham, mas também porque é necessário continuar a fazê-las.
Uma entrevista para ler aqui.
Deus, a Ciência e as Provas. “Não queremos demonstrar que Deus existe, queremos apresentar provas”
A antítese entre a ciência e a religião é um assunto que já não desperta grandes polémicas. Depois de séculos em que, aqui no Ocidente, o assunto provocou muitas mortes na fogueira, a Igreja ocidental perdeu força e deixou de entrar nessas polémicas.
Mas agora surge um novo ângulo: dois cientistas franceses, Michel-Yves Bolloré e Olivier Bonnassies, publicaram um livro, “Deus, a Ciência e as Provas”, onde tentam pacificar a questão, afirmando que a existência Deus pode ser provada cientificamente. Ou seja, que não há contradição entre ciência e fé.
Leia esta conversa aqui.
Francisco Mota Saraiva, Prémio Saramago 2024: “É quase como uma atividade para expiar todos os fantasmas que tenho dentro”
Um jurista que é escritor ou um escritor que é jurista. Francisco Mota Saraiva, Prémio Saramago 2024 e Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís em 2023, diz que escreve como quem tem "dois empregos que obrigam a uma vigilância constante". O empenho dura há vários anos e já foi reconhecido com galardões. Mas, no fim de contas, o que importa é continuar a escrever, porque há vozes que não se calam.
Em entrevista ao SAPO24, garante que não há segredos para o sucesso, só trabalho. Apesar de ter lidado com a rejeição de editoras, fazer edições de autor nunca foi um caminho, porque não acredita na "literatura sob esse ponto de vista".
Uma entrevista para ler aqui.
Comentários