No culminar de uma verdadeira semana de nervos, Pedro Sánchez, até aqui líder do partido socialista espanhol (PSOE), demitiu-se no final de uma reunião do comité federal em que a sua proposta de realização de eleições primárias no partido, primeiro, seguidas de congresso extraordinário, foi derrotada por 133 votos contra e 107 a favor.

A reunião de hoje foi particularmente acesa, conta o El País. Durou mais de dez horas e a equipa de Sanchéz terá colocado uma urna de voto na sala para que se votasse a sua proposta de primárias e de congresso. Supostamente, segundo relato do jornal espanhol, tal terá sido feito “às escondidas” o que provocou um ambiente de confronto que levou à interrupção da votação.

Os 250 delegados do comité federal do PSOE acabaram por fazer a votação de braço no ar e Sánchez que anunciaram previamente a sua decisão de se demitir, caso perdesse, perdeu e demitiu-se

Os críticos do até aqui secretário-geral do PSOE apresentaram,em consequência, uma moção de censura que a mesa do comité, maioritariamente constituída por elementos afetos a Sánchez, recusou debater, mas que não evitou o desfecho nem da votação, nem da consequente demissão

Num PSOE em grande convulsão, a presidente da Junta da Andaluzia, Susana Diaz, tem sido um dos principais rostos da oposição a Sánchez, e da luta pela sua destituição do cargo de secretário-geral por alegada falta de legitimidade em função da demissão de 17 membros do Comité Executivo  do partido, na quarta-feira.

As demissões de quarta-feira aconteceram depois de, no dia anterior, Sánchez ter anunciado a intenção de realizar primárias no partido a 23 de Outubro, e um congresso extraordinário, a 12 e 13 de Novembro.

No pano de fundo da guerra aberta que instalou no  PSOE nesta semana estão dois factos maiores: seis derrotas eleitorais consecutivas, as mais recentes no passado domingo na Galiza e no País Basco, e a posição dos socialistas face a uma solução de governo liderado por Mariano Rajoy, do PP, que tendo vencido as eleições legislativas desde há um ano não tem conseguido maioria absoluta nem consenso parlamentar para constituir governo.

Sánchez discorda totalmente de uma conivência dos socialistas com uma solução de governação de Rajoy - e que poderia passar pela abstenção em sede parlamentar - e esta questão era assumida por si como um ponto de ruptura na liderança do partido. O que acabou por acontecer com a votação de hoje.

Nesta luta interna, nomes históricos do PSOE, como Felipe González, Joaquín Almunia e Zapatero têm vindo a palco na contestação da Sánchez.