É uma tendência que tem aumentado nos últimos dias para quem está confinado às quatro paredes lá de casa devido ao período de quarentena: procurar artimanhas e truques para passar melhor o tempo. Bom, na verdade não é tendência nenhuma, mas é o que se tem passado comigo. Portanto, alinhem só com estas palavras nada científicas que se seguem. Porque eu já faço a cama, visto a roupa de rua e vi quase todos os vídeos possíveis no YouTube para quem vai começar a trabalhar a partir de casa. Isto, claro, sem sair dela. (PS: Comigo, não resultam.)

Uma das primeiras coisas que tentei levar a cabo assim que me foram dadas instruções pela entidade patronal para ficar em regime de teletrabalho, foi ir à procura de um livro que sabia que andava perdido algures aqui por casa. Repare o prezado leitor que este que escreve estas linhas não faz parte daquele tipo de jornalistas que exibe bonita estante, no noticiário da noite, com muitos exemplares herdados à boleia de uma vida. Não, os meus, infelizmente para eles, além de serem poucos e muito específicos — são quase todos eles sobre ou de filmes — andam moribundos e espalhados por gavetas, armários e locais pouco indicados para a sua preservação cuidada — leia-se, no chão. Porém, lá encontrei aquilo que pretendia: "O Marciano", romance de Andy Weir, que Ridley Scott iria adaptar para a tela gigante, com o ator Matt Damon no papel principal.

Ora, servem estes parágrafos para esclarecer que há um propósito: é que a personagem, o astronauta Mark Watney, ficou sozinho durante muito tempo. Não tinha com quem falar, com quem partilhar emoções, dores, maleitas — e passou por tempos complicados. E eu precisava de um pouco de noção. Especialmente porque a minha secretária, aquela onde trabalho, está ao lado de uma janela grande que me mostra o apetitoso exterior. Tinha que me fazer perceber que, apesar do sol apetitoso lá fora, tenho de arranjar artimanhas cá dentro de quatro paredes. Mark Watney estava sozinho. E, além de sozinho, não tinha Internet. Depois, havia outra coisa: não conseguia falar com ninguém e estava em Marte. Mas Watney nunca baixou os braços ou deixou de ter sentido de humor. Nem tempo para morrer de fome, coitado. Foi contra todas as probabilidades, mas embarcou numa missão obstinada para se manter vivo. Eu, estou bem acompanhado, em casa, tranquilo. Portanto, vou só reler o livro, recomendá-lo e deixar de ser queixinhas. Haverá tempo de sobra para ir à rua brincar.

Assim, eis algumas coisas que estiveram na ordem do dia e que vale a pena a ter em conta.

Atualidade. Ponto de situação Covid-19 em Portugal: 43 vítimas mortais (até ao momento), 2.995 casos confirmados e 22 recuperações. E foi também o dia em que a palavra mitigação entrou no nosso dicionário ou não tivesse sido esta quarta-feira o dia em que o governo anunciou que o país está a entrar na fase se mitigação. Traduzindo por miúdos, significa que se entrou na fase mais crítica. Se não sabe o que é a fase de mitigação, consultar o link aqui.

O dia fica também marcado pela vista de António Costa ao Hospital Curry Cabral, em Lisboa, assim como pela série de medidas de apoio aos lisboetas indicadas por Fernando Medina.

A nível internacional, a OMS alerta contra levantamento de restrições antes do tempo, Donald Trump diz que os Estados Unidos já perderam "milhares e milhares de pessoas por ano devido à gripe" e que, por isso, não fecha o país, Bolsonaro quer ver o Brasil retomar a normalidade e Espanha está já perto do pico do surto.

#FicarEmCasa Os tempos atuais não são normais — de todo. E a incógnita comanda o futuro. Sabemos que a pandemia vai passar, mas não sabemos quando. Mas a incerteza custa e não é fácil. É mais fácil para uns ficar resguardados em casa do que para outros. E foi precisamente essa a questão que o SAPO24 colocou a António Coimbra de Matos, psiquiatra e psicanalista. Aos 90 anos, diz que não se recorda de nada assim. Portanto, quando questionado "porque há tanta gente a sair à rua sem necessidade" responde apenas: Porque "fomos habituados a obedecer de mais". Leia a entrevista completa aqui.

Rubricas. A leitura do último texto ("Nunca fomos tão iguais") de Patrícia Reis da rubrica Quarentena em Casa.

Sumo de uva. Como provar vinho da melhor forma? Eu não sei, muito menos se for degustar o dito com alguém do gabarito de Sir Thomas Sean Connery (o ator escocês vai fazer 90 anos em agosto, portanto, Sir Connery... fique em casa!), mas Cláudio Martins, wine advisor e embaixador do vinho mais caro do mundo, sabe. Quer saber mais desta aventura? É só ver o vídeo numa conversa conduzida pelo nosso João Dinis.

Se quiser mais conteúdo do género, então é passar pela nova área do SAPO24 (Acho Que Vais Gostar Disto) em que procuramos ter conversas regulares sobre como estamos a reorganizar as nossas vidas em tempos de pandemia, sugerir coisas que podemos fazer para tornar a vida que agora temos melhor, e também tentar entender como a ciência nos ajuda a perceber o que se passa. (Há também uma rubrica com sugestões de séries, filmes, livros, música e todo o universo da cultura pop).

Ah, já que estamos a falar de coisas gostosas, não podia deixar de alertar: no último podcast sobre NBA do SAPO24, "Bola ao Ar", houve convidado especial. A voz, se gosta de basquetebol e já segue o desporto da bola laranja há uns anos, é incontornável. Uma pista? É "faaaaantástica"! Pode ouvir aqui.

Tecnologia. O novo coronavírus não vai dar tréguas a nível económico e são muitos os sectores que vão precisar de apoios. A tecnologia não é diferente e muitas empresas vão ter de enfrentar muitos desafios. No entanto, é de recordar que da crise de 2008, nasceram empresas como a Airbnb, Uber, Pinterest ou Square. Ou seja, dá curiosidade em saber como o Covid-19 vai mudar a vida das startups (no pior e no melhor). Para ler mais aqui. 

Recomendação. A série "The English Game", disponível na Netflix. É uma boa solução para se ver em casal (pelo menos no meu caso). Porquê? Porque dá para dizer à cara metade (como eu fiz) que um dos responsáveis é o criador de "Downton Abbey" — e na verdade é uma mini-série que explica o porquê do futebol ser muito mais do que um mero jogo de futebol. E vai aos primórdios da Taça Inglesa (a FA Cup).

Sem mais, o meu nome é Abílio dos Reis e hoje o dia foi mais ou menos assim.

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