De acordo com o Le Figaro, o incêndio, cuja gravidade está por determinar, teve origem num andaime localizado junto ao pináculo da Catedral de Notre-Dame, um dos monumentos históricos mais visitados da Europa. A catedral estava a ser alvo de renovações, estando várias secções sob andaimes para se procederem a trabalhos de restauração.
Ao diário francês, André Finot porta-voz da catedral, informou que o fogo foi reportado às 18:50 locais (17:50 em Lisboa), tendo o edifício sido evacuado. Para o local foram mobilizados cerca de 400 bombeiros e foram usados 18 canhões de água para combater este incêndio. Um dos bombeiros ficou gravemente ferido, segundo relatos da agência Reuters.
Nas imagens e vídeos captados é possível ver as chamas a deflagrar no topo desta catedral em estilo gótico, com uma enorme coluna de fumo a elevar-se sobre a cidade. O efeito prolongado do fogo já afetou toda a estrutura do teto e levou, inclusive, à queda do seu pináculo, estando a alastrar-se para o interior do edifício. "Não restará nada da estrutura (do teto), que data do século XIX de um lado e do XIII do outro", lamentou Finot.
As autoridades no local temeram não ser capazes de conter o fogo a tempo de impedir o colapso da estrutura principal, incluindo o campanário norte. No entanto, o comandante da brigada dos Bombeiros Sapadores de Paris, general Jean-Claude Gallet, garantiu ao canal de televisão BMFTV que esta tinha sido "salva e preservada". "Podemos considerar que as duas torres do campanário norte de Notre-Dame foram salvas", disse Gallet, acrescentando que "a estrutura de Notre-Dame foi salva no seu todo".
O incêndio está "totalmente extinto", anunciou esta manhã a brigada de bombeiros da capital francesa, após várias horas de combate às chamas.
O incêndio está já foi extinto, comunicou o porta-voz do Corpo de Bombeiros de Paris, o tenente-coronel Gabriel Plus, horas depois de relatar que o fogo estava "completamente sob controlo", mas "parcialmente extinto" com "incêndios residuais para extinguir".
“O fogo foi extinto na sua totalidade. Agora, esta fase é dos especialistas”, declarou numa conferência de imprensa em frente à catedral.
A mesma fonte referiu ainda que os serviços de emergência estão atualmente "a examinar o movimento das estruturas e a extinguir os focos residuais" e que centenas de bombeiros vão continuar a trabalhar todo o dia. Vão também ser retiradas algumas obras de arte do local com a ajuda de especialistas.
Foi uma corrida contra o tempo para tentar salvar o património artístico e religioso de valor incalculável que se encontra guardado nas suas instalações, sendo que se sabe que, do seu espólio, a Coroa de Espinhos, uma relíquia católica que só raramente é exposta em público, e a túnica de São Luís, foram recuperadas.
Uma imagem captada por um drone mostra a magnitude dos estragos.
Uma tarde e noite de incertezas
Laurent Nunez, secretário de estado do Ministro do Interior de França, assumiu em determinado momento que podia não ser possível conter o fogo a tempo de salvar o remanescente do edifício. Também Gallet tinha manifestado incertezas quanto ao evoluir da situação, sendo que, por volta das 19:30, um representante dos Bombeiros de Paris tinha dito à Reuters que as próximas hora e meia seriam "cruciais" para perceber se as chamas podiam ser contidas.
A Proteção Civil de França usou o Twitter para informar que "todos os meios estão a ser utilizados, exceto aviões de combate às chamas, que, se agirem, podem levar ao colapso de toda a estrutura da catedral".
Ainda não se sabem quais as causas do incêndio, sendo que a agência Reuters cita o canal de televisão France 2, que indicou que a polícia está a tratar o incidente como um acidente. De acordo com o Le Monde, a Procuradoria de Paris anunciou que vai abrir um inquérito para apurar "destruição involuntária por fogo", ou seja, não parece apontar para uma investigação de cariz criminal.
A catedral, cuja construção teve início no século XII, é um dos monumentos mais acarinhados em França e mais visitados na Europa. De acordo com o seu website oficial, o monumento católico recebe cerca de 13 milhões de visitantes por ano, tendo perto de 30 mil por dia. Edificada em estilo gótico, a catedral é principalmente conhecida pelas gárgulas esculpidas em pedra na sua estrutura exterior, assim como os seus vitrais e os seus arcobotantes ligados à sua principal nave.
Já depois de se saber que a estrutura do edifício estava a saldo, Emmanuel Macron, presidente de França, esteve no local a discursar à nação, prometendo reconstruir a Catedral e lançando uma subscrição nacional. O incêndio levou o líder francês a adiar a comunicação que faria hoje à tarde com um pacote de medidas em relação às reivindicações dos 'coletes amarelos', devido ao "terrível incêndio que devasta a Catedral de Notre-Dame de Paris", anunciou a presidência francesa.
Antes, Macron publicou na sua conta oficial do Twitter uma mensagem de pesar pelos acontecimentos: “Emoção de toda uma nação. Os meus pensamentos estão com todos os católicos e todos os franceses. Como todos os nossos compatriotas, estou triste por ver arder esta parte de nós”.
Também Édouard Philippe, Primeiro-Ministro de França, exprimiu pesar pela destruição de Notre-Dame. "Não há palavras para a nossa tristeza, mas ainda estamos na luta. Esta noite os bombeiros estão a lutar, heroicos, contra o fogo, para preservar o que é possível", escreveu no Twitter.
A presidente da Câmara Municipal de Paris reagiu, utilizando a mesma rede social para dizer que "um terrível fogo está a decorrer na Catedral de Notre-Dame em Paris", informando que os Bombeiros da cidade "estão a tentar controlar as chamas", estando "mobilizados no local em estreita conexão com a Diocese de Paris". Já o vice-presidente da câmara, Emmanuel Grégoire, adiantou que "uma missão especial foi iniciada para tentar salvar todas as obras de arte que for possível".
A conta oficial da Polícia de Paris, cujo edifício se localiza em frente à Catedral de Notre-Dame, também utilizou as redes sociais para pedir para "evitar a zona e facilitar a passagem dos veículos de socorro e de intervenção".
Vários políticos e governantes de todo o mundo já reagiram para exprimir a sua solidariedade com os franceses, incluindo Angela Merkel, Jean-Claude Juncker e Donald Trump.
Em Portugal, umas das primeiras reações chegou do Presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa enviou uma mensagem ao seu homólogo francês com um "abraço sentido". "Uma dor que nos trespassa o olhar e logo nos marca a alma, Paris sempre Paris ferida na sua Catedral em chamas, um símbolo maior do imaginário coletivo a arder, uma tragédia francesa, europeia e mundial", lê-se na mensagem.
O primeiro-ministro, António Costa, por seu turno, transmitiu ao chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, e à presidente da Câmara de Paris, Anne Hidalgo, mensagens de solidariedade pelo "terrível incêndio" na Catedral de Notre-Dame. "É um pouco da nossa história da Europa que desaparece sob as chamas", escreveu António Costa na rede social Twitter.
Sendo um importante monumento católico em França, o Vaticano também reagiu em comunicado.“Exprimimos a nossa proximidade com os católicos franceses e com a população parisiense. Rezamos pelos bombeiros e por todos os que fazem o possível para enfrentar esta situação dramática”, disse o porta-voz do Vaticano.
A UNESCO, órgão das Nações Unidas que tem como um dos seus vários propósitos a salvaguarda do património cultural, também já informou que vai estar ao lado da França para recuperar este monumento. A Catedral de Notre-Dame está inscrita como Património Mundial da Humanidade desde 1991.
Parte integral da história francesa - mais recentemente, foram os seus sinos que tocaram depois dos atentados de 2015 em Paris -, a Catedral de Notre-Dame passou também a fazer parte do imaginário comum ao ser o cenário de "O Corcunda de Notre-Dame", obra literária de Victor Hugo publicada em 1831, mais tarde alvo de várias adaptações ao cinema, incluindo a famosa versão de animação da Disney de 1996.
[Última atualização às 09h33]
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