Vento, chuva, agitação. A depressão Elsa está a fazer estragos: há que prevenir para que não faça mais

Pedro Soares Botelho
Pedro Soares Botelho

Chove. Estou à beira do Brasília, diante da praça Mouzinho de Albuquerque, no centro do Porto, quando a minha mãe me diz, pelo telefone: "fiquei sem carro, levei uma traseirada". Uma paragem, uma estrada molhada, um acidente. Tanto ela como o outro condutor estão bem — mas este é só um episódio das consequências do mau tempo.

Mais adiante, já à porta da Boémia — que tem os melhores croissants de chocolate do Porto — o céu desabava. Ingenuamente agarrado a um saquinho de doces, puxei o fecho do blusão grosso até aos lábios e encerrei-me num curto sarcófago: abri a porta.

Da Boémia, que fica no final da avenida de França, já na entrada da rotunda da Boavista, até à biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (onde estou a escrever este texto), a depressão Elsa foi visível. Não só em mim, mas nas árvores, nos guarda-chuvas revirados, nos lençóis de água.

Isto é, contudo, o nada. Durante a noite, as rajadas de vento vergaram postes no Minho, destruíram vacarias em Vila do Conde e cortaram o metro em Rio Tinto. Em Santo Tirso e Almada, um total de 16 pessoas ficaram desalojadas.

Também o fornecimento regular de energia elétrica foi interrompido hoje “em milhares de lares” devido ao mau tempo, sendo Viana do Castelo, Braga, Porto e Vila Real os distritos mais afetados, anunciou a EDP Distribuição.

Agora, há prevenção em Amarante. Com o Tâmega a trazer à cidade, no extremo oriental do distrito do Porto, as águas que têm também caído em Espanha, espera-se que as inundações nas ruas amarantinas mais rentes à cota do rio não assistam à repetição de um cenário conhecido.

Em Chaves, o mesmo Tâmega já galgou as margens, prevendo-se que continue a subir, inundando zonas comerciais e casas no centro da cidade ao final desta tarde e durante a madrugada.

Por todo o país a situação repete-se. Até ao meio dia, foram contadas cerca de 1.800 ocorrências no continente devido ao mau tempo. Os distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro e Viseu os mais afetados, segundo a Proteção Civil.

Se no Norte há metro cortado, no Tejo, há travessias fluviais canceladas: sem prever a retoma do serviço, a Transtejo/Soflusa anunciou esta tarde que “estão suspensas todas as ligações fluviais da Transtejo e Soflusa”. Na ponte 25 de Abril também há condicionamentos: a circulação de veículos pesados de mercadorias com lona e de ciclomotores foi interditada pelas 18:00, enquanto a circulação ferroviária faz-se de forma alternada, informou a Proteção Civil.

Mais grave, na margem sul, a queda de uma árvore no Montijo, distrito de Setúbal, matou hoje o condutor de um veículo pesado. “Temos o registo de vítima mortal em Canha, concelho do Montijo, devido à queda de uma árvore sobre um veículo pesado de mercadorias, às 15:55 de hoje”, disse à Lusa o comandante Rui Laranjeira, da ANEPC.

E em Sintra, a serra foi mesmo fechada ao trânsito, entre os cruzamentos da Azóia e da Portela e dos Capuchos Portela. O Reino do Natal, no Parque da Liberdade, no centro da vila velha, também foi encerrado logo à hora de almoço.

Mas porque a depressão não se faz só de vento forte e chuva abundante, há que lembrar que também junto ao mar, nas praias, pontões e paredões, o risco é elevado, recomendando as autoridades que não haja aproximações desnecessárias.

Penso muito nisto, aqui a pingar o chão da biblioteca: riscos desnecessários. Não vale a pena sair para aquela fotografia aparecer nas emissões dos canais de televisão; não vale a pena fazer um direto nas redes sociais com as ondas a bater com força; muito menos compensa ir para o meio da serra ver a agitação das árvores.

Mais vale ficar em casa. Olhe, porque não descobrir as poesia-colagens de Rui Pires Cabral? Ou conhecer a Terra Prometida, nesta reportagem da Catarina Maldonado Vasconcelos para a TSF?

Logo que este mau tempo passe, pode ir para a rua (não convém é que seja para as zonas mais afetadas). Por exemplo, dá para ir para aqui, a Fundação Manuel António da Mota, no Porto, onde hoje foi inaugurada a exposição “Subiu a construção como se fosse máquina”, com obras inéditas de Luísa Mota, numa homenagem a Manuel António da Mota, avô da artista, que é a figura principal da série de trabalhos que compõem a mostra. A entrada é gratuita.

Na capital, nota para o cone-concerto “Fantasia da Disney”, uma projeção do filme de animação da Walt Disney, "Fantasia" com interpretação ao vivo da banda sonora pela Orquestra Gulbenkian, dirigida pelo maestro Nuno Coelho. Amanhã às 21, no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Repete dia 21 às 19:00 e dia 22 de dezembro às 18:00.

Entretanto, eu vou comer os tais croissants, deixar que a VCI desentupa e fazer isso mesmo: fechar-me em casa, depois de já ter arrumado os caixotes do lixo que estavam na rua, e aninhar-me no sofá, fazendo votos de que não seja preciso sair (os jornalistas têm a mania de só sair de casa quando há desgraças).

Eu sou o Pedro Soares Botelho e hoje a Elsa deixou-me assim: encharcado.

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