Tempo de zarpar. Consolo a quem fica e ânimo a quem parte

Pedro Soares Botelho
Pedro Soares Botelho

Zarpar. As circunstâncias em que conheci esta palavra andam longe da água. Foi no terceiro ano, havia eu de ter uns sete anos, e a professora Cátia desafiou-nos a encontrar no dicionário uma palavra difícil, uma que ela não conhecesse. Escolhi esta — ganhei.

Nunca mais a esqueci. Tem esse significado marítimo de ir. De largar o porto e partir. Voltou-me hoje à cabeça por causa do NRP Sagres. O grande navio branco da Marinha Portuguesa fez-se este domingo ao mundo, partindo de Lisboa para uma viagem de circum-navegação que durará 371 dias.

A bordo vão 142 elementos de guarnição, entre os quais quatro mulheres, bem como 50 instruendos da Aporvela — a Associação Portuguesa do Treino de Vela e dois investigadores do projeto SAIL, numa viagem que se insere nas celebrações do quinto centenário da circum-navegação de Fernão de Magalhães.

O Miguel Morgado conheceu os Portugal. Uma família da Nazaré que foi a Santa Apolónia ver o navio zarpar. A bordo seguia Wilson, 31 anos. Vem de famílias de mareantes, mas vai agora correr os mares longe do canhão nazareno.

“Choro de orgulho e também de dor da separação”, diz a mulher do marinheiro.

Terminada a cerimónia e o momento musical que lhe sucedeu, larga-se o Sagres. A guarnição manipula as espias (cabos de amarração ou atração), utiliza as malaguetas (cavilhas ou pinos onde estão amarrados os cabos), iça as velas, controla os lemes e a embarcação segue com o vento a favor, tendo a sua primeira paragem oficial em Tenerife, nas ilhas Canárias, em Espanha.

“Magalhães desfez a quadratura do círculo. Deu-nos um mundo redondo e abriu horizontes a novos mundos, povos, culturas, motivado pela riqueza das especiarias das índias e pela possibilidade do comércio em que o cravinho, não o nosso ministro da Defesa, mas o arbusto de sementes aromáticas, providenciava o incentivo para uma economia mundial emergente”, notou Ricardo Serrão Santos, durante o discurso a bordo.

Porém, o mar de hoje não é o de Magalhães. Não que o dele fosse perfeito, nessa idade que Portugal ainda teima em desenhar cheia de amizade e pacatez. Agora, António Maurício Camilo, o comandante do navio-escola, admitiu a possibilidade de ao longo da viagem terem de enfrentar “situações anómalas”, decorrentes das alterações climáticas, mas ressalvou que a guarnição está “preparada para isso”.

O navio-escola Sagres vai passar por mais de 20 portos de 19 países diferentes.

Depois da primeira paragem em Tenerife, seguem-se a cidade da Praia (19 de janeiro), Rio de Janeiro, Brasil (10 de fevereiro), Cidade do Cabo, África do Sul (27 de março), Maputo (09 de abril), Jacarta (29 de maio), Tóquio (18 de julho), Honolulu (Havai), nos Estados Unidos (27 de agosto) e Cartagena das Índias, Colômbia (05 de dezembro).

Em 30 de dezembro, o navio-escola Sagres chega a Portugal, mais precisamente, a Ponta Delgada, nos Açores, estando o regresso a Lisboa agendado para 10 de janeiro de 2021.

Aqui à beira da segunda-feira, zarpemos para mais uma semana no mundo que gira cada vez mais depressa do que o suave sopro nas velas de um navio.

Mas como ainda só estamos à beira, sentados na margem do oceano semanal, importa lembrar que hoje é noite de ouro — noite de globos. A edição deste ano dos Globos de Ouro arranca madrugada fora. O Abílio dos Reis esteve a olhar para a história do prémio e aponta para onde devemos olhar.

Sem globo, ouro ou navio, eu sou o Pedro Soares Botelho e hoje o dia foi assim.

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