Orgulhosamente acompanhados

Tomás Albino Gomes
Tomás Albino Gomes

Longe parece ir o tempo em que Portugal vivia orgulhosamente só na Península Ibérica, onde o milagre português no combate à pandemia contrastava com o país vizinho do outro lado da fronteira encerrada, apenas com pontos de passagem exclusivamente destinados ao transporte de mercadorias e a trabalhadores transfronteiriços.

Só, Portugal nunca esteve bem. Se não morre da doença, morre da cura. Se no século XX, a ausência da II Guerra Mundial levou as balas, mas trouxe a fome e a pobreza, em 2020 evitaram-se males maiores durante uma pandemia mundial, da qual o país também não saiu incólume com graves perdas económicas em setores fundamentais como o Turismo, um dos pilares da economia nacional, e as economias das geografias fronteiriças que tanto dependem do consumo e transações com Espanha. É por isso que o dia de hoje teve um significado tanto simbólico como prático.

Espanha, outrora vista como um dos países mais afetados pela pandemia no mundo, atualmente o sexto, é olhada como país seguro, desde que o número de novos casos caiu da casa dos milhares para as centenas. Prova disso é, por exemplo, segundo os dados avançados pela BBC, que o Reino Unido vá incluir o país no seu corredor aéreo, ao ponto que Portugal não deverá ser incluído ou, num cenário intermédio, não existirão voos com destino a Lisboa.

É neste novo cenário em que, hoje, Espanha regista 8 mortes provocadas pela Covid-19 e 149 novos casos de infeção, e Portugal 3 óbitos e 313 novos casos, que reabrem as fronteiras.

Numa cerimónia que tinha sido anunciada como rápida e simbólica os chefes de Estado e de Governo de Portugal e de Espanha estiveram hoje reunidos para assinalar a reabertura da fronteira. A cerimónia foi simbólica, discreta e teve duas partes — uma em Badajoz e outra em Elvas.

De máscara na cara, destapou-se a vista, Ó Elvas Ó Elvas, Badajoz à vista. Há porta aberta para os turistas e para os fluxos de pessoas e bens. Trocados votos de felicidade entre chefes de governo e chefes de Estado abriu-se portas à necessidade de cooperação até na convivência com o vírus.

Hoje já não estamos nem sós, nem orgulhosos com várias das intervenções políticas quer do governo, de membros do partido que lidera o executivo, quer da oposição a subir de tom. Mas se há coisa que aprendemos com o passado é que a solidão e o orgulho não trazem nada de bom. É nessa base que a Direção-Geral da Saúde não esconde as dificuldades, promete aprender com elas e fazer melhor amanhã do que fez ontem. Agora, numa altura complicada, um maior fluxo de pessoas pode também agravar o desafio.

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