Depois da despedida àquele que “nunca quis ser herói", vem aí uma semana de regressos

António Moura dos Santos
António Moura dos Santos

Domingo arrancou com a despedida final a Jorge Sampaio. O luto nacional, sentido desde a fatídica má notícia que se soube na sexta-feira de manhã, teve hoje como expressão a sessão de homenagem ao ex-Presidente da República no Mosteiro dos Jerónimos e a cerimónia fúnebre no Cemitério do Alto de São João.

No primeiro momento, muitos assistiram de fora, através de um ecrã gigante, os discursos efetuados nos Jerónimos e as peças interpretadas em honra de quem viveu a amar a música.

António Costa recordou um “vigilante defensor da democracia", Eduardo Ferro Rodrigues lembrou que na política também se fazem amigos e o que partiu “vai perdurar e inspirar muitas gerações”, Marcelo Rebelo de Sousa destacou Sampaio pelo seu amor por “Portugal pela fragilidade" e vaticinou-o como um dos "maiores", que "nunca quis ser herói, mas foi".

Já os filhos de Sampaio, Vera e André, falaram num “homem bom, atento e disponível, para quem as pessoas contavam acima de tudo, não as pessoas em geral, mas cada pessoa com nome e rosto” e, enquanto político, “popular sem ser populista, sempre próximo sem nunca banalizar a proximidade, que foi estadista e simultaneamente cidadão comum, que foi amado sem gostar de ser venerado”.

Foram eles que acompanharam a mãe, Maria José Ritta, até ao Alto de São João onde se deram as derradeiras despedidas públicas — na retina fica o momento emocional em que Marcelo Rebelo de Sousa devolveu a bandeira que envolvia o caixão do estadista à lutuosa e esta beijou-a.

Mas se este domingo foi de despedida, a semana que se segue traz retornos, alguns bastante menos bem-vindos que outros.

Sinal de que o verão pode estar a caminhar em passos largos para o seu fim, uma depressão vai abater-se sobre Portugal, trazendo massas de ar quentes; o que é que isso significa? Chuva, muita, de tal maneira que tanto o Instituto Português do Mar e da Atmosfera como a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil lançaram hoje alertas quanto ao risco de cheias — o aviso é especialmente direcionado para as regiões que vão desde Lisboa até ao Algarve, percorrendo toda a costa.

Mas além da chuva, outro sinal de que as férias chegaram ao fim é o regresso às aulas. Esta semana, mais de um milhão de alunos regressam às aulas. Apesar do país contar já com um plano de vacinação avançado e da prevista redução de restrições avizinhar-se, os estudantes regressam às escolas com regras semelhantes às do ano passado: há corredores de circulação, os alunos continuam a estar apenas com os colegas da sua “bolha” e mantém-se a obrigatoriedade do uso de máscara — esta, de resto, deixa de ser obrigatória na rua a partir desta segunda-feira, mas é recomendada em aglomerados e mantém-se mandatória em espaços fechados.

Já olhando para os bares e as máquinas automáticas os alunos poderão notar diferença — recorde-se que passou a ser proibida a venda de alimentos prejudiciais à saúde, como folhados, batatas fritas ou refrigerantes. Mas não serão apenas as guloseimas em falta: também muitos docentes estarão ausentes, já que este regresso às aulas coincide com a greve de professores e pessoal não docente anunciada pelo Sindicato de Todos os Professores (STOP), a decorrer entre 14 e 17 de setembro.

De resto, a falta de professores poderá não resumir-se a estes quatro dias: os sindicatos vêm a alertar que, apesar do esforço do Governo em fazer as colocações precocemente, não acautelou nem o aumento de professores reformados nem as potenciais baixas médias. Além disso, prevê-se que haverá disrupções causadas pela transferência de competências para os municípios — muitos poderão não ter verbas, alertam algumas vozes, para as matérias que cairão no seu colo.

Todo este cenário desenha-se num ano absolutamente fulcral para a educação nacional. Afinal de contas, trata-se do arranque do Plano 21/23 Escola+, pensado pelo Ministério da Educação para recuperar as aprendizagens atrasadas ou perdidas devido à pandemia até 2023. No entanto, diretores e professores queixam-se de não ter havido este ano um novo reforço das equipas. Ou seja, vão precisar de fazer mais com o mesmo que já tinham. 

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