O incerto futuro de Portugal

António Moura dos Santos
António Moura dos Santos

Recuemos a 28 de junho deste ano. Nesse dia saiu a primeira bateria de resultados preliminares dos Censos 2021, feitos pelo Instituto Nacional de Estatística. Na altura, escrevi que Portugal foi colocado à lupa e os resultados não foram animadores

Recorde-se que, nessa primeira série de dados, foi apontado, entre outros aspetos, o seguinte:

  • Portugal perdeu 2% da sua população em 10 anos, sendo a primeira vez desde os anos 70 que o país viu os seus habitantes decrescer entre censos;
  • A emigração conseguiu bater o recorde absoluto estabelecido em 1966;
  • Mais de 50% da população se concentra em apenas 31 municípios do país.

Inverno demográfico, êxodo e desertificação, foi o que se concluiu dessa primeira levada. Hoje saiu a segunda. O que nos diz? Que a situação é ainda pior.

Afinal, com o mais recente apuramento dos resultados, Portugal perdeu 2,1% da população: tem hoje 10.344.802 habitantes, menos 217.376 que em 2011, devendo-se isso a um saldo natural [a diferença entre nascimentos e mortes] negativo de 250.066 pessoas.

Uma das maiores causas para tal perda é evidente. Portugal está mais envelhecido que nunca. O número de pessoas com 65 anos ou mais de idade aumentou 20,6% desde 2011, com 2.424.122 indivíduos nesta faixa etária, o que representa 23,4% da população portuguesa.

Ao invés, as gerações mais jovens são as que mais minguaram na última década. Há apenas 1.331.396 pessoas abaixo dos 15 anos, significando uma quebra de 12,9% desde 2011. O grupo dominante, contudo, continua a ser o dos 25 e aos 64 anos, com 5.500.951 pessoas, representando 53,2% do total da população. No entanto, também este grupo se reduziu em 5,1%.

Temos, portanto, quase um quarto do país na condição de idoso e cada vez menos jovens, o que significa um “duplo envelhecimento da população" como assinalou o INE. Para que se tenha consciência da progressão que Portugal tem tomado, há hoje 182 idosos por cada 100 jovens, sendo que em 2011 havia 128 jovens por 100 idosos.

Além de tudo isto, nem o fluxo de imigrantes ajudou a combater o envelhecimento, já que os residentes de nacionalidade estrangeira representam agora 5,4% do total da população, aumentando em 40,6% comparativamente a 2011.

Nem tudo, porém, são más notícias. Portugal é hoje mais escolarizado do que há uma década e, atualmente, 38,7% da população tem, pelo menos, o ensino secundário completo — há 10 anos eram apenas 23,6%. Além disso, subiu também o número de pessoas com curso superior, em que passou de 11,8% em 2011 para 17,4% em 2021.

Estes são apenas alguns dos dados hoje revelados: Portugal está mais instruído, mas também mais velho.

Não é preciso ter estado particularmente atento durante o último ano e meio para ver os reflexos que tal condição teve no país. Além da óbvia pressão sobre a Segurança Social, o aumento da população idosa teve o condão de hoje termos mais pessoas vulneráveis do que nunca, especialmente em contexto pandémico.

A este propósito, admitindo que a Covid-19 vá continuar a grassar, surgiram hoje os primeiros sinais políticos de uma potencial quarta dose da vacina. António Costa admitiu hoje que o Governo está a comprar “uma vacina adaptada já à Ómicron, que só estará disponível depois da primavera", em quantidades suficientes caso seja necessária. “Infelizmente, é de prever que virá a acontecer”, adiantou o primeiro-ministro. Também o Secretário de Estado da Saúde disse esta quinta-feira que é preciso "planear o futuro" quanto à quarta dose.

No atual contexto, é admissível que o Governo e restantes partidos estejam mais concentrados em debelar a pandemia do que a pensar como contrariar o lento definhamento demográfico do país. No entanto, temos eleições à porta, período fértil para promessas de mundos e fundos. Não sabemos quem se vai comprometer a olhar para este tema, mas, a bem da nossa saúde e do nosso futuro, é bom que cumpra.

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