Urgências: O que fazer quando a saúde está doente?

Após mais de dois anos de pandemia, a saúde continua doente. Saem as gripes e constipações, entram nas urgências os problemas com o preenchimento dos turnos dos profissionais de saúde. Afinal, o que está em causa?

A falta de médicos em vários hospitais do país tem levado nos últimos dias ao encerramento de urgências de obstetrícia ou a pedidos aos centros de orientação de doentes urgentes (CODU) de reencaminhamento de utentes para outros hospitais.

Na segunda-feira, a ministra da Saúde, Marta Temido, anunciou que vai ser posto em prática “um plano de contingência” entre junho e setembro para procurar resolver a falta de médicos nas urgências hospitalares do país.

O que está fechado?

Para hoje, conhecem-se os casos de Almada, Portalegre e Portimão.

É no Algarve o encerramento mais prolongado, com o serviço de urgência de ginecologia e obstetrícia da Unidade Hospitalar de Portimão encerrado durante quase uma semana, por dificuldade em assegurar escalas: “Devido à dificuldade em assegurar escalas na maternidade e no bloco de partos de Portimão, o Serviço de Urgência de Ginecologia/Obstetrícia da Unidade Hospitalar de Portimão vai encerrar”, entre as 21:00 desta terça-feira e as 09:00 da próxima segunda-feira, 20 de junho, anunciou a administração do centro hospitalar.

Em comunicado, o conselho de administração do CHUA acrescenta que será reorganizada “uma resposta assistencial coordenada entre as suas duas unidades hospitalares, garantindo assim a qualidade e segurança dos serviços prestados a nível regional”.

E garante que a resposta assistencial regional do CHUA nestas especialidades está garantida na Unidade Hospitalar de Faro pela equipa de especialistas de Faro, a qual será reforçada com médicos da Unidade Hospitalar de Portimão. “Todos os restantes serviços e áreas assistenciais encontram-se a funcionar em pleno”, esclarece ainda o CHUA na nota.

Já as urgências de Ginecologia/Obstetrícia do Hospital Garcia de Orta (HGO), em Almada, vão estar encerradas entre as 20:00 de hoje e as 08:00 de quarta-feira, revelou a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT). Na nota, a ARSLVT diz que “as grávidas devem dirigir-se/serão encaminhadas para outras unidades da rede, nomeadamente para o Centro Hospitalar de Setúbal (CHS) e para o Centro Hospitalar Barreiro Montijo (CHBM), assim como para as maternidades da cidade de Lisboa que, no referido período, estarão a funcionar com normalidade”.

Também as urgências de Obstetrícia do hospital de Portalegre vão estar encerradas entre as 05:00 de quarta-feira e as 08h00 de sexta-feira, disse hoje à agência Lusa fonte da Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano (ULSNA). “Não haverá urgência de obstetrícia dado que dispomos apenas de um obstetra no serviço de urgência”, nesse período, indicou o porta-voz da ULSNA, Ilídio Pinto Cardoso.

Apesar do fecho das urgências, o serviço de Obstetrícia “vai estar a funcionar” porque vai estar um obstetra de serviço, acrescentou o mesmo responsável. Ilídio Pinto Cardoso explicou ainda que as grávidas que se dirijam aos hospitais de Portalegre e Elvas, bem como ao Serviço de Urgência Básico (SUB) de Ponte de Sor, deverão ser encaminhadas para o Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE) ou para a unidade hospitalar mais próxima.

E até a sala de partos do Hospital de Santa Maria estava por volta das 17:00 de hoje com as camas totalmente ocupadas, uma situação que fonte do Centro Hospitalar Lisboa Norte considerou ser “circunstancial” e que acontece várias vezes. “Circunstancialmente, a sala de partos está cheia. Temos todas as camas da sala de partos ocupadas”, adiantou a mesma fonte à agência Lusa, ao avançar que o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) foi informado para fazer a gestão em rede das grávidas.

Adiantou ainda não poder ser feito um “nexo causal” entre a ocupação do bloco de partos que se verificou na tarde de hoje no Hospital de Santa Maria e os constrangimentos que se registam noutros hospitais e maternidades por falta de especialistas. Quanto ao serviço de urgência do Hospital de Santa Maria, assegurou que está a funcionar com equipas escaladas e com médicos necessários.

O que disse hoje a oposição?

O ainda presidente do PSD, Rui Rio, responsabilizou o PS pela "grave crise" que atravessa o setor da saúde em Portugal, por não promover cooperação entre os setores público e privado, deixando o SNS degradar-se.

“O Partido Socialista foi abertamente contra uma cooperação entre o público e o privado, apostando mais no público. Aquilo que nós temos neste momento é um serviço público completamente degradado”, frisou o presidente do PSD em declarações à comunicação social, em Maputo, no último dia de uma visita a Moçambique. “Há cada vez menos recursos humanos no serviço público: os médicos tendem a ir para o privado, porque não têm recursos", o que provoca "estes problemas que agora estamos a ver de falta de capacidade de resposta”, sustentou Rui Rio, para quem “o PS está a criar um problema gravíssimo”, uma vez que Portugal atravessa um período marcado por uma “ausência de políticas estruturadas” no setor de saúde.

“Não há efetivamente capacidade de organização e de planeamento(…). Está praticamente tudo mal e sem rumo, com um complexo de ordem ideológica”, frisou, esclarecendo que o PSD não está a defender que se privilegie o setor privado, mas sim a definição de uma estratégia para um serviço público de qualidade em Portugal. “Eu quero um serviço público de qualidade e aquilo que está a acontecer é um serviço público sem qualidade, com as pessoas a serem empurradas para o privado”, concluiu.

Já o Chega quer mesmo que os utentes possam temporariamente recorrer a unidades de saúde privadas quando encontrarem serviços encerrados no Serviço Nacional de Saúde. “Eu acho que estamos numa situação de pré-caos bastante significativa e temos de fazer alguma coisa para evitar que isto aconteça”, afirmou o líder do Chega.

O Chega defende que “temporariamente, enquanto se mantiver este momento de crise nos serviços, se possa recorrer, ou através de um vale médico ou através de um cheque clínico" a hospitais privados, comparticipando o Estado o atendimento das "pessoas que chegam aos serviços e os veem encerrados por questões de constrangimento pessoal, de covid ou outro motivo qualquer”.

André Ventura falava aos jornalistas no final de uma reunião com a administração do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures (distrito de Lisboa), unidade que este fim de semana teve as urgências de Ginecologia e Obstetrícia encerradas. Segundo o líder do partido de extrema-direita, as causas apontadas pela administração prendem-se com constrangimentos provocados pela pandemia de covid-19 e também com a falta de profissionais., mas Ventura discorda: “nós temos de parar com esta ideia de que o covid é a responsabilidade de tudo em Portugal. Já ninguém acredita que o covid é a causa do que está a acontecer”, criticou.

A coordenadora do BE, Catarina Martins, criticou hoje a ausência de soluções concretas do plano de contingência para as urgências hospitalares anunciado pelo governo, considerando urgente a autonomia de contratação dos hospitais e a dedicação exclusiva. Em conferência de imprensa na sede do BE, em Lisboa, Catarina Martins afirmou que é correto o diagnóstico feito pela ministra da Saúde, Marta Temido, após as reuniões que teve segunda-feira com o setor sobre a rutura nos serviços de urgência, sendo o problema o facto de, “além do apelo para que os hospitais organizem redes de urgências”, a ministra não ter avançado “com qualquer solução concreta”.

“Que a situação se arraste há anos, como reconheceu ontem [segunda-feira] a ministra da Saúde, só torna o problema mais grave. Nos últimos anos, o governo do PS recusou todas as soluções e, das poucas vezes em que aceitou avanços legislativos, recusou ou travou a sua concretização no terreno”, criticou.

Para a líder do BE, “é urgente implementar duas medidas que estão respaldadas na lei de bases da saúde, que foram recusadas pelo governo quando o Bloco as fez nas negociações dos últimos orçamentos e que mesmo agora o governo continua a recusar”, considerando que estas são as duas “com o maior alcance imediato para garantir profissionais ao SNS”.

*Com Lusa

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